BRASÍLIA — Com cerca de 850 aterros sanitários e ainda milhares de lixões a céu aberto, o Brasil pode encontrar na produção de biogás e biometano um caminho para cortar emissões de carbono tanto nesses espaços, quanto pela substituição de combustíveis fósseis nos transportes e indústria.
Ao mesmo tempo, os aterros são uma solução para ajudar o biometano a ganhar escala em um país de dimensões continentais, e superar desafios logísticos, explica Álvaro Ferreira, CEO Waga Energy Brazil.
“Os aterros operam 365 dias por ano, não tendo parte das limitações encontradas em outras fontes, com relação à sazonalidade, por exemplo. Se adicionarmos à essa realidade o fato que um único aterro, quando de grande ou médio porte, tem capacidade para gerar grandes quantidades de biogás, e consequentemente de biometano, verificamos que essa é uma das melhores alternativas para produção em larga escala, de forma contínua”.
De olho nesse potencial, a francesa Waga Energy inaugurou, no início de fevereiro, uma subsidiária no Brasil, em São Paulo, com um modelo de negócios que combina fornecimento de tecnologia, desenvolvimento de projetos, investimentos e gestão.
O grupo, que foca na produção a partir de aterros, atua em seis países da Europa e da América do Norte e agora está expandindo as operações para a América do Sul.
Em entrevista à agência eixos, Ferreira afirma que há pelo menos dois anos a companhia observa o Brasil. O país desponta como um mercado promissor pela quantidade de resíduos que podem ser convertidos em energia, mas também pelo ambiente de políticas de descarbonização.
“O Brasil tem naturalmente um grande potencial, que combinado com os diversos programas de descarbonização já em curso e as metas ambientais governamentais já estabelecidas torna-o um país relevante a nível mundial”.
Entre os exemplos está a a Lei do Combustível do Futuro, que prevê mandato para mistura de biometano ao gás natural a partir de 2026, além da criação dos certificados de rastreabilidade CGOB.
Na visão da empresa, diferentes setores devem ser incentivados a ampliar seus programas de descarbonização com o uso de biometano e a produção a partir dos aterros pode ser uma fonte de energia limpa, local e acessível.
Ferreira conta que há alguns pré-projetos em estágio avançado de negociação em São Paulo para instalação da tecnologia desenvolvida pelo grupo francês. Há também conversas com possíveis produtores em outras regiões do país.
“Estamos atentos aos compromissos que devem ser assumidos pelos grandes produtores e importadores de gás natural”, diz Ferreira.
“Um dos desafios é a localização das fontes de biometano, em relação aos seus pontos de entrega, bem como à escala de produção. Neste contexto, os aterros sanitários surgem como uma ótima opção não só por permitir certa dispersão regional como pela escala potencial de cada fonte de biometano, seja com objetivo de injeção na rede de gás natural ou para entrega comprimido para potenciais offtakers, encarregados pelo fornecimento, como bio-GNC, na maioria dos casos, ou bio-GNL para consumo final”, completa.