Opinião

A urgência da rede: como a modernização do sistema elétrico moldará o futuro net-zero da indústria

Investir antecipadamente em redes é mais econômico no médio e longo prazo do que subinvestir, escreve Anthony Allard

Anthony Allard é Head da América do Norte e Head Global de Marketing e Vendas da Hitachi Energy (Foto Divulgação)
Anthony Allard é Head da América do Norte e Head Global de Marketing e Vendas da Hitachi Energy (Foto Divulgação)

A urgência da transição energética nunca foi tão clara. Em 2024, o ano mais quente já registrado, há sinais de que ultrapassamos o limite de 1,5°C do Acordo de Paris, um alvo crítico em relação aos níveis de emissões pré-industriais, com consequências severas para ecossistemas, clima e saúde humana.

As emissões globais de CO₂ alcançaram 37,8 Gt, com o setor de energia respondendo por 42% e a indústria por 24%, principalmente devido à produção de aço, cimento e produtos químicos.

Cumprir as metas climáticas exige a descarbonização industrial, e o Brasil, com sua matriz renovável e ambiciosa política industrial, tem uma oportunidade única de liderança.

A indústria consome 37% da energia global, mas apenas uma parte desse consumo é elétrica. Ela também é responsável por 24% das emissões totais de CO₂.

A descarbonização industrial exigirá uma abordagem de eficiência energética em primeiro lugar, seguida de outras estratégias, incluindo a eletrificação.

A combinação de equipamentos mais eficientes e recuperação de calor reduzirá custos e emissões, enquanto a substituição do aquecimento fóssil por tecnologias elétricas, como bombas de calor e caldeiras elétricas, ampliará esses benefícios, especialmente à medida que as redes se tornam mais limpas.

Embora já comercialmente viáveis para aplicações de baixa e média temperatura, as tecnologias elétricas avançam de forma mais lenta para processos de alta temperatura.

As barreiras incluem longos ciclos de substituição de equipamentos, estruturas tarifárias de eletricidade em muitas regiões que favorecem combustíveis fósseis — minando o caso econômico da migração para energia limpa — e redes desatualizadas.

A eletrificação industrial requer redes robustas, flexíveis e preparadas para o futuro, especialmente diante do crescimento projetado da demanda de 3,3% em 2025 e 3,7% em 2026, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).

A aceleração depende de várias áreas críticas: modernização da rede, planejamento integrado de longo prazo, uso otimizado da infraestrutura existente, tecnologias avançadas (soluções de qualidade de energia, como sistemas flexíveis de transmissão em corrente alternada — Facts), e coordenação entre operadores de sistemas nos níveis de transmissão e distribuição, além das indústrias.

O alinhamento adequado permite que a indústria forneça serviços de flexibilidade, como resposta à demanda e regulação de tensão e frequência, fortalecendo a eletrificação e a estabilidade da rede.

Investir antecipadamente em redes é mais econômico no médio e longo prazo do que subinvestir.

Com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, o Brasil já se destaca na transição global rumo a uma economia de baixo carbono.

Mesmo assim, o país continua avançando políticas públicas e iniciativas que fortalecem a conexão entre indústria e sustentabilidade, impulsionando a modernização produtiva, a inovação tecnológica e a descarbonização em larga escala.

O Programa Nova Indústria Brasil (NIB), lançado em 2024, busca reverter a desindustrialização e promover o desenvolvimento sustentável até 2033.

Focado na transição energética e na inovação, o NIB prevê R$ 300 bilhões em investimentos até 2026, envolvendo instituições como o BNDES e a Finep, e inclui missões estratégicas em bioeconomia, descarbonização e segurança energética.

Esse movimento deixa claro que, no Brasil, segurança energética e iniciativas de net zero caminham juntas.

Para aproveitar esse momento favorável, o Brasil deve avançar em políticas alinhadas às metas climáticas.

Projetos-piloto em larga escala, a padronização e o design modular de tecnologias de eletrificação e o investimento em mão de obra qualificada são essenciais para acelerar o progresso.

A eletrificação industrial vai além de uma necessidade ambiental: ela moderniza a produção, aumenta a competitividade e acelera a economia net-zero.

Na Hitachi Energy, nosso compromisso é sólido. Desde 2021, investimos US$ 9 bilhões globalmente em capacidade produtiva, P&D e engenharia para apoiar a eletrificação.

Com políticas públicas adequadas e a modernização da rede, governos e setor privado podem desbloquear um futuro mais limpo e resiliente. Com o NIB e seu potencial renovável, o Brasil está excepcionalmente posicionado para liderar.


Anthony Allard é Head da América do Norte, Head Global de Marketing e Vendas e membro do Comitê Executivo da Hitachi Energy.

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