Agendas da COP

Divergências no G20 deixam decisões climáticas difíceis para COP28

Há consenso sobre precisar reduzir as emissões do setor de energia. A divergência está em “como fazer”

Faltam quatro meses e uma semana para a COP28 e as 20 maiores economias do mundo ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre a participação de combustíveis fósseis na matriz
IEA defende que governos de todo o mundo se comprometam a triplicar a capacidade renovável até 2030 (Foto: Divulgação IEA)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
[email protected]

Faltam quatro meses e uma semana para a COP28 e as 20 maiores economias do mundo ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre a participação de combustíveis fósseis na matriz ou o papel de cada uma delas na transição justa.

Neste sábado (22/7), os ministros de Energia do G20 – países que juntos representam mais de três quartos das emissões globais de carbono e do PIB mundial – encerraram o encontro em Goa, na Índia, com um comunicado dando indícios de quão difícil será chegar à cúpula climática da ONU, em novembro, com um acordo forte o suficiente para cortar emissões e limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o final do século.

A expectativa era que o encontro agora em julho estabelecesse algumas bases para a COP28 sediada em Dubai, nos Emirados Árabes, e presidida por um CEO do petróleo.

Por enquanto, os pontos de convergência continuam os mesmos: segurança energética, acesso a energia, estabilidade do mercado precisam ser “promovidos simultaneamente” à transição.

Enquanto isso, o mundo já aqueceu 1,2°C acima da média pré-industrial e as emissões de gases de efeito estufa seguem aumentando, junto com o consumo de combustíveis fósseis, mas o acesso universal a energia está praticamente estagnado, com 675 milhões de pessoas sem eletricidade e 2,3 bilhões dependendo de carvão e lenha para cozinhar.

Logo no começo da declaração, os ministros destacam que deve-se buscar crescimento econômico e garantia do acesso à energia moderna para todos, “sem deixar ninguém para trás”.

“Também reconhecemos a necessidade urgente de avançar nas transições energéticas, por meio de vários caminhos (…) fortalecendo a implementação plena e efetiva do Acordo de Paris e sua meta de temperatura, refletindo a equidade e o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas e respectivas capacidades, à luz das diferentes circunstâncias nacionais”, diz.

Em jogo está a disputa por matérias-primas críticas, descentralização da cadeia produtiva de tecnologias de descarbonização, a liberdade para decidir quais estratégias fazem mais sentido em diferentes economias e, principalmente, quem financia.

Divergentes

A lacuna de investimentos para transição energética em países emergentes chega a R$ 2 trilhões.

No documento publicado pelo G20, os ministros de energia “apelam” ao aumento dos investimentos públicos e privados, com destaque para o papel das instituições financeiras internacionais de bancos multilaterais de desenvolvimentos no apoio aos países em desenvolvimento “quando considerado apropriado”.

Mas a questão dos US$ 100 bilhões (prometidos e não cumpridos) em financiamento das nações ricas para as pobres ficou na seção de “resumo da presidência”, sem a concordância de todo o grupo. Veja a íntegra da declaração, em inglês (.pdf)

Há consenso sobre precisar reduzir as emissões do setor de energia. A divergência está em “como fazer”.

A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) diz que governos de todo o mundo devem se comprometer a triplicar a capacidade renovável até 2030, antes da COP28, e dobrar o progresso em eficiência energética.

“Dentro do portfólio de tecnologias [disponíveis], a alavanca mais importante para conseguir a redução das emissões de CO2 necessária até 2030 é triplicar a capacidade global instalada de energia renovável”, defende a IEA em uma análise publicada na sexta (21/7).

“Este tem sido um elemento chave e recorrente em nossos dados e modelagem desde maio de 2021. A expansão da capacidade renovável nessa escala evitaria cerca de 7 bilhões de toneladas de emissões de CO2 entre 2023 e 2030. Isso seria comparável à eliminação de todas as emissões atuais de CO2 do setor de energia da China”, completa.

Para parte dos produtores de combustíveis fósseis – Arábia Saudita, Rússia, China, África do Sul e Indonésia –, no entanto, destruir a demanda de petróleo e gás não parece o melhor caminho. Reuters/G1

Em coletiva de imprensa após o término da conferência, o ministro de Energia da Índia, Raj Kumar Singh, disse que alguns países queriam usar a captura de carbono em vez de reduzir gradualmente os combustíveis fósseis – mas não especificou quais.

Singh também afirmou que a participação da capacidade renovável instalada na Índia pode aumentar para 65-68% até 2030, já que a meta de chegar a 40% foi alcançada com nove anos de antecedência. Argus

  • Vale dizer: mesmo países ricos como Estados Unidos, Noruega, Canadá e Austrália continuam aumentando a produção e as exportações de petróleo, gás e carvão, enquanto despejam subsídios no setor, mostra um levantamento da plataforma Climate Action Tracker

Cobrimos por aqui:

Curtas

Litígio climático

A Suprema Corte de Londres rejeitou o processo da instituição de caridade ambiental ClientEarth contra a Shell, por causa de sua estratégia climática. O acionista ativista alega que a empresa não pode atingir sua meta de emissões líquidas zero até 2050 com a atual estratégia de transição. Reuters

Papa pede mais esforços contra mudança climática

O papa Francisco pediu neste domingo (23/7) que os líderes dos países ajam mais concretamente sobre o clima. Durante a celebração do tradicional Angelus, o líder da Igreja Católica relembrou os eventos climáticos extremos que estão acontecendo ao redor do mundo. Ansa

Estamos entrando no cheque especial

Até dia 2 de agosto, teremos consumido mais água, matérias-primas, solos e outros recursos naturais do que a Terra é capaz de regenerar em 365 dias, segundo a Global Footprint Network.

Isso significa que a humanidade usa o equivalente a 1,7 planeta para suprir suas necessidades, enquanto as emissões de gases de efeito estufa (GEE) continuam aumentando, superando a capacidade de absorção das florestas e dos oceanos, agravando a crise climática.

Suzana Kahn assume diretoria da Coppe/UFRJ

A especialista em mudanças climáticas assume nesta segunda (24/7) e vai acumular a função de presidente do comitê científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (IPCC). Agência Brasil

Renováveis no Nordeste

A Trinity Energias Renováveis planeja investir R$ 300 milhões para ampliar sua área de atuação do Sudeste para o Nordeste, com 15 usinas solares nos estados de Pernambuco, Ceará e Bahia. As unidades devem entrar em operação entre dezembro deste ano e julho de 2024. Até 2025, a empresa espera alcançar 100 MWp.

Mentoria de eficiência energética

As inscrições para a mentoria gratuita oferecida pelo Senai e PotencializEE encerram nesta quarta (26/7). O programa oferece aulas online e ao vivo – teóricas e práticas –, além de suporte individualizado para pequenas e médias empresas de São Paulo. Regulamento e inscrições no site do PotencializEE.

Chamada para inovação

A Comgás iniciou, na sexta (21/7), a primeira Chamada de Inovação Aberta Setorial para o ciclo 2023/2024 da Plugue, o hub de inovação da companhia. Com participação da GasBrasiliano, Naturgy, Sulgás e Copergás, o programa estima investimentos de mais de R$ 10 milhões. As inscrições são gratuitas e estão disponíveis pelo site até o dia 10 de setembro.