Gás Natural

Empresas reforçam gasodutos para levar gás do pré-sal para Sul e Nordeste

Transportadoras se preparam para ampliar a capacidade de exportação de gás do pré-sal para outras regiões do país

A geografia da abertura do mercado de gás. Na imagem: Planta do Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil), da TBG. Dutos de transporte de gás natural na cor prata com sinalizações em amarelo (Foto: Divulgação TBG)
Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil), da TBG (Foto: Divulgação TBG)

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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Transportadoras se preparam para reforçar a malha de gasodutos nos próximos anos e ampliar, assim, a capacidade de exportação de gás do pré-sal para outras regiões do país.

Gás para Empregar é oficialmente criado. Petrobras diz que negociará preço do gás com Unigel com “responsabilidade financeira” e mais. Confira:

DO PAMPA À CAATINGA, GÁS DO PRÉ-SAL RODA O BRASIL Com o protagonismo cada vez mais consolidado do pré-sal como a principal fonte de suprimento de gás natural do Brasil, as transportadoras se preparam para reforçar a malha de gasodutos nos próximos três anos.

Os novos projetos permitirão ampliar a capacidade de exportação de gás das bacias de Santos e Campos para outras regiões do país.

Miram um novo cenário que combina o declínio esperado das importações da Bolívia e o dinamismo maior dos fluxos comerciais num mercado mais aberto.

O pré-sal é responsável por praticamente dois terços da oferta de gás nacional. E os novos gasodutos de escoamento – Rota 3 (2024) e BM-C-33 (2028) – vão ampliar em até 34 milhões de m3/dia a capacidade de envio do gás do pré-sal à costa do Rio de Janeiro.

Em resumo: A Transportadora Associada de Gás (TAG) e Nova Transportadora do Sudeste (NTS) esperam avançar este ano com a decisão final de investimento (FID, na sigla em inglês) de novas estações de compressão que prometem aumentar a capacidade de envio de gás para o Nordeste e Sul, respectivamente.

Em paralelo, a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) prepara para 2023 a chamada pública incremental para ampliação da capacidade do Gasbol.

O GASENE, ENFIM, ENCHEU O plano da TAG é instalar uma nova estação de compressão na extensão do Gasoduto da Integração Sudeste-Nordeste (Gasene), no município de Itajuípe (BA). O projeto permitirá aumentar em cerca de 3 milhões de m3/dia a capacidade do gasoduto a partir de 2026.

Recordar é viver. Inaugurado por Lula e sua então pré-candidata à sucessão, Dilma Rousseff, no meio da corrida eleitoral de 2010, o Gasene foi um marco para a flexibilidade e segurança do sistema de transporte de gás, porque permitiu a interligação entre as malhas do Nordeste e Centro-Sul.

O gasoduto foi inaugurado com capacidade para movimentar cerca de 10 milhões de m3/dia, mas com possibilidade de dobrar esse número por meio de investimentos adicionais em novas estações de compressão.

A expectativa inicial era que, em dez anos, o gasoduto chegasse a sua capacidade plena. A realidade, porém, mostrou-se bem diferente das projeções entusiasmadas da Petrobras (antiga dona do gasoduto) à época.

O gasoduto passou a maior parte do tempo, na última década, operando com capacidade ociosa. Treze anos depois, com o novo desenho do mercado – que se abriu, pioneiramente, no Nordeste – o Gasene começa a demandar reforço, na visão da TAG.

COM A PALAVRA… A TAG O presidente da transportadora, Gustavo Labanca, conta que o projeto da nova estação de compressão já foi apresentado à ANP.

Hoje, importantes produtores das bacias de Campos e Santos (Galp, Shell e Equinor) vendem o gás no Nordeste. O projeto visa a preparar a malha para um cenário de aumento dos fluxos entre as diferentes regiões, num contexto de mercado mais aberto e dinâmico.

O fluxo, aliás, pode ser também no sentido contrário. Com o projeto de produção de gás da Petrobras em águas profundas de Sergipe (2027) e a conexão do terminal de GNL de Barra dos Coqueiros (SE) à malha (2024), o Nordeste passa a contar com uma oferta mais robusta – e que, eventualmente, pode suprir outros mercados.

Atualmente, o empilhamento de tarifas entre os sistemas das diferentes transportadoras inibe uma integração maior do mercado – mas a revisão dos critérios para cálculo das tarifas estão na agenda regulatória da ANP.

Nos estudos do Plano Decenal de Energia 2032, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) não vê restrições na malha, para o atendimento das demandas projetadas – embora cite gargalos pontuais nos gasodutos Gasfor e Nordestão para o aproveitamento de gás oriundo do terminal de GNL de Pecém (CE), quando utilizada a capacidade máxima de regaseificação.

Labanca, por sua vez, alega que a ampliação do Gasene se justifica. Ele cita a importância do projeto para remoção de gargalos do sistema e para dar mais flexibilidade e segurança operacional a ele.

A interligação Sudeste-Nordeste não só permitiu ao mercado nordestino acessar o gás do pré-sal, como, no fluxo contrário, também contribui para garantir, com o gás do Nordeste, a segurança do sistema quando importantes campos produtores de Campos e Santos entram em parada para manutenção ou têm falhas de operação.

“Hoje, para se ter uma ideia, tivemos que contratar produto de descongestionamento com a Petrobras e Excelerate para poder garantir ao Nordeste o caráter firme da contratação do transporte. Três anos desse produto de descongestionamento remunera o investimento na nova estação de compressão – e que será pago em trinta anos”, explicou Labanca, em entrevista ao estúdio epbr, no Seminário de Gás Natural do IBP, na semana passada.

Abre o parêntesis. O serviço de retirada de congestionamento é destinado a cobrir todo e qualquer custo incorrido pelo transportador, relacionado à necessidade de injeção ou retirada do gás com o objetivo de ampliar a capacidade de transporte em base firme, em função de eventuais restrições físicas na malha.

Assista a entrevista do estúdio epbr com Gustavo Labanca na íntegra

O PRÉ-SAL OCUPA O GASBOL Já a NTS espera tomar este ano a decisão de investimento sobre a primeira fase do projeto batizado de “Corredor Pré-Sal”, que prevê aumentar em 24 milhões de m³/dia a oferta de gás do Rio até São Paulo — e que permitirá aumentar o transporte do gás do pré-sal para a região Sul, na conexão com o Gasbol.

A EPE destaca, nos estudos preparatórios do PDE 2032, que o Sudeste deve se consolidar como fonte de gás para o Sul, à medida que a oferta de gás boliviano recue.

O diretor Comercial e Regulatório da NTS, Helder Ferraz, conta que a primeira fase do projeto consiste numa nova estação de compressão em Japeri (RJ). O investimento permitirá aumentar em cerca de 6 milhões de m3/dia a capacidade de entrega de gás do Rio (pré-sal, pós-sal e GNL) à fronteira com a TBG, na Replan (SP), entre 2025 e 2026.

“É uma solução de curto prazo até que a solução estruturante esteja implementada”, disse ao estúdio epbr, durante o Seminário de Gás Natural do IBP.

Assista a entrevista do estúdio epbr com Helder Ferraz na íntegra

A fase 2 do Corredor só deve ficar pronta a partir de 2028. A expectativa da transportadora é apresentar ao Conselho de Usuários o projeto conceitual de engenharia do empreendimento este ano.

O GÁS NA SEMANA

Gás para Empregar oficialmente criado. O governo editou a resolução do CNPE que cria o novo programa federal — cujo objetivo é ampliar a oferta e a infraestrutura de gás. O documento confirma a intenção de ampliar a disponibilidade de molécula para as indústrias de fertilizantes nitrogenados e de produtos petroquímicos, além de outros setores produtivos, para reduzir a dependência externa de “insumos estratégicos”. (epbr)

Petrobras negocia com Unigel com “responsabilidade financeira”. Foi o que disse o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da estatal, Maurício Tolmasquim, sobre as negociações sobre o preço do gás vendido às fábricas de fertilizantes da Bahia e Sergipe. (epbr)

– A Unigel aguarda desfecho das negociações para voltar a operar a unidade sergipana. Propôs ao Sindipetro AL-SE, aliás, a suspensão temporária dos contratos para os trabalhadores em Laranjeiras por 90 dias, contados a partir de 1º de junho. (Valor)

Abar critica ranking do mercado livre da Abrace/IBP/Abpip. Associação Brasileira de Agências Reguladoras diz que ranqueamento do Relivre trouxe uma “visão parcial e quantificou os aspectos regulatórios com pesos e medidas subjetivos, provocando interpretações equivocadas e distorcidas sobre a qualidade da regulação praticada em diversos estados”. A Abegás (distribuidoras) veio em seguida nas críticas, em posição de apoio à Abar.

TBG oferece produtos de curto prazo. Entre 22 e 30 de maio, a transportadora realizará a 6ª Rodada para oferta, a partir de junho, de capacidade de transporte de curto prazo. Serão disponibilizados contratos trimestrais, mensais e diários.

Contratos de GNL indexados ao Brent voltam à moda. De acordo com a Wood Mackenzie, os contratos de longo prazo no mercado global, vinculados ao preço do petróleo, já somam cerca de 13 milhões de toneladas métricas por ano (mmtpa) em 2023, em pouco mais de quatro meses. (Woodmack)

CCS pode render até US$ 20 bi às empresas brasileiras. Levantamento da CCS Brasil calcula que a adoção de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) pode ser uma fonte adicional de receita para as companhias em seus esforços rumo a emissões líquidas zero (epbr).