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Abertura do mercado livre e leilões de reserva ajudariam indústria eólica nacional a se recuperar da crise, diz Vestas

Setor eólico atravessa crise por demanda e conta com medidas de estímulo do governo

Abertura do mercado livre a todos os consumidores e leilões de energia de reserva (LER) ajudariam indústria eólica nacional a se recuperar da crise, diz Vestas. Na imagem: Fábrica de montagem de hubs e naceles (de aerogeradores) da Vestas em Aquiraz, no Ceará (Foto: Carlos Gibaja/Governo do Ceará)
Fábrica de montagem de hubs e naceles da Vestas em Aquiraz, no Ceará (Foto: Carlos Gibaja/Governo do Ceará)

AQUIRAZ (CE) – A abertura do mercado livre a todos os consumidores e a realização de leilões de reserva (LER) são algumas das medidas que podem ajudar a cadeia de fornecimento de geração eólica no Brasil a ter previsibilidade de demanda para se reerguer da atual crise, defendeu o CEO da Vestas para a América Latina, Eduardo Ricotta.

A Vestas anunciou, nesta sexta-feira (9/8), em um evento na fábrica de montagem de hubs e naceles em Aquiraz (CE) um pacote de estímulos negociado com os governos federal e estadual para apoiar a indústria eólica no país, que sofre com a falta de demanda.

Além disso, a companhia também anunciou que vai investir R$ 130 milhões para começar a fabricar no país a turbina V163, com capacidade de 4,5 megawatts (MW). As pás também serão fabricadas no Ceará, no município de Caucaia, próximo ao Porto do Pecém.

As iniciativas incluem também um acordo com o Santander para dar liquidez aos fornecedores, com a concessão de créditos mais competitivos de acordo com o cumprimento de critérios ambientais, sociais e de governança.

A companhia dinamarquesa assinou ainda um protocolo de intenções com o governo do Ceará para a transferência de créditos tributários acumulados pela Vestas de 2019 a 2021 para os clientes da empresa que instalarem novos parques eólicos no estado.

Segundo Ricotta, o programa é um “pontapé inicial”.

“A gente ainda tem pedidos na carteira, mas é necessário criar esses incentivos para estimular, principalmente a partir do ano que vem, quando começam a cair as encomendas”, disse a jornalistas.

O Brasil tem uma ampla cadeia de fornecimento instalada para esse setor, o que permite a construção de aerogeradores com até 80% de conteúdo nacional.

Com a desaceleração nos pedidos nos últimos dois anos, no entanto, diversos fabricantes de peças e equipamentos de geração eólica hibernaram as fábricas brasileiras ou deixaram o país.

Ricotta afirma que para manter a capacidade instalada vai ser necessário que o Brasil tenha uma demanda estável para os fornecedores, com encomendas previstas para os próximos três a cinco anos.

Para ele, além da abertura do mercado livre e dos leilões de reserva, outros fatores que também podem ajudar a aumentar a demanda por energia no Brasil nos próximos anos são a eletrificação da indústria, com os movimentos para substituir combustíveis mais poluentes; a eventual atração de data centers para o país e o desenvolvimento de projetos de hidrogênio.

O executivo lembrou que a continuação dos investimentos em geração eólica vai ser importante para garantir que o Brasil consiga desenvolver a cadeia do hidrogênio.

“A gente tem certeza que o Brasil vai ser um polo exportador de combustível verde, é questão de tempo”, disse Ricotta.

A produção de hidrogênio de baixo carbono demanda energia renovável, por isso, vai ser importante ampliar a capacidade de geração limpa no país para desenvolver esses projetos.

“O Nordeste é um hub perfeito para fazer exportação. É óbvio que tem uma demanda aqui no Brasil, por exemplo, para fertilizantes. A gente também acha que vai ter uma demanda grande por amônia verde”, afirmou.

A Vestas não tem planos de expandir a capacidade instalada no país no momento, mas não descarta novos investimentos para isso no futuro. A companhia anunciou adaptações fabris para começar a produzir duas linhas de produtos em paralelo.

“Mas, para o futuro, vai depender da demanda. Se tiver um crescimento dessas indústrias, obviamente, a gente tem que procurar expandir”, disse o CEO.

O chief procurement officer da Vestas, Rodrigo Ugarte,  lembrou que o Brasil precisa encontrar medidas para competir com outros países que estão adotando incentivos para a industrialização verde, como os Estados Unidos com o Inflation Reduction Act (IRA)

“Um pouco da nossa ambição é realmente dar um choque de medidas para conseguir manter essa indústria rodando”, afirmou.

A continuidade da indústria fornecedora no país vai ser importante também para o desenvolvimento futuro da geração eólica em alto-mar (offshore).

“Pensar no offshore sem ter uma cadeia robusta no offshore significa que as coisas estão desconexas. Para que exista um offshore lá na frente, necessariamente, o onshore tem que estar muito bem estabelecido e com demanda constante, anual”, disse Ugarte.

Para isso, no entanto, vai ser necessário acelerar a aprovação do projeto de lei que regulamenta esses projetos e começar a discutir o arcabouço infra-legal. O projeto aguarda discussão no Senado.

“O marco legal é importante agora para que o Brasil, lá em 2035, esteja apto a entrar com propriedade num cenário onde a demanda por energia renovável vai ser muito mais alta, porque senão a gente não vai ter êxito nesses esforços de descarbonização”, disse o vice presidente para Assuntos Institucionais e Governamentais da Vestas na América Latina, Leonardo Euler.

A jornalista viajou a Aquiraz a convite e com despesas pagas pela Vestas.