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Eletrobras quer acelerar plano para se tornar “green major”

Após se desfazer de Candiota, a carvão, empresa pretende agilizar plano de descarbonização

Eletrobras quer acelerar plano de descarbonização com a ambição de se tornar “green major”. Na imagem: Vista das instalações da termelétrica a carvão mineral Candiota (RS), com capacidade instalada de 350 MW, com chaminés emitindo fumaça poluente na atmosfera (Foto: Eduardo Tavares/PAC)
Termelétrica a carvão mineral Candiota (RS), com capacidade instalada de 350 MW (Foto: Eduardo Tavares/PAC)

A Eletrobras deu um passo significativo para zerar as emissões líquidas de carbono com a venda, este mês, para a Âmbar Energia da termelétrica a carvão Candiota – que respondia, sozinha, por um terço das emissões totais da companhia. O desinvestimento concretiza um dos principais alvos no plano de descarbonização do grupo.

Com isso, segundo a empresa, existe a possibilidade de reavaliar e acelerar as metas de descarbonização, conforme consegue concretizar conquistas em direção à meta final.

Depois de ser privatizada em 2022, a Eletrobras assumiu a ambição de se tornar uma green major, ou seja, ser uma líder mundial em soluções renováveis. O objetivo é fazer isso ao mesmo tempo em que expande o portfólio de geração limpa em 24 gigawatts (GW), para se manter como uma das maiores geradoras do país.

A companhia tem hoje capacidade instalada de 43 GW, dos quais 38,8 GW são de fontes renováveis, sobretudo hidrelétrica, eólica e solar. No fim do ano passado, o grupo tinha nove termelétricas (incluindo Candiota), a carvão e gás natural.

Net zero em 2030

Apesar de ter metas para reduções de emissões há anos, foi apenas na publicação do último plano estratégico, em março de 2023, que a Eletrobras se comprometeu a atingir o objetivo de zerar as emissões líquidas até 2030.

As emissões da Eletrobras somaram 5,6 milhões de toneladas de carbono equivalente (CO2e) em 2022, de acordo com o relatório de emissões de gases de efeito estufa divulgado pela empresa. Desse total, mais de 70% (3,9 milhões de toneladas de CO2e) vieram do escopo 1, ou seja, dos resultados diretos da atividade do grupo, que é gerar energia.

A expectativa da companhia, quando anunciou o plano estratégico, era que as emissões continuassem em níveis similares em 2023 e 2024 e que a queda mais acelerada começaria em 2025.  A empresa estima desembolsar entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões em empreendimentos de geração e transmissão nesses cinco anos.

O plano de descarbonização

Em resumo, o plano da Eletrobras prevê três ações para chegar ao net zero ao fim da década:

  1. Venda de usinas termelétricas
  2. Abatimento de emissões por meio da compra de certificados de energia renovável
  3. Compensação das emissões remanescentes por meio de créditos de carbono provenientes de reflorestamento

De acordo com a Eletrobras, as atividades vão envolver a transformação do portfólio, assim como a adoção de uma nova cultura empresarial e alterações nas equipes.

Com a venda Candiota, uma grande parte do processo de descarbonização avança. A companhia também iniciou em julho a estruturação do processo de venda de outras usinas a gás, como parte do programa. O plano envolve se desfazer de 2 GW de capacidade de geração em térmicas a gás, incluindo a UTE Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e as usinas Codajás, Anori, Anamã, Caapiranga e Mauá, no Amazonas.

Importância de Candiota

Localizada no município de Candiota, no Rio Grande do Sul, a usina tem 350 megawatts de potência outorgada e está em operação desde 2011, sob um contrato de 30 anos de duração. É um dos últimos ativos a carvão no portfólio do grupo.

A usina é operada pela CGT Eletrosul. Os ativos operados por essa subsidiária emitiram em 2022 1,8 milhões de toneladas de CO2e, quase metade do volume emitido no ano por todas as usinas operadas pela Eletrobras, que somou 3,9 milhões de toneladas de CO2e.

Além da forte emissão de carbono, Candiota também já foi alvo, no passado, de acusações por comunidades locais de contribuição para a formação de chuva ácida, fenômeno que é causado pela poluição do ar. As reclamações vieram, inclusive, de cidades uruguaias, já que a usina fica na fronteira com o país vizinho.

Grandes geradoras se afastam do carvão

A venda da usina da Eletrobras é mais um passo nos planos das maiores geradoras de energia do Brasil em deixar para trás todos os seus ativos a carvão. Combustível da primeira revolução industrial, o carvão é considerado uma das fontes de energia mais sujas em termos de emissões de gases de efeito estufa, conforme comprova o peso que Candiota tinha nas emissões da Eletrobras.

O plano da Eletrobras de se desfazer dos ativos a carvão se acelerou nos últimos meses, mas já está em curso há mais de uma década. Desde 2013, a CGT Eletrosul já desativou as usinas São Jerônimo, Nova Usina Termelétrica Porto Alegre e Presidente Médici, todas também no Rio Grande do Sul.

A empresa segue o mesmo caminho da Engie Brasil Energia (EBE), segunda maior geradora do Sistema Interligado Nacional (SIN). A companhia do grupo francês Engie concluiu em junho a venda do último ativo a carvão no país: Pampa Sul, também situado no município de Candiota (RS). A usina foi comprada por fundos de investimento em participações geridos pelas empresas Starboard e Perfin.