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ExxonMobil e Pioneer: entenda o que a fusão significa para o mercado de petróleo

Maior operação da petroleira neste século, estimada em US$ 60 bilhões, consolida um novo cenário do setor de óleo e gás dos EUA

Cinco previsões para o petróleo e gás natural em 2024, segundo a consultoria Wood Mackenzie. Na imagem: Sonda da Pioneer Natural Resources perfura poço de gás não-convencional, o shale gas, na Bacia do Permiano, nos Estados Unidos (Foto: Divulgação)
Sonda da Pioneer perfura poço de gás não-convencional, o shale gas, na Bacia do Permiano, nos EUA (Foto: Divulgação)

A fusão da ExxonMobil com a petroleira independente americana Pioneer Natural Resources anunciada nesta quarta-feira (11/10) deve mudar o cenário da indústria de petróleo nos Estados Unidos e impactar outros mercados.

O negócio, estimado em US$ 60 bilhões (R$ 300 bilhões) mostra o interesse das grandes empresas do setor na produção não-convencional americana – o shale gas ou gás de xisto – e pode gerar a uma nova onda de fusões e aquisições na região, dizem analistas. 

Caso a fusão seja concluída, será a maior aquisição da ExxonMobil neste século– desde a fusão com a Mobil em 1998 – e a petroleira passará a ser a maior produtora do shale americano, com 15% da extração total da região. Hoje, a companhia tem 9% de participação nesse mercado. 

A Rystad Energy classificou a transação como “um negócio monumental que pode remodelar o cenário da bacia do Permiano”. Para a consultoria, a eventual aquisição vai mudar o perfil da produção no shale americano, que passará a ser um negócio consolidado e maduro. Este ano, a Chevron fez um movimento similar com a aquisição da PDC Energy, por US$ 6,3 bilhões.

Especialistas apontam que os movimentos reforçam as apostas de algumas das maiores petroleiras do mundo na retomada da expansão do portfólio de petróleo e gás. O cenário indica a expectativa de continuidade da demanda por combustíveis fósseis, mesmo em meio à transição energética

Entenda a seguir o impacto dessa aquisição para o mercado de petróleo.

O que é a Bacia do Permiano?

É a bacia sedimentar que se estende entre os estados americanos do Texas e Novo México e que concentra parte da produção não-convencional de petróleo e gás dos EUA. Foi essa região que catapultou o país ao ranking de maior produtor de petróleo do mundo ao longo da década passada.

Em 2022, a produção americana de petróleo totalizou 20,3 milhões de barris/dia, o que correspondeu a 21% da extração global, segundo a U.S. Energy Information Administration (EIA). 

A expansão na produção americana foi baseada, sobretudo, na atividade de empresas de pequeno e médio porte. Hoje, milhares de empresas desse tipo produzem na região, por meio da técnica de fraturamento hidráulico, que usa grande volume de água e produtos químicos para retirar o petróleo e o gás depositados em rochas. 

Quais são as empresas envolvidas?

Com atuação em 60 países e mais de 140 anos de existência, a ExxonMobil é hoje uma das maiores petroleiras do mundo. A companhia atingiu o porte atual por meio de uma fusão: a combinação entre os negócios da Exxon e da Mobil em 1999.

A produção global da companhia foi de 3,6 milhões de barris de óleo equivalente por dia no segundo trimestre de 2023. A empresa tem concentrado o aumento da produção sobretudo na Bacia do Permiano e na Guiana. 

Já a Pioneer nasceu em 1997, a partir da combinação entre duas petroleiras pequenas americanas, a Parker & Parsley e a MESA Inc. A companhia opera exclusivamente na Bacia do Permiano, onde registrou uma produção de 711 mil barris de óleo equivalente por dia no segundo trimestre de 2023.

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Quais são as vantagens do negócio para cada empresa?

A Exxon tinha como meta atingir uma produção de 1 milhão de boe/dia na Bacia do Permiano até 2027. Após a fusão com a Pioneer, essa meta já é ultrapassada e o volume deve chegar a 2 milhões de boe/dia em 2027.

Além disso, a aquisição tem potencial para reduzir custos e aumentar a eficiência das operações da major americana, apontam os analistas de óleo e gás da Bloomberg Intelligence, Fernando Valle e Brett Gibbs. 

Eles lembram que os ativos da Exxon estão em uma área da bacia que tem restrições na infraestrutura de transporte e queima de gás natural, o que pode limitar o crescimento da produção da companhia. 

“Os ativos da Pioneer são contíguos e estão próximos à infraestrutura necessária, o que cria oportunidade de desenvolvimento a baixo custo”, disseram Valle e Gibbs em relatório.

O diretor em pesquisa em upstream da Wood Mackenzie para a América Latina, Marcelo de Assis, lembra ainda que o alto patamar do barril de petróleo hoje, na faixa de US$ 90, ajuda a tornar a operação mais atraente, pois o break even (preço de equilíbrio) na região do shale americano está entre US$ 40 e US$ 60. A ExxonMobil estima que seu custo na região será inferior a US$ 35/boe.

“São recursos já descobertos, em produção, que estão gerando caixa. Além disso, são ativos em território americano, lugar que a Exxon conhece e onde já tem produção, o que ajuda a reduzir os custos”, diz. 

A alta produtividade dos poços da Pioneer também pode contribuir para uma melhora nos custos das operações da Exxon. Os analistas apontam ainda que o momento é oportuno para a compra, pois o fluxo de caixa livre da Pioneer atingiu um rendimento semelhante ao das majors do setor, o que reduz os impactos negativos da transação no balanço da Exxon. 

Em termos financeiros, a Rystad estima que a aquisição tem potencial para ampliar a geração de caixa livre por barril produzido da Exxon na bacia já em 2024. A previsão é que a companhia, sozinha, geraria um fluxo de caixa livre de US$ 14,47 por barril de óleo equivalente produzido. O valor pode subir para US$ 16,95 com a fusão, estima a consultoria. 

Para a Pioneer, a fusão pode ajudar a empresa a lidar melhor com desafios enfrentados pela indústria atualmente nos EUA, como a inflação dos custos e a alta da taxa de juros, além do enfraquecimento da demanda por petróleo. A compra por uma empresa maior ajuda a reduzir despesas e a ter um fluxo de caixa livre estável, dizem os analistas da Bloomberg Intelligence. 

Quais são os possíveis impactos no mercado?

Um dos principais sinais que a operação passa ao mercado, dizem analistas, é o interesse das grandes empresas do setor por ampliar reservas de petróleo em uma região estável e conhecida do setor, como os EUA. 

Assis, da Wood Mackenzie, lembra que as majors americanas, como a ExxonMobil e a Chevron, não têm investido tanto em energias renováveis quanto as grandes companhias europeias.

“Essa operação sinaliza o fortalecimento dessa estratégia”, afirma. 

A combinação dos negócios entre a Pioneer e a Exxon e a consequente redução dos custos da produção na região do Permiano abre espaço também para a ampliação dos investimentos no shale americano, dizem os analistas da Bloomberg Intelligence. 

Além disso, o negócio entre a Exxon e a Pioneer pode levar a produção norte-americana a entrar em uma nova fase, com uma onda de fusões e aquisições. O crescimento da produção na região no começo da década de 2010 foi marcado por avanços tecnológicos e altos investimentos.

Desde 2019, a indústria tem focado na disciplina de capital. Os esforços nesse sentido reduziram as disparidades entre as métricas financeiras das pequenas e médias operadoras que produzem no shale e as grandes empresas do setor. 

A região vive uma mudança do cenário de crescimento acelerado para um negócio maduro, diz a Rystad. A aquisição da Pioneer pela Exxon seria uma nova etapa, marcada pela consolidação do mercado, com as grandes empresas do setor ampliando o portfólio de reservas que detém na região.

Empresas como Chevron, ConocoPhilips e Occidental Petroleum, que estão com balanços financeiros saudáveis, estão entre as candidatas a movimentos similares.