Biocombustíveis

Brasil pode zerar emissões em 15 anos com captura de carbono (e se parar de desmatar), diz Shell

Estudos apontam emissões ligadas ao uso da terra como principal barreira para o cumprimento das metas climáticas

Cristiano Pinto da Costa, presidente da Shell Brasil (Foto: Divulgação)
Cristiano Pinto da Costa comanda a exploração e produção da Shell no mercado brasileiro (Foto: Divulgação)

O Brasil é capaz de zerar as emissões líquidas de Gases de Efeito Estufa nos próximos 15 anos e atingir a meta de ser neutro em carbono até 2050, desde que estabeleça um amplo programa de captura e estocagem de carbono e acabe com o desmatamento até 2030, apontam os estudos de longo prazo da Shell.

A conclusão é que o fator mais importante para que o país atinja as metas climáticas será reduzir as emissões referentes ao uso da terra, que incluem o desmatamento e a agricultura. Hoje, essas são as principais fontes das emissões brasileiras.

O estudo aponta que o grande potencial para programas de captura de carbono (CCS) no país está na indústria de etanol, o que teria baixo custo. A maior parte da produção nacional de etanol está em uma região com bom potencial para o armazenamento geológico de carbono.

Para isso, o primeiro passo é regulamentar o mercado de carbono no país. O projeto de lei que cria o mercado regulado foi aprovado na Câmara dos Deputados ao final de 2023 e aguarda análise no Senado. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), tem levado o tema às reuniões de líderes, mas ainda não chegou a um acordo para avançar com o texto para o Plenário.

A petroleira defende ainda a importância de estimular novos investimentos na bioenergia para consumo interno e exportação e fomentar a descarbonização da mobilidade por meio do biodiesel e da ampliação de mandatos para biocombustíveis.

“É importantíssimo criar um mecanismo que estimule a precificação e o comércio de créditos de carbono, vai liberar uma indústria muito grande”, disse o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, a jornalistas nesta quinta-feira (20/6) no Rio de Janeiro.

Caso avance no armazenamento a partir do etanol, o Brasil pode, inclusive, ter emissões negativas até 2040, o que permitiria a venda de créditos de carbono para outros países, conclui a Shell. Isso depende, entretanto, da implementação do Artigo 6 do Acordo de Paris, que cria um mercado de carbono internacional.

Essas projeções, no entanto, levam em consideração um cenário global de longo prazo otimista, o que considera países abertos ao comércio e a continuidade da busca pela transição para uma economia de baixo carbono.

Num cenário pessimista, com a ampliação das tensões globais e aumento de sanções, barreiras comerciais e tarifas internacionais, o Brasil seria capaz de zerar as emissões apenas em 2062.

Petróleo continua importante

Em relação ao setor de petróleo e gás, ambos os cenários preveem que o país vai chegar a 2035 com uma produção de cerca de 4 milhões de barris/dia, com exportações em 1,5 milhão de barris/dia.

A Shell acredita que o país vai atingir o pico de extração de 5 milhões de barris/dia em 2030, mas, num mundo mais fragmentado, o pico da produção nacional poderia ocorrer apenas na década de 2050, quando a produção manteria um platô de 5,7 milhões de barris/dia e o país poderia ser exportador de gás natural.

“O Brasil tem uma oportunidade de acelerar a sua transição energética, mas continuar se beneficiando do avanço da produção, da exploração e da produção de óleo e gás por ainda muitas décadas, suprindo essa necessidade”, disse o presidente da Shell Brasil.

O executivo afirma que as conclusões mostram a importância de manter a competitividade e a estabilidade jurídica e regulatória da indústria de petróleo no país.

“É muito importante manter a competitividade do setor com leilões anuais, mantendo a carga fiscal nos níveis que já está, que é muito alta no momento. Avançar com o marco regulatório de novas áreas, como sequestro de carbono, CCS, hidrogênio é outro ponto”, defendeu.

Setor elétrico ainda pode ampliar geração eólica e solar

No setor elétrico, a expectativa otimista é que o país possa atender a demanda futura por eletricidade por meio das fontes eólica e solar, que têm potencial para chegar a uma capacidade total de 300 gigawatts (GW) nas próximas três décadas, o que depende também do aumento da geração nuclear como carga de base.

Já o hidrogênio pode ganhar espaço a partir da próxima década, com uma contribuição inicial sobretudo para descarbonizar o transporte pesado.

Com base nas previsões, a Shell defende que o país precisa continuar a avançar na abertura do mercado livre de energia, além de ter políticas estáveis, previsíveis e competitivas para investimentos em energia solar e eólica e fomentar o armazenamento de energia.