Diálogos da Transição

Maioria do O&G está despreparada para transição no Brasil; mercado de carbono pode ajudar

Apenas 47,37% dos executivos do setor afirmam que sua empresa está pronta para mudança na matriz energética

O&G precisa se preparar para a transição energética no Brasil; e mira mercado regulado de carbono. Na imagem: Trabalhador uniformizado em operação em plataforma da Petrobras para produção de petróleo offshore (Foto: Agência Petrobras)
Produção de petróleo em plataforma da Petrobras (Foto: Agência Petrobras)

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Editada por Nayara Machado
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Levantamento da KPMG no Brasil (.pdf) com executivos de petróleo e gás concluiu que, para 47,37% dos entrevistados, a empresa que eles lideram está preparada para uma mudança na matriz energética.

Para menos da metade dos entrevistados, as companhias são capazes de repor o portfólio de ativos facilmente, bastando, para isso, recorrer a fontes alternativas de energia.

Esse percentual é maior do que o apurado em 2021, quando 41,94% concordaram com essa afirmação. Também houve redução no número de participantes que discordam da premissa, para 36,85% ante 41,93% da pesquisa anterior.

precificação do carbono deve ajudar nessa transição.

Em entrevista à agência epbr, a advogada da área de petróleo e gás do escritório Trench Rossi Watanabe, Danielle Valois, avalia que a criação de um mercado regulado de carbono no Brasil deve incentivar a produção em larga escala de combustíveis mais sustentáveis, uma das estratégias para compensar os impactos do uso de fósseis.

“É importante ter uma visão de complementaridade porque o combustível fóssil não vai desaparecer tão rapidamente”, comenta.

O governo federal trabalha em uma proposta de sistema de comércio de emissões (ETS) para ajudar o país a cumprir suas metas climáticas.

O texto pode vir como um projeto de lei ou substitutivo ao PL 412/2022, em discussão no Senado, mas a expectativa do governo Lula (PT) é aprová-lo no Congresso Nacional antes da Conferência Climática da ONU, COP28, marcada para 30 de novembro nos Emirados Árabes Unidos.

O sistema de comércio de emissões faz parte do pacote desenhado pelo Ministério da Fazenda para financiar a transição ecológica no Brasil.

Na percepção da advogada Danielle Valois, o governo deveria estar agindo mais rápido para apresentar uma proposta de regulação que garanta competitividade entre os mercados consumidores e segurança para os investidores no país.

“Precisamos alinhar a regulação brasileira com os países que consomem os nossos produtos e o governo deveria estar agindo mais rápido para isso. Vemos os países mais agressivos subsidiando e incentivando, um panorama que vai garantir a segurança dos investidores. Os Estados Unidos saíram na frente com a criação do IRA”, exemplifica. Leia na matéria de Millena Brasil

Há uma pressão de diferentes elos da economia pela aprovação das medidas de incentivo.

Na semana passada, o CEBDS, que representa os maiores grupos empresariais do país (com faturamento somado equivalente a 47% do PIB), entregou ao ministro Fernando Haddad um documento (.pdf) defendendo a criação do ETS no modelo cap-and-trade.

Segundo o conselho empresarial, o mecanismo deve acelerar a transição para uma economia de baixo carbono e incentivar a redução de emissões de gases de efeito estufa através da inovação tecnológica.

“Essa ação contribui para o cumprimento dos compromissos climáticos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris e fortalece a inserção internacional do país”, diz o documento.

Cobrimos por aqui:

Biorrefino na Petrobras

Por falar em baixo carbono, a discussão sobre o novo plano de negócios da Petrobras para o período de 2024 a 2028 passa pela ampliação de produtos mais sustentáveis na matriz da companhia e investimentos em infraestrutura dedicada para apoiar o aumento da movimentação dos novos produtos.

“Estamos trabalhando no momento no processo de certificação nosso QAV [querosene de aviação] verde, por exemplo, e vamos precisar de dutos qualificados”, conta o gerente executivo de Logística da petroleira, Daniel Sales.

Ele explica que a demanda por nova infraestrutura tem a preocupação de evitar pontos de contaminação entre fósseis e produtos com conteúdo renovável na infraestrutura logística.

No plano estratégico 2023-2027, em revisão, o Programa de BioRefino da Petrobras prevê investimentos da ordem de US$ 600 milhões para uma nova geração de combustíveis.

O diesel com conteúdo renovável (produzido por meio do coprocessamento de diesel mineral com óleo vegetal) é o primeiro produto lançado pela companhia.

O plano é instalar projetos de coprocessamento nas refinarias Presidente Bernardes (RPBC), Paulínia (Replan) e Duque de Caxias (Reduc), além de uma planta dedicada a bioquerosene e diesel com matéria-prima 100% renovável na RPBC. Leia na cobertura de Gabriela Ruddy

Curtas

Brasil-Arábia Saudita

Em reunião bilateral na segunda (31/7) com o ministro de Investimento da Arábia Saudita, Khalid Al Falih, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, indicou etanol e hidrogênio verde entre setores potenciais para investimentos sauditas.

Khalid Al Falih também listou seus segmentos de interesse, desde economia verde até transporte e logística. Grande produtora de petróleo, a Arábia Saudita desenvolve o Visão 2030 para identificar parceiros para investimentos em transição energética. MDIC

Acordo Mercosul-UE

O bloco comercial sul-americano vai preparar esta semana sua contraproposta ao adendo da União Europeia, para ser apresentada na reunião de negociação neste mês de agosto, na esperança de fechar o acordo até o final do ano, disseram dois diplomatas brasileiros à Reuters.

Cooperação sustentável

O governo brasileiro e as Nações Unidas assinaram, nesta terça-feira (1/8), em Brasília, o novo Marco de Cooperação Brasil-ONU 2023-2027. O documento é o principal instrumento de planejamento, implementação, monitoramento e avaliação das atividades de apoio da ONU ao Brasil para o cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Agência Brasil

‘Chegamos a lugar nenhum’

Os ministros do clima do G20 não conseguiram avançar em compromissos para cortar emissões e ampliar metas para renováveis, atraindo fortes críticas da União Europeia, para quem as discussões levaram a ‘lugar nenhum’.

As conversas na cidade de Chennai, no sul da Índia, ocorreram na última sexta (28/7), enquanto os cientistas avisavam que julho estava a caminho de se tornar o mês mais quente do mundo já registrado. Político

No final de semana anterior, os ministros de energia também falharam em costurar consensos.

Vale lembrar: amanhã é o dia da sobrecarga da Terra, o que significa que teremos consumido todos os recursos que o planeta nos oferece para um ano. Há 23 anos, os recursos duravam até outubro.

Água para hidrogênio

Os 1,5 mil habitantes da pequena cidade de Tambores, no norte do Uruguai, aguardam notícias sobre um projeto que planeja produzir hidrogênio e metanol verde na região, o que poderia triplicar o consumo de água da cidade.

A geração de hidrogênio verde no Uruguai está se expandindo rapidamente. O governo projeta que, até 2040, cerca de 2% do PIB do país dependa do setor e, no ano passado, lançou um plano oficial para o combustível. Diálogo Chino

Trocando diesel por gás

O município de Ponta Grossa, no Paraná, começou a testar nesta terça (1/8) a viabilidade de integrar ônibus movidos a gás natural no transporte público. Inciativa faz parte de um programa de mobilidade urbana da Compagas com a Scania para incentivar a substituição de ônibus a diesel em cidades paranaenses.

  • Opinião | Biometano, o lixo e o futuro Biogás é a menina dos olhos na transição para um novo modelo de produção e consumo de energia, escreve Jorge Elias