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Argentina recorre à carga de GNL da Petrobras para contornar escassez de gás

Imbróglio no reconhecimento do pagamento pela Petrobras atrasa descarga do GNL

Terminal de regaseificação de Escobar no Rio Paraná, próximo a Buenos Aires, Argentina (Foto: Divulgação Excelerate Energy)
Terminal de regaseificação de Escobar no Rio Paraná, próximo a Buenos Aires (Foto: Divulgação Excelerate Energy)

RIO – A Enarsa recorreu à compra emergencial de uma carga de gás natural liquefeito (GNL) da Petrobras para contornar a crise no abastecimento do mercado argentino que afeta mais de 300 indústrias no país vizinho, além de postos de combustíveis, desde o fim da semana passada.

A estatal argentina informou, nesta quarta-feira (29/5), que um “contratempo comercial” com petroleira brasileira atrasou a internalização do produto, mas que a situação já foi regularizada. A expectativa no governo de Javier Milei é normalizar o abastecimento nacional a partir da noite desta quarta.

De acordo com a Enarsa, o navio com a carga de GNL atracou na tarde de terça (28/5), no terminal de regaseificação de Escobar, mas houve um imbróglio com o pagamento. A Petrobras contestou a carta de crédito e não liberou de imediato a injeção do gás.

A empresa argentina informou que, nesta quarta, às 9h10, foi recebida a confirmação da carta de crédito emitida pelo BNA [Banco de la Nación Argentina], por parte do banco designado pela Petrobras, e que imediatamente se iniciou o descarregamento.

A Petrobras, por sua vez, esclareceu que a operação ocorreu conforme acordado em contrato e que “ambas as empresas atuaram para viabilizar o início de fornecimento, que já está acontecendo, no menor prazo possível”.

Petrobras e Enarsa se aproximam

Em abril, a Petrobras assinou com a Enarsa um acordo não vinculante para estudos e parcerias. Uma aproximação que mira as oportunidades de importação de Vaca Muerta no futuro, mas que, a curto prazo, prevê a coordenação de ações para garantir o fornecimento de gás para a Argentina no inverno.

A Petrobras diz que não haverá impacto no abastecimento nacional, nem custo adicional para ela, mas não é clara quanto aos efeitos sobre a importação de gás boliviano. Nos últimos invernos, a YPFB deslocou parte do gás consumido pelo Brasil para a Argentina.

Este mês, a entrada de gás boliviano pelo Gasbol está, na média, em 12,5 milhões de m3/dia – uma queda de 14% em relação a abril e de 11% ante maio de 2023. Os dados são da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e incluem os volumes de importação geral da Bolívia, não restritos à Petrobras.

Com o crescimento da produção interna na Argentina, havia a expectativa de que o país declarasse independência da importação de gás da Bolívia no inverno de 2024 – e que a YPFB direcionasse volumes maiores para comercializadores privados no Brasil este ano.

A situação na Argentina, porém, mudou com o atraso na licitação das obras de reversão do fluxo do Gasoduto Norte – que levará gás de Vaca Muerta à região Norte da Argentina e que garantirá a autossuficiência da Bolívia.

Esta semana, a Enargas – regulador de gás argentino – autorizou a Enarsa a realizar as obras do projeto de reversão de fluxo do Gasoduto Norte. A expectativa é que o projeto fique pronto no meio do inverno.

Em meio ao atraso nas obras, a Argentina convive com uma onda de frio que aumentou a demanda de gás pelas residências em maio e intensificou o quadro crítico do abastecimento local.