No dia nacional de celebração da Consciência Negra, dados mostram que a presença de trabalhadores negros no Sistema Petrobras segue distante da composição do mercado de trabalho brasileiro.
De acordo com a Pnad Contínua (do IBGE) do segundo tri de 2025, pessoas negras representam 32,8% dos quadros na estatal, proporção inferior à participação do grupo tanto na população brasileira (56,4%) quanto entre as pessoas ocupadas nos postos de trabalho (55,4%).
Segundo estudo do Dieese em parceria com a Federação Única dos Petroleiro (FUP), essa sub-representação é ainda maior nos cargos de gerência: em 2010, negros ocupavam 25,3% dessas funções; em 2018, o índice caiu para 17,7%; em 2022 era 21,9%; e, apesar de avanço para 23,8% em 2024, o patamar segue inferior ao registrado em 2010.
O levantamento, produzido a partir do Balanço Social não auditado do Sistema Petrobras — que inclui Petrobras Holding, Transpetro, PBio, TermoBahia e TBG — mostra que o número de trabalhadores negros cresceu de 2010 a 2015, alcançando 20.098 pessoas (22,2% do total).
Depois, caiu até 2022, quando o efetivo negro recuou fortemente a 13.937. Segundo o economista do Dieese, Cloviomar Cararine, a reversão só ocorre a partir de 2023, chegando a 16.155 em 2024, alta de 15,9% na comparação com 2022.
Cararine avalia que persistem desigualdades estruturais no acesso à empresa: “A entrada de trabalhadores próprios na Petrobras acontece via concurso público. Como os negros têm menor acesso à formação escolar, acabam chegando em situação desfavorável na “peneira” dos concursos. Mesmo assim, a reduzida entrada de trabalhadores negros, via concurso público na Petrobras, não explica a presença relativa ainda menor de negros nos cargos de gerência”.
Os números expõem um certo padrão: nos períodos governados pelo Partido dos Trabalhadores (entre 2003 e 2016, e a partir de 2023) — a presença de trabalhadores negros no Sistema Petrobras avança de forma consistente, enquanto as gestões Temer e Bolsonaro produziram o movimento inverso.
Segundo o estudo, a trajetória — que sobe de 2010 a 2015, despenca justamente entre 2016 e 2022 e só volta a se recuperar quando Lula retorna ao Planalto — sugere que a política de inclusão racial dentro da estatal não é fruto do acaso, mas acompanha claramente o projeto político de cada governo.
Perfil de demissões e acesso à universidade reequilibra quadros
O estudo indica que programas de desligamento voluntário (PIDV) reduziram o quadro desde 2014, mas a saída proporcionalmente menor de trabalhadores negros — em parte pelo menor tempo de empresa — elevou sua participação relativa.
Também aponta que políticas de ação afirmativa (cotas, entre outras) ampliaram o acesso de negros ao ensino superior desde 2003, embora ainda representem parcela minoritária.
Com mais contratações entre 2003 e 2014, muitos desses profissionais não estejam “habilitados” nos critérios dos PIDVs, geralmente destinados a empregados mais antigos, acima de 55 anos e com mais de duas décadas de serviço.
O combate ao racismo na Petrobras inclui cotas raciais em concursos desde 2018, reservando 20% das vagas para candidatos negros, em funções com três ou mais vagas.
Para trabalhadores como o operador Sidnei Nascimento, essas medidas representam avanços geracionais: “Acredito que o meu filho não terá que passar pelos mesmos desafios que passamos, principalmente as situações de discriminação e racismo que todos os negros passam”.
Metas, no entanto, ainda são tímidas
Apesar dos avanços na representação negra, ainda há desigualdade na carreira dentro da petroleira. Somente em julho de 2023, a engenheira Márcia Cristina Andrade se tornou a primeira mulher negra a assumir a gerência de uma refinaria, seguida em agosto pelo engenheiro Edmilson Ferreira dos Santos na Refinaria Gabriel Passos.
Segundo Sidnei Nascimento, essas nomeações geraram “surpresa e expectativa”, mostrando que a representatividade influencia a percepção de oportunidades.
Para ampliar a diversidade, a Petrobras lançou em 2023 o Programa de Equidade Racial, com meta de 25% de negros em cargos de liderança até 2030. O professor Luis Fernando Silva Andrade, da UFMG, avalia que a iniciativa é positiva, mas considera a meta pouco ambiciosa.
O programa também recomenda práticas de diversidade para fornecedores e busca reduzir desigualdades econômicas e raciais entre contratados, lembrando que muitos trabalhadores pretos e pardos ocupam funções com salários menores e piores condições de trabalho.
