RIO — O retorno da Petrobras à produção de fertilizantes pode ajudar a reduzir as fraudes no mercado de Arla 32, caso a companhia seja capaz de assegurar disponibilidade do produto no mercado nacional a preços competitivos, segundo a especialista em fertilizantes da consultoria Argus, Gisele Augusto.
O Arla 32 é um produto para controle de emissões de veículos pesados, produzido a partir da ureia automotiva.
O aditivo é obrigatório em motores a diesel enquadrados na regra do Proconve que entrou em vigor em 2012. As exigências passaram a ser mais rígidas em 2023.
“[A Petrobras] pode vir a coibir as fraudes se conseguir aumentar a disponibilidade de produto no mercado interno a ponto de que os preços fiquem pressionados. Se o preço for competitivo, entre o produto de qualidade correta e o de qualidade incorreta mas com pouca diferença, talvez alguns migrem para o produto de qualidade certa”, diz a especialista.
A estatal retomou a produção de Arla 32 em junho de 2025, com os primeiros testes para a retomada parcial da fábrica de fertilizantes da Araucária Nitrogenados (Ansa), no Paraná.
A planta tem capacidade para fabricar até 450 mil m³ por ano de Arla 32.
A expectativa é que em 2026 a companhia passe a ofertar volumes maiores ao mercado, com a retomada também da produção das fábricas de fertilizantes da Bahia (Fafen-BA) e de Sergipe (Fafen-SE).
A Petrobras iniciou o comissionamento da Fafen-BA este mês e a expectativa é retomar em janeiro de 2026 as operações do ativo — parado desde o fim de 2022, quando estava arrendado à Unigel.
Na época da interrupção das atividades, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) chegou a levar ao Confert sinais de preocupação com a oferta de ureia automotiva no mercado nacional.
Ao todo, a Fafen-BA tem capacidade de produção total de 1.300 toneladas por dia de ureia, enquanto a Sergipe produz até 1.800 de toneladas por dia.
Garantia de suprimento contra dificuldades de importação
No segundo semestre de 2025, inclusive, o Brasil enfrentou dificuldades para importar o produto, devido à baixa disponibilidade no mercado internacional, com a imposição de cotas de exportação pela China.
Hoje, os principais fornecedores de ureia automotiva para o Brasil são a China e a Rússia.
“A Petrobras pode ser uma válvula para o Brasil ter produto suficiente, sem passar apuros com os preços indo às alturas por não ter produto para importação”, afirma a especialista da Argus.
Demanda reprimida pelas fraudes
São altos os índices de fraudes nesse mercado, fiscalizado pelo Inmetro.
Atualmente, o mercado ilegal responde por cerca de 30% a 35% de todo o setor de Arla 32 no Brasil, estima a Argus.
Há uma redução de cerca de 400 mil litros por ano na demanda devido às fraudes.
A Argus calcula que a demanda total por Arla 32 no Brasil deveria chegar a 1,5 bilhão de litros por ano, considerando a frota total de caminhões a diesel e as vendas de novos veículos pesados.
No entanto, com as práticas ilegais, o consumo tem ficado em 1,1 bilhão de litros por ano.
Entre as ilegalidades mais comuns estão o uso de dispositivos digitais que burlam os sistemas de medição dos veículos.
Segundo a especialista, a estratégia causa um duplo malefício, pois, além de não contribuir para a redução das emissões, também ajuda a mascarar possíveis problemas que fazem os caminhões queimar mais diesel.
Outra fraude comum é o uso de ureia agrícola para fabricar o Arla 32, devido às vantagens fiscais do produto que é usado para a produção de alimentos.
“Quando há uma disponibilidade maior de ureia automotiva num preço mais competitivo, há um maior uso da ureia correta, mas se a diferença de preços é muito grande, como já chegou a bater US$ 170, aí o pessoal usa a ureia agrícola mesmo, para ganhar no preço, revender e fazer margem”, explica.
