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Empresas de energia se planejam mais para riscos climáticos, aponta PwC

Pesquisa com CEOs mostra que maioria das companhias do setor incorpora mudanças climáticas ao planejamento financeiro, o que acontece em menos da metade das empresas de outras áreas

Empresas do setor de energia traçam mais planos para riscos climáticos do que empresas de outras áreas, aponta PwC. Na imagem: Adriano Correia, sócio da PwC Brasil (Foto: Divulgação)
Adriano Correia, sócio da PwC Brasil (Foto: Divulgação)

RIO – Empresas de energia e serviços de utilidade pública no Brasil estão mais avançadas que as de outros setores na incorporação de riscos climáticos ao planejamento financeiro, segundo pesquisa feita com CEOs pela PwC.

Segundo o levantamento, 65% dos CEOs brasileiros do setor de energia afirmam que as empresas em que atuam já incorporam os riscos climáticos ao planejamento financeiro.

Quando considerados os executivos de todos os setores, apenas 43% dizem adotar a prática. Outros 18% planejam fazer isso, mas ainda não iniciaram e 36% dos CEOs não têm planos para incluir esses riscos ao planejamento financeiro.

Além disso, quase metade dos executivos do setor de energia no Brasil (48%) responderam que aceitam taxas de retorno inferiores às de outros investimentos para projetos de baixo impacto climático.

“Já é aceita uma taxa menor, sabendo que no futuro isso pode ser um diferencial competitivo, para estar melhor posicionado para enfrentar a concorrência”, explica o sócio da PwC, Adriano Correia.

Na pesquisa geral, apenas 34% dos CEOs disseram aceitar menores retornos para evitar impactos climáticos.

Resultados preocupantes

Para Correia, os resultados são preocupantes e mostram que ainda é necessário avançar na discussão dos impactos financeiros das mudanças do clima. Ele sinaliza a urgência de ações mais assertivas na economia em geral.

“Esses mesmos executivos, embora reconheçam que a questão climática é importante e que tem afetado os negócios e a sociedade como um todo, não estão incorporando os riscos climáticos no seu planejamento financeiro”, diz.

Correia aponta que um dos desafios nesse sentido é a dificuldade de mensurar e modelar os eventos climáticos e de realizar previsões dos impactos nos custos. Outra questão considerada preocupante é a preparação da força de trabalho para os riscos ambientais que vão surgir nos próximos anos.

“Falta incorporar os riscos climáticos nas discussões dos planos de negócio e implementar iniciativas para aperfeiçoar e requalificar a força de trabalho”, afirma.

Os dados são parte da pesquisa anual da consultoria, com base nas respostas de 4.702 executivos em 105 países.

Instabilidades geopolíticas

Correia aponta que os resultados da pesquisa mostram também uma preocupação do setor de energia e utilities com a instabilidade da cadeia de fornecimento, sobretudo no Brasil. Para ele, isso é resultado das instabilidades geopolíticas, como a pandemia e os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio.

Os pontos de atenção dizem respeito não apenas ao preço, mas também à disponibilidade de suprimentos, afirma.

“Temos percebido uma preocupação grande de proteger o custo e o tempo de execução do projeto para que não haja nenhum tipo de atraso no início de alguma operação”, explica o sócio.

Ao todo, 32% dos executivos do setor de energia no Brasil responderam que instabilidades de abastecimento devem levar a mudanças empresariais nos próximos anos, sendo que 55% afirmaram ter feito alterações na maneira de capturar valor por causa dessa questão nos últimos cinco anos. Os percentuais são maiores do que os dos CEOs em geral.

CEOs de energia otimistas com Brasil

A pesquisa também concluiu que há maior otimismo a respeito dos rumos da economia brasileira entre executivos do setor de energia e utilities.

Para 61% deles, a expectativa é de crescimento da economia interna para os próximos 12 meses. Em relação à economia global, o cenário é o oposto: 45% dos executivos acreditam em uma desaceleração do crescimento.

Entre as principais ameaças aos negócios, os CEOs destacaram a estabilidade macroeconômica, inflação e mudanças climáticas. Correia aponta que depois do primeiro ano do terceiro governo de Lula, há maior clareza em relação à condução econômica do país nos próximos anos.

“Ainda existem algumas reformas importantes a serem feitas, como a questão das eólicas offshore e do hidrogênio; a renovação das concessões das distribuidoras de energia elétrica; a própria abertura total do mercado de energia elétrica. Mas hoje já se consegue ter uma clareza maior de como esses assuntos vão ser lidados com esse novo governo”, diz.