A decisão da Engie Brasil Energia (EBE) de se desfazer de 15% da Transportadora Associada de Gás (TAG) está relacionada à estratégia de focar na implantação dos projetos de geração de energia renovável em curso e à busca por novos ativos de transmissão nos próximos leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A companhia anunciou a venda de parte da parcela que detinha na transportadora para o Caisse de Dépôt et Placement du Québec (CDPQ) por R$ 3 bilhões. Com isso, o CDPQ passa a ter 50% da TAG, enquanto a EBE fica com 17,5% e a Engie S.A., controladora da EBE, terá 32,5%.
O CEO da EBE, Eduardo Sattamini, afirmou em teleconferência com analistas na manhã desta sexta-feira (29/12), que a aquisição de novos projetos de transmissão será um dos focos da empresa este ano.
“Essa transação vai trazer caixa para a companhia e possibilitar investimentos em novos projetos”, disse.
A EBE tem um portfólio grande de projetos em implantação, que inclui os complexos eólicos Campo Largo 2 (BA), Serra do Assuruá (BA) e Santo Agostinho (RN), além do complexo fotovoltaico Assú Sol (RN) e do projeto de transmissão Asa Branca (BA/MG/ES).
Sattamini lembrou, ainda, que a companhia comprou em novembro o complexo solar Cruzeiro, da Atlas, por R$ 3,2 bilhões, o que também vai requerer capital da empresa. Com isso, a venda da participação na TAG ajuda a evitar uma pressão sobre a dívida, afirmou.
“A gente não via refletir na avaliação da EBE o valor da TAG. Dessa forma, a participação de 17,5% que será mantida tem uma relação de valor importante”, disse.
O controle da TAG foi vendido pela Petrobras em 2019, quando a Engie e o CDPQ compararam 90% da transportadora por US$ 8,6 bilhões. Em 2020, a estatal vendeu os 10% restantes por R$ 1 bilhão, em valores da época.
Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores, Eduardo Takamori, as mudanças no mercado de gás desde então ajudaram a capturar o valor do investimento.
“Ao longo desse período de investimento na TAG, houve uma série de evoluções de valores, como a evolução na regulação e uma evolução administrativa. Ocorreu a abertura do mercado. Entendemos que estava no momento adequado, e coincidiu com o interesse do nosso sócio no projeto”, afirmou.
Os executivos não descartaram a possibilidade de que a EBE se desfaça do restante da participação na TAG, mas afirmaram que não há previsão para que isso ocorra e que “não está no radar”. Do mesmo modo, também não desconsideraram novos investimentos no segmento de gás natural.
“Para o grupo Engie, o gás é parte do negócio estratégico no mundo, sendo o combustível da transição energética. Para a EBE, houve a oportunidade de fazer esse investimento, mas o core [foco] é na geração e transmissão de energia”, afirmou Sattamini.