BRASÍLIA – A dinamarquesa Maersk fará a adaptação de um navio para torná-lo uma embarcação a motor bicombustível, isto é, além do combustível convencional, poderá usar metanol, inclusive o de origem renovável. É a primeira companhia na indústria naval a fazer essa conversão.
O primeiro retrofit de motores está programado para ocorrer em meados de 2024. A operação deve ser replicada em embarcações semelhantes, quando for realizada a inspeção programada, em 2027.
A navegação está entre os setores mais difíceis de descarbonizar, por ser intensivo em energia e emissões e não poder contar com a eletrificação, como outros segmentos do transporte.
Responsável por 90% de todo o comércio global, o transporte marítimo responde por cerca de 3% das emissões de gases de efeito estufa (GEE). O compromisso da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) é para cortar esse volume pela metade até 2050.
A Maersk tem uma meta mais ambiciosa. Espera alcançar emissões líquidas zero até 2040 em todas as atividades e, para isso, está investido em novos combustíveis ao redor do mundo.
“Adaptar motores para funcionar com metanol é uma parte importante de nossa estratégia. Com esta iniciativa, queremos abrir caminho para futuros programas de modernização escaláveis na indústria e, assim, acelerar a transição de combustíveis fósseis para combustíveis verdes”, explica Leonardo Sonzio, chefe de tecnologia e gerenciamento de frota da Maersk.
Além disso, Sonzio afirma que os retrofits de motores a metanol podem ser uma alternativa viável à construção de novos navios. A conversão do motor será feita pela MAN Energy Solutions.
“Em 2021, encomendamos o primeiro navio porta-contêineres pronto para metanol do mundo, seguindo o compromisso com o princípio de encomendar apenas navios novos que possam navegar com combustíveis verdes. Ao mesmo tempo, exploramos o potencial de adaptar as embarcações existentes com motores bicombustíveis a metanol”, conta o executivo.
As metas da companhia incluem ainda redução de 50% nas emissões por contêiner transportado na frota da Maersk Ocean em 2030 comparado a 2020, e chegar a 25% do volume de contêineres transportado com combustíveis verdes até 2030.
O futuro multicombustível do transporte marítimo
Entre os setores mais difíceis de descarbonizar, a indústria marítima tem pela frente um futuro multicombustível e já reconhece a necessidade de preparar suas frotas para operar simultaneamente com óleo combustível/biodiesel, metano, metanol e amônia — uma mudança radical na diversidade do abastecimento.
A conclusão faz parte de uma pesquisa do Global Maritime Forum, o Global Center for Maritime Decarbonisation e o Maersk Mc-Kinney Møller Center for Zero Carbon Shipping e McKinsey & Company com as principais empresas de navegação. As companhias entrevistadas representam 20% do mercado.
Enquanto um terço dos respondentes diz que “não sabe” com quais tipos de combustível esperam que suas frotas operem em 2030 e 2050, os outros dois terços têm expectativas variadas.
Para a maioria, amônia verde, biodiesel e óleo combustível lideram o caminho, seguidos por amônia azul, gás natural liquefeito (GNL), e-metanol, biometanol, biometano e e-metano.
Os entrevistados também indicam que esperam distribuir seu próprio consumo em várias “famílias” de combustível.
Até 2050, 49% dos entrevistados (ponderados pelo tamanho da frota) esperam adotar quatro ou mais famílias de combustível, enquanto outros 43% esperam adotar três.