Diálogos da Transição

Aço verde pode ficar mais competitivo com clube de compras

Cooperação entre exportadores e importadores de aço tende a aumentar os ganhos dos fornecedores

Aço verde pode se tornar mais competitivo com clube de compras, para cooperação entre exportadores e importadores. Na imagem: Trabalhador dobra chapa de aço em indústria siderúrgica (Foto: Michal Jarmoluk/Pixabay)
(Foto: Michal Jarmoluk/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Os produtores brasileiros de aço estão olhando para a possibilidade de formação de clubes para negociação de produtos com um prêmio verde, uma alternativa para conectar oferta e demanda pela siderurgia de baixo carbono e ganhar competitividade.

“O comércio internacional de ferro verde pode reduzir o custo global de transformação do aço, para o transporte incorporado de hidrogênio – a única forma de um comércio marítimo de hidrogênio competitivo em termos de custos”, defende Frank Peter, diretor do think tank alemão Agora Energiewende.

Estudo da Agora (.pdf) sugere que a cooperação entre exportadores e importadores de aço tende a aumentar os ganhos dos fornecedores e a competitividade das cadeias produtivas.

Peter participou na quinta (21/9) de um evento online organizado pelo Instituto E+ Transição Energética na Climate Week de Nova York, com executivos da indústria e representantes do governo.

“Esses clubes podem ser ambientes de negociação de produtos industriais verdes entre empresas brasileiras e estrangeiras, funcionando como um atalho entre oferta e demanda na área, e ajudando a resolver o dilema de ovo e galinha do processo”, explica Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+.

“A demanda e a oferta têm de sentar junto para discutir, os governos e a sociedade civil também. Nada vai acontecer sem uma cooperação global entre Norte e Sul”.

O tema está no radar do Estado de Minas Gerais, que quer posicionar a indústria local como um dos principais players no segmento, conta Frederico Amaral e Silva, subsecretário da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas.

Primeiro estado brasileiro a aderir à campanha Race To Zero, da ONU, para neutralizar as emissões de gases de efeito estufa até 2050, MG tem um longo caminho pela frente nessa jornada de descarbonização.

É o terceiro maior emissor brasileiro, com 168 milhões de toneladas de CO2 lançadas na atmosfera em 2021. Desse total, 36% vieram da agropecuária, 22% de mudanças no uso da terra (desmatamento), 21% da energia e 16% da indústria (dados do Seeg).

Hoje, a siderurgia mineira já utiliza carvão vegetal e energia renovável em seus processos, o que a torna “mais limpa” que a média global, diz Silva. E o potencial do estado para produção de biogás e hidrogênio para substituir o gás natural deve adicionar mais sustentabilidade à produção.

“As empresas estão realmente comprometidas com esses esforços, assim como o governo. Estamos trabalhando juntos por uma produção mais limpa do que é hoje”.

Custo é principal barreira

A transformação de ferro em aço demanda muita energia nos fornos, que geralmente são alimentados por carvão mineral – a fonte fóssil mais intensiva em carbono.

Substituí-lo por hidrogênio renovável como defendem a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) e outros organismos internacionais custa caro e levará algum tempo.

Guilherme Abreu, gerente geral de Sustentabilidade da ArcelorMittal, diz que o “preço dos sonhos” do hidrogênio para a indústria é de US$ 1,5 por tonelada.

Enquanto a viabilidade econômica não chega, ele defende que o gás natural seja considerado na transição para a produção mais limpa, além da captura e estocagem de carbono e o uso de biomassa.

Indústria preocupada com pressão europeia

Esta semana, a Associação Latino-Americana do Aço (Alacero) divulgou uma carta onde aponta preocupações do setor com o mecanismo de ajuste de fronteira de carbono (CBAM, em inglês) da União Europeia e pede prorrogação de prazos.

Aprovado em agosto deste ano, o regulamento cria um imposto para precificar as emissões dos produtos que são importados pelos países membros.

A primeira fase, transitória, começa a valer em 1 de outubro de 2023 e vai até o final de 2025. Nela, os comerciantes terão apenas que informar sobre as emissões embutidas em suas importações sujeitas ao mecanismo sem pagar qualquer ajuste financeiro.

Uma das críticas da Alacero é justamente em relação ao período de transição. A associação avalia o prazo curto dada a complexidade do processo de descarbonização da siderurgia.

“Nas condições atuais, será difícil cumprir os requisitos solicitados em tempo hábil, afetando os processos comerciais tradicionais dos nossos membros produtores de aço na região”, diz a carta.

Na visão da Alacero, o regulamento impactará os custos da indústria de forma desigual em países emergentes.

“Ao contrário dos países que compõem a União Europeia, os latino-americanos não dispõem de subsídios ou ajudas não reembolsáveis para financiar a transição ou adoção de tecnologias disruptivas de descarbonização”. Leia na íntegra (.pdf)

Cobrimos por aqui:

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