Diálogos da Transição

Emergentes têm um décimo dos recursos de países ricos para transição

Gasto planejado por países emergentes para transição até 2023 é de cerca US$ 52 bilhões, frente a US$ 370 bilhões dos países ricos

Gasto planejado por países emergentes para transição até 2023 é de cerca US$ 52 bilhões, frente a US$ 370 bilhões dos países ricos
Treze milhões de pessoas passam fome na Etiópia, Quênia e Somália devido à pior seca no Sudeste Africano desde 1981, alerta o Programa Mundial de Alimentos da ONU (Foto: Unicef)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 15/04/22

Apresentada por

Editada por Nayara Machado
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O volume de recursos dedicados a medidas de recuperação sustentável em economias emergentes é um décimo do montante nos países ricos, mostra a atualização do Rastreador de Recuperação Sustentável da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) divulgada esta semana.

Nas economias emergentes e em desenvolvimento, cerca de US$ 52 bilhões em gastos de recuperação sustentável estão planejados até o final de 2023, bem abaixo do que é necessário em um caminho para emissões líquidas zero até 2050.

Em contraste, países ricos têm mais de US$ 370 bilhões a serem gastos antes do final de 2023.

A diferença não deve diminuir no curto prazo. Governos com recursos fiscais já limitados, agora enfrentam o desafio de conter a escalada de preços e manter acesso a alimentos e combustíveis, em meio ao aumento de cotações das commodities após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Países onde a energia limpa está no centro dos planos de recuperação estão mantendo viva a possibilidade de atingir zero emissões líquidas até 2050, mas condições financeiras e econômicas desafiadoras minaram os recursos públicos em grande parte do resto do mundo”, analisa Fatih Birol, diretor executivo da IEA.

“A cooperação internacional será essencial para mudar essas tendências de investimento em energia limpa, especialmente em economias emergentes e em desenvolvimento, onde a necessidade é maior”.

Nos últimos cinco meses, governos em todo o mundo destinaram US$ 710 bilhões para energia limpa.

Mas continua sendo uma pequena proporção dos US$ 18,2 trilhões em saídas fiscais dedicadas pelos governos para combater os impactos econômicos da pandemia de covid-19.

A IEA estima, no entanto, que até 2023 mais de US$ 1,6 trilhão em investimentos sustentáveis poderiam ser mobilizados, com maior participação do setor privado.

Cobrimos por aqui:

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Mesmo entre os ricos, alguns fundos destinados ao clima correm o risco de não chegar ao mercado dentro dos prazos previstos — é o caso, por exemplo, dos US$ 100 bilhões anuais prometidos em 2009 pelos países desenvolvidos para o combate às mudanças climáticas em países em desenvolvimento que até hoje não foram entregues.

A agência também sinaliza para os atrasos na criação de programas governamentais, interrupções contínuas na cadeia de suprimentos, escassez de mão de obra e incerteza financeira.

“Os governos que conseguirem eliminar a burocracia e estabelecer rapidamente programas eficazes serão os que colherão os benefícios e se posicionarão na nova economia global de energia que está surgindo”, disse Birol.

“Embora a atualização mais recente do Rastreador de Recuperação Sustentável aponte sinais promissores nas economias avançadas, o mundo ainda precisa expandir massivamente seus esforços de implantação de energia limpa ao longo desta década, principalmente nas economias em desenvolvimento, se quisermos preservar a esperança de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C”.

O mais recente relatório do IPCC alerta que as políticas públicas para o clima adotadas no mundo até o final de 2020 levarão a Terra a um aquecimento de 3,2ºC no fim do século, mais do que o dobro do limite do Acordo de Paris.

E os próximos três anos serão definitivos para cortar os gases de efeito estufa se quisermos chegar a 2050 com emissões líquidas zero.

Segundo os cientistas do painel, o mundo tem condições de cortar emissões pela metade em 2030 em relação a 2019 com estratégias e tecnologias de mitigação que custam até US$ 100 a tonelada. Metade dessas estratégias custa menos de US$ 20 / tonelada.

No setor de energia, em especial em eólica e solar, há potencial de redução a custo negativo.

Para aprofundar

— Os maiores riscos hoje para a agenda de descarbonização estão associados ainda a uma falta de compreensão dos agentes sobre as oportunidades a ela associadas, escrevem Emílio Matsumura e Marina Azevedo, do Instituto E+ Transição Energética.

No artigo O desafio da descarbonização da matriz energética mundial, eles abordam também a postergação das ações “quanto maior a espera, mais complexa e mais custosa essa transição se torna”.

— No artigo Energia, questão de sobrevivência e dignidadeClauber Leite e Paula Bezerra falam sobre os impactos da pressão global nos preços de energia para as parcelas de menor renda da população brasileira e as mudanças em curso nas políticas energéticas.

— O crescimento da demanda energética, com retomada da economia, contribui para o desequilíbrio entre a oferta e a demanda dos combustíveis, analisa Ana Carolina Chaves, pesquisadora do Ineep, no artigo Crise energética na Europa evidencia complexidade da transição.

Proposta para Lei do Hidrogênio no Senado traz desenvolvimento para a indústria, escreve Felipe Boechem, sócio da área de Petróleo e Gás do Lefosse. Para o advogado, a proposta de Lei do Hidrogênio ocorre em momento de tendência global de promoção do hidrogênio como uma importante fonte de energia para economia de baixo carbono e um interesse crescente de agentes privados.

— Por fim: Energia solar avança na Amazônia. Mas por que tão lentamente? Matéria do Diálogo Chino traz um recorte sobre o acesso a energia em sistemas isolados no Brasil, que ainda tem cerca de um milhão de pessoas sem nenhum acesso à energia elétrica — e 990 mil estão na Amazônia Legal.