Biocombustíveis

Embraer e Raízen firmam acordo para produção de combustível de aviação sustentável

Entre as intenções, a Embraer irá se tornar a primeira fabricante de aeronaves a consumir SAF que poderá ser distribuído pela Raízen

Embraer e Raízen firmam acordo para produção de combustível de aviação sustentável. Na imagem, jato executivo da Embraer abastecendo com SAF
Jato executivo da Embraer abastecendo com SAF em frente ao hangar (Foto: Embraer/Divulgação)

BRASÍLIA — Embraer e a Raízen assinaram no domingo (17/7) uma carta de intenções para desenvolver a cadeia de produção de combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês). Entre as intenções, a Embraer irá se tornar a primeira fabricante de aeronaves a consumir SAF que poderá ser distribuído pela Raízen, produtora de bioenergia.

Em nota, a Embraer afirma que o uso da tecnologia é parte fundamental da sua estratégia para neutralizar a pegada de carbono das operações até 2040, uma vez que mais de 60% das emissões nas operações da empresa (escopo 1) decorrem do uso de querosene de aviação em ensaios e voos de produção.

A fabricante brasileira de aeronaves quer chegar a 2030 com misturas de SAF representando 100% do seu consumo de combustível no Brasil.

“O SAF tem um papel fundamental na redução das emissões da aviação no curto e médio prazo. Diante disso, este acordo visa estimular o crescimento e a sustentabilidade da cadeia de valor como um todo”, disse Carlos Alberto Griner, vice-presidente de Pessoas, ESG e Comunicação da Embraer.

Responsável por 2,5% das emissões globais de CO₂, com as emissões dobrando desde a década de 1980, a aviação internacional assumiu compromisso de crescimento neutro de emissões — a partir de 2021 de forma voluntária, em 2027 obrigatória.

A Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata, em inglês) estima um salto na demanda global por SAF nos próximos anos, de 100 milhões de litros em 2021 para 5 bilhões de litros em 2025.

Até 2050, 60% do biocombustível de aviação produzido na Europa deve vir de fontes renováveis.

O movimento também marca a intenção da Raízen de entrar no mercado de SAF.

“Como os maiores produtores de etanol de cana-de-açúcar no mundo, é natural estarmos olhando para uma possível oferta de SAF. Esta parceria com a Embraer, uma referência global, reforça a agenda de sustentabilidade e expansão do portfólio da companhia”, explica Antonio Cardoso, vice-presidente de Marketing e Serviços da Raízen.

Biocombustíveis para aviões e navios

De olho nas metas de descarbonização no mercado global, a Raízen — joint venture entre a Cosan e a Shell — vê o SAF, na sigla em inglês e os biocombustíveis para navios (biobunker) como novas oportunidades de negócios.

Em maio, o  vice-presidente de trading da Raízen, Paulo Neves, afirmou que a companhia está observando esses novos mercados como como grandes potenciais adicionais para o etanol no mundo

Para o executivo, as políticas de redução de emissões de carbono que vêm sendo implementadas em países da Europa, Ásia e América do Norte — para alcance das metas do Acordo de Paris — já garantiriam a demanda pelos produtos renováveis.

“Do ponto de vista dos clientes, da demanda, não temos dificuldade de encontrar clientes interessados nessa solução”, disse Neves.

A Raízen confia no poder de sua escala de produção de biocombustíveis e na parceria com a Shell, player global, para se posicionar na disputa pelo mercado internacional.

Além do Brasil, a companhia atua na produção de etanol no Paraguai e Argentina. Segundo o CEO da Raízen Argentina, Teófilo Lacroze, a empresa espera realizar investimentos estratégicos para desenvolver novos produtos na América Latina.

Alcohol-to-jet

O Brasil poderá ocupar um papel importante na produção de combustíveis de aviação sustentável, na rota conhecida como alcohol-to-jet (ATJ), que utiliza o etanol como base, aposta a empresa estadunidense Honeywell.

“Etanol pode ser um elemento-chave para as novas gerações de combustíveis (…) E o Brasil pode ocupar um importante papel como o segundo maior produtor mundial de etanol”, disse a vice-presidente global de estratégia e soluções sustentáveis da Honeywell, Amanda Copperthite, durante evento promovido este mês pela companhia, em São Paulo.

A rota ATJ vem sendo apontada como a única solução viável, no curto prazo, para atender à meta da aviação internacional de neutralidade em carbono até 2050. Hoje, a rota mais conhecida para produção de SAF utiliza óleos e gorduras, mas a Honeywell avalia que a produção de etanol de cana-de-açúcar, produto em que o Brasil possui expertise, é mais competitiva economicamente.