Empresas

Scatec avalia 2 GW em projetos renováveis no Brasil

Em diferentes estágios de amadurecimento, empreendimentos de geração solar e eólica devem combinar PPAs e contratos de curto prazo no mercado livre

Scatec avalia 2 GW em projetos renováveis no Brasil. Na imagem: Complexo solar Mendubim, da Equinor, no Rio Grande do Norte (Foto: Divulgação Scatec)
Complexo solar Mendubim, da Equinor, no Rio Grande do Norte (Foto: Divulgação Scatec)

SÃO PAULO — A norueguesa Scatec inaugura, na próxima semana (9/4), seu segundo parque fotovoltaico no Brasil e já estuda novos projetos que podem acrescentar 2 gigawatts ao seu portfólio no país nos próximos três anos.

Os negócios estão em diferentes estágios de avaliação e amadurecimento – podendo se concretizar ou não – e englobam tanto geração solar, como eólica, disseram executivos da companhia durante um evento no final de março para detalhar o projeto Mendubim que será inaugurado dia 9.

O complexo, que já entrou em operação no Rio Grande do Norte, com 531 MW de capacidade instalada, é a sexta maior usina solar do Brasil e a segunda maior da Scatec globalmente.

Resultado de uma sociedade entre empresas norueguesas: Scatec, Equinor e Hydro Rein (30% de participação cada), Mendubim produzirá anualmente 1,2 TWh de eletricidade, dos quais 60% já estão vendidos, em um acordo de compra de energia (PPA) com duração de 20 anos, para a Alunorte, da Norsk Hydro, no Pará. O restante será vendido no mercado livre.

A Alunorte também exerceu sua opção de compra e agora detém os 10% restantes na sociedade.

Deborah Canongia, vice-presidente de novos negócios da Scatec na América Latina, explica que esse modelo de negócio que combina PPA e venda de curto prazo no mercado de energia tende a ser replicado nos próximos projetos.

“A Scatec vê com bons olhos os PPAs de longo prazo pela robustez e não volatilidade da estrutura. Então a preferência é por garantir fatias relevantes de contratações de longo prazo. A parte de curto prazo é pensada para garantir potencial volatilidade de geração e sazonalidade, para gerir o ativo”.

Ela afirma que ter uma margem permite a empresa a navegar os ciclos de preços no mercado de energia.

“Nós estamos hoje nesse momento de preço baixo de energia. Mas os preços são voláteis e passam por ciclos. Então, faz sentido por uma questão de risco/retorno ter uma parcela para navegar nesses ciclos que o mercado traz (…) e extrair um pouco mais de valor do ativo ao longo do seu prazo de investimento”.

A VP observa ainda que o ciclo do preço está mais desafiador há cerca de um ano e meio, mas este cenário parece estar mudando, inclusive por conta do cenário de mudanças climáticas e acordos internacionais para substituir fontes fósseis por renováveis. 

“O mercado voltou a se mover. [Estamos vendo] mais apetite dos consumidores e estamos com uma visão mais positiva para o final de 2024 e para os próximos anos”.

Financiamento em dólar

Mendubim foi o primeiro projeto de autoprodução no Brasil a receber financiamento em dólares americanos, além de ser o financiamento em dólar mais longo já realizado para projetos de energias renováveis no Brasil.

Para financiar o início do projeto, em novembro de 2022, foi contratado um empréstimo de US$ 243 milhões junto ao BID Invest (um dos braços do Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID), ao Banco Santander e ao BNP Paribas. O restante do investimento (US$ 187 milhões) foi desembolsado pelos sócios do empreendimento.

A iniciativa se antecipou à lei do mercado de câmbio, legislação que passou a permitir os PPAs em moedas estrangeiras em janeiro de 2023.

Aleksander Skaare, recém-empossado Country manager da Scatec no Brasil, avalia que PPAs em dólar deverão ser cada vez mais promissores para empresas que tenham grande parte de seus custos e faturamento lastreados na moeda estrangeira, ou que sejam grandes exportadores.

“Como energia é um grande componente do custo operacional de muitas indústrias, e como a taxa de juros nos Estados Unidos é geralmente muito mais baixa que a do Brasil, esta é uma opção que tende a crescer no país”.

Foco em emergentes

Embora seja norueguesa, o foco da Scatec está nos mercados emergentes. A companhia não tem projetos na Noruega, por exemplo, mas está presente em mais de 20 países, em quatro continentes.

Segundo Aleksander, é em países como Brasil, Índia, África do Sul e Egito que a empresa consegue ser mais competitiva, mesmo com os desafios particulares de cada região.

O Brasil é o segundo maior mercado para a Scatec, atrás apenas da África do Sul, que tem quedas frequentes de eletricidade e alta demanda por projetos de geração.

Por aqui, além de Mendubim, ela também opera a usina solar Apodi (162 MW), em sociedade com a Equinor, que funciona desde 2018 no Ceará.

*A jornalista viajou a convite e com despesas pagas pela Scatec