Diálogos da Transição

Dúvidas sobre qualidade desaceleraram mercado de carbono em 2022

Empresas adquiriram 155 milhões de compensações no ano passado, 4% a menos do que em 2021, mostra BNEF

Dúvidas sobre qualidade desaceleraram mercado de carbono em 2022. Na imagem: Floresta de eucaliptos vista de baixo para cima (Foto: Pixabay)
Emissão de títulos por desmatamento evitado diminuiu em um terço entre 2021 e 2022 (Foto: Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Dúvidas sobre qualidade de projetos e seus reais impactos climáticos levaram o comércio voluntário de créditos de carbono a uma queda de 4% no ano passado — comparado a 2021 –, com as empresas adquirindo 155 milhões de compensações, mostra levantamento da BloombergNEF.

A oferta destes créditos cresceu pouco: apenas 2%, com 255 milhões de compensações criadas por projetos em todo o mundo.

Houve queda também na emissão de títulos por desmatamento evitado, que diminuiu em um terço na comparação anual.

De acordo com a análise, as empresas estão preocupadas com a reputação, após recorrentes denúncias de greenwashing por comprarem compensações de projetos de impacto ambiental questionável.

“O mercado de compensações de hoje, criado principalmente a partir de transações bilaterais de créditos baratos, está potencialmente cavando sua própria cova”, comenta Kyle Harrison, chefe de pesquisa de sustentabilidade da BNEF, e o principal autor do relatório.

Crítico em relação às normas atuais, ele observa que os compradores precisam de transparência, definições claras em torno da qualidade e fácil acesso ao que ele chama de fornecimento premium (créditos de maior qualidade) — ou os próximos anos serão parecidos com 2022.

“Essas mudanças gerarão sinais de demanda para os projetos de maior impacto de descarbonização e com maior necessidade de investimento”, explica.

Com definições mais rigorosas de qualidade e maior ênfase na remoção de carbono, o mercado voluntário pode chegar a US$ 1 trilhão logo em 2037.

O relatório defende legislações mais rígidas justamente para aumentar a confiança do mercado, ao mesmo tempo em que valoriza os preços e impulsiona a demanda.

Qual o papel do mercado voluntário de carbono?

A urgência de reduzir emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento do planeta a 1,5º até o fim do século colocou a compensação voluntária entre as estratégias de setores de difícil descarbonização, pela flexibilidade e até mesmo pelo custo.

Para funcionar — e não cair no greenwashing –, no entanto, ela precisa de credibilidade e transparência.

Uma peça-chave é o preço. É preciso ter uma remuneração que faça a árvore em pé valer mais a pena do que derrubada para o dono da terra, e esse valor precisa ser aceito pelo mercado.

Em 2021, o Banco Mundial alertou que menos de 4% das emissões globais são cobertas por um preço de carbono acima de US$ 40. Esse preço precisaria estar entre US$ 40 e US$ 80 por tonelada de CO2 (tCO2) e chegar a níveis entre US$ 100 e US$ 200/tCO2 em 2030, para atender ao Acordo de Paris.

Além disso, as compensações devem ser encaradas como complementares, para abater apenas aquilo que não foi possível reduzir com melhorias em eficiência e substituição de fósseis por renováveis, por exemplo.

A definição de compensação de alta qualidade é outra polêmica, por englobar fatores difíceis de quantificar, como permanência, adicionalidade e benefícios além da descarbonização.

Bolsas, produtos futuros, fornecedores de tecnologia e iniciativas privadas como o Integrity Council for the Voluntary Carbon Markets estão criando padrões e simplificando as compras.

O que pode tanto aumentar a liquidez quanto gerar mais confusão no mercado, avalia Harrison.

“Criar normas padronizadas é o mais importante. Resolver essas questões pode aumentar o mercado em várias ordens de magnitude, mas há o risco de muitos desses esforços concorrentes acontecerem ao mesmo tempo, semelhante ao que vimos em áreas adjacentes, como em relatórios ESG e finanças sustentáveis”.

Dois mercados

O estudo da BNEF faz uma simulação considerando que este debate divide o mercado em dois: um de alta e outro de baixa qualidade.

O primeiro inclui remoção baseada em tecnologia e soluções baseadas na natureza (NBS, em inglês) na África, América do Norte e Oceania. A demanda atingiria apenas 433 milhões em 2030 e 1,3 bilhão em 2050, ante ofertas de 1,4 e 3,2 bilhões nos mesmos anos.

Os preços alcançam a máxima de US$ 38/tonelada em 2039 antes de cair para US$ 32/ton em 2050.

Já o mercado de compensações de baixa qualidade inclui geração de energia e NBS na Ásia e América Latina. Devido à maior demanda, os preços são mais altos inicialmente, de US$ 12/tonelada em 2025, mas só chegarão a US$ 22/tonelada em 2050.

Fonte: BloombergNEF. Observação: o gráfico mostra a previsão dos preços ao invés de preços reais.
Fonte: BloombergNEF. Observação: o gráfico mostra a previsão dos preços ao invés de preços reais.

No Brasil:

Cenário promissor para o biogás de cana

Com um potencial de 2,1 GW médios de geração de eletricidade até 2032, o gás produzido a partir de resíduos como vinhaça, torta de filtro e palhas e pontas deve ganhar cada vez mais espaço no agronegócio.

O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2032) da EPE estima que a produção de biogás pode alcançar 34,9 bilhões de metros cúbicos (m³) e a de biometano 19,2 bilhões de m³ no período — suficiente para suprir cerca de 20% da demanda de diesel do agro.

Já no caso do etanol, a projeção para a oferta chega a 47 bilhões de litros em 2032, com uma taxa de crescimento de 4,1% ao ano — considerando adição obrigatória de 27% de anidro na gasolina e a diferenciação tributária entre os combustíveis.

PDE aponta avanço de cerca de 1,4% ao ano na produtividade total do biocombustível, atingindo 81 milhões de toneladas de capacidade até o fim do decênio 2022-2032.

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Seguro climático

O pagamento de seguros no ano passado por danos causados ​​por eventos climáticos extremos totalizou US$ 120 bilhões — quase o mesmo que a produção econômica do Quênia. E isso representa um aumento de 50% em relação à média da década anterior, reduzindo as margens de lucro das seguradoras. Bloomberg

Novas energias

A formação de uma joint venture entre Casa dos Ventos e TotalEnergies para geração de energia recebeu aprovação do Cade e pretende expandir a capacidade de atuação das empresas em novas fronteiras como hidrogênio, amônia e eólica offshore.

O negócio é avaliado em R$ 12,6 bilhões. Com a aprovação, a TotalEnergies passa a deter 34% do segmento de geração de energia da Casa dos Ventos.