RIO — Dona de 49,5% do mercado privado de saneamento básico do Brasil, a Aegea Saneamento vem ampliando a compra de energia no ambiente livre, para reduzir custos. O próximo passo em estudo pela companhia será investir na autoprodução de energia, a partir do biogás e energia solar, por exemplo.
A empresa busca, com isso, condições mais competitivas para as operações da Águas do Rio — que assumiu, em 2021, dois blocos de concessão do leilão da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae).
“Hoje todo nosso mercado livre está negociado em contratos bilaterais, em PPAs, mas estamos estruturando grandes projetos de autoprodução que em breve devem sair do forno para atender também essa carga nossa do Rio de Janeiro”, afirma o gerente de Gestão de Energia e Eficiência Energética da Aegea, Emerson Rocha, em entrevista à agência epbr.
Ele conta que uma das alternativas em avaliação é o aproveitamento do lodo, derivado do tratamento de esgoto, para a produção de biogás. Rocha vê oportunidade para aproveitamento do potencial energético do rejeito também na geração distribuída — nas unidades com consumo menor, onde a empresa ainda está vinculada ao mercado cativo.
“Podemos através desse rejeito gerar energia e compensar em unidade de baixa tensão”, explica Rocha. “Hoje, temos fontes mais competitivas como a solar, mas temos estudado fortemente isso (produção de biogás), como viés de possível aproveitamento energético. Temos agora o desafio de operar uma das maiores estações de tratamento da América Latina, a ETE Alegria, no Rio, que tem uma produção colossal de lodo”, completa.
Buscar formas de reduzir os custos com energia elétrica é essencial para empresas de saneamento como a Aegea. Os gastos com eletricidade representam entre 28% e 30% do custo operacional da companhia. É o segundo maior item de despesas da empresa, atrás apenas de gastos com pessoal.
As estações de tratamento da companhia consomem cerca de 90 MW médios pelo país. E a expectativa é que esse patamar ultrapasse os 120 MW médios nos próximos dez anos.
A expansão no mercado livre
Segundo Rocha, a Aegea vem aumentando a presença no ambiente de contratação livre. Hoje, 77 % da energia consumida pela companhia já é negociada no mercado livre. Em 2020, esse percentual era de apenas 40%, e saltou para 68% em 2021.
“O quanto pudermos atuar no mercado livre, iremos”, comenta Rocha.
A empresa acompanha o movimento do mercado. Em 2021, 5.563 unidades consumidoras migraram para o ambiente livre. Um número recorde, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Atualmente, o mercado livre representa 34,5% de toda a energia elétrica consumida no Sistema Interligado Nacional (SIN).
“Realmente, acreditamos muito no mercado livre de energia. É um modelo que está solidificado”, afirma Rocha.
Além de preços mais competitivos, o mercado livre permite ao consumidor escolher de quais fontes quer contratar a sua energia. Elemento importante em tempos de descarbonização.
“A totalidade da nossa energia no mercado livre é de parceiros que têm 100% da sua matriz renovável, majoritariamente eólica”, diz o gerente.
Parcerias em GD
Além do mercado livre, a Aegea recorre também à geração distribuída, para reduzir custos. A modalidade representa, atualmente, 10% da energia consumida pela empresa. Outros 13% do consumo vêm de 19 distribuidoras diferentes, no mercado cativo.
Segundo Rocha, os projetos de GD possuem “rentabilidade extremamente competitiva” e são uma alternativa, nas unidades operacionais de baixa tensão — que, por enquanto, ainda não podem migrar ao mercado livre.
“Temos achado na geração distribuída uma alternativa muito bacana de não só trazer redução de custos, como também o contexto de sustentabilidade”, afirma o gerente.
Cobrimos por aqui:
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Hoje, a companhia tem 18 contratos de projetos de GD em operação ou em implantação nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande de Sul, Espírito Santo, Amazonas, Piauí, Maranhão e São Paulo. As usinas em construção somam cerca de 30 MW pico.
Recentemente, a Aegea e a Brasol — que conta com a participação de 49% da Siemens – inauguraram quatro usinas de energia solar fotovoltaica para atender o consumo energético das operações da Aegea em Cuiabá, Mato Grosso.
A partir do segundo semestre de 2022, as concessionárias Mirante e Águas de Matão, localizadas nas cidades de Piracicaba e Matão, interior de São Paulo, irão operar em parte com energia solar oriunda de uma planta fotovoltaica da Raízen.
Olho na modernização do mercado
A companhia aguarda a aprovação do PL 414/2021, que trata da modernização do setor elétrico e pode estender o acesso ao mercado livre a consumidores de baixa tensão. Rocha destaca que o PL “aponta para o lado certo da liberalização, modernização, descentralização” e que espera que a proposta seja aprovada logo.
Ele explica, no entanto, que, mesmo que o PL seja aprovado e as unidades de baixa tensão da companhia possam migrar para o mercado livre, a Aegea respeitará os contratos em vigor dos projetos de geração distribuída.
Segundo ele, ainda será necessário observar como o mercado irá se comportar para escolher o modelo mais competitivo de contratação de energia.
“Uma grande dúvida que o mercado tem é o que vai acontecer com o patamar de preço da energia para essas unidades de menor porte, não se sabe muito bem como vai se dar a regulação, principalmente com a figura do [comercializador] varejista”, avalia.
Para aprofundar
- Mercado livre é responsável por 83% dos projetos de energia em construção no Brasil
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Redução de consumo de energia é meta
Com projetos ambiciosos de expansão das atividades, a Aegea tem como meta reduzir em 15% o consumo específico de energia, medido em kWh/m³, até 2030.
No mês passado, por meio de sua subsidiária Aegea Finance, a empresa concluiu a captação de U$S 500 milhões em títulos sustentáveis — os chamados sustainability-linked bonds (SLB) — vinculados ao alcance de metas de sustentabilidade.
Para atingir a meta de redução do consumo específico de energia, a empresa possui um programa de eficiência energética e de redução de perdas de água.
“O controle das perdas de água está intimamente ligado ao consumo de energia, e temos tido resultados muito satisfatórios de redução de perdas nas nossas operações”, conta.
Em 2021, a redução no índice de perdas representou cerca de 39 bilhões de litros de água poupados — o suficiente para abastecer 970 mil pessoas por um ano, segundo a empresa.
O desafio se torna maior, se considerado que a empresa está em franca expansão de seus negócios. Um exemplo desse movimento foi a aquisição de dois blocos de concessão do leilão da Cedae. Os dois ativos adquiridos somam um mercado de 10 milhões de pessoas em 27 municípios do estado do Rio. Ao longo do período de concessão, a companhia espera investir R$ 24,4 bilhões para a universalização dos serviços de água e esgoto.
Estratégia para o Rio
A gestão energética das unidades do Rio seguirá estratégia semelhante àquela que a companhia já vem seguindo no resto do país.
“Em seis meses de operação concluímos a migração de praticamente todas as nossas unidades de média tensão para o mercado livre. Além disso, já temos contratos de geração distribuída assinados para o Rio de Janeiro também e estamos construindo 21 usinas. São 21 MW pico de geração distribuída, só para o Rio, um projeto bem grande”, detalha.
O gerente ressalta que a expansão do sistema de esgotamento do Rio de Janeiro demandará a otimização energética e novas alternativas de oferta de energia.
“Temos um desafio de expandir nosso sistema de esgoto, que é onde está nosso grande salto energético”, disse.
Segundo Rocha, o aprimoramento no planejamento energético traz mais robustez para que Aegea possa competir em novos leilões de concessão pelo país.
“É fundamental que se tenha um modelo operacional eficiente, modelos de contratações sustentáveis do ponto energético, para que quando chegue o momento do leilão, consigamos auferir o melhor resultado possível e, através desse modelo, de eficiência, conseguimos também ampliar a tarifa social mantendo, obviamente, a sustentabilidade do negócio”.
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