Dissecando o RFI da Petrobras: descomissionamento de dutos flexíveis e equipamentos submarinos, parte I

Dissecando o RFI da Petrobras: descomissionamento de dutos flexíveis e equipamentos submarinos, parte I

Por Mauro Destri
Em meu artigo do dia 30 de janeiro, informei que a Petrobras emitiu e enviou ao mercado duas requisições de informações (RFI) para ouvir de empresas nacionais e estrangeiras sobre suas experiências em como elaborar, gerenciar e executar projetos de descomissionamento. Neste artigo, irei tecer minhas considerações acerca da segunda RFI, que trata do descomissionamento de dutos flexíveis e equipamentos submarinos.

Esta RFI, além de informações iniciais, teve 29 perguntas; algumas merecem considerações, que não esgotam o assunto, mas que eu faço a seguir:

— Objeto, escopo e limitações operacionais: “as estruturas de linhas flexíveis e equipamentos submarinos fazem parte dos sistemas offshore de produção de óleo e gás de diversos ativos de produção”.

Esses ativos não se encontram somente em Macaé; pensem nisso na hora da licitação engenharia, preparação, remoção e disposição (EPRD), como tratei em artigo anterior.

— “Concluído o período operacional dos sistemas, as estruturas devem ser descomissionadas, conforme alternativa a ser definida caso a caso, com base em análises multicritério, considerando aspectos técnicos, de segurança operacional, ambientais e econômicos. Portanto, a destinação destas estruturas pode ser impactada por diversos fatores, os quais podem atuar durante o recolhimento (operações offshore), o transporte ou na locação de destinação (operações onshore)”.

Existe um grupo de trabalho constituído pela Petrobras, coordenado pela Coppe, que definirá alternativas para análises multicritérios. Não fica claro aqui se estas estruturas que serão descomissionadas já tiveram uma análise multicritério executada pela Petrobras e se existem opções para o vencedor da licitação; ou se tal análise será realizada após definido um vencedor da licitação – caberia esclarecer se a análise será feita exclusivamente pela empresa vencedora ou em conjunto com a Petrobras e depois comunicada aos órgãos reguladores. Todo cuidado, atenção e estudo sobre tal análise, com destaque para as opções logísticas.

— “Estão em estudo os projetos de descomissionamento de alguns sistemas submarinos de produção, localizados nas Bacias de Campos e de Sergipe-Alagoas. O escopo desta RFI está relacionado às principais atividades do descomissionamento, que são o recolhimento, transporte, processamento e destinação final de linhas flexíveis e equipamentos submarinos que se encontram com as duas extremidades depositadas no leito marinho”.

Já estão desconectadas, lavadas e prontas para serem içadas. Isso é bom.

— “O escopo de linhas flexíveis (dutos flexíveis, umbilicais e cabos elétricos de potência) é de no mínimo 200 km e no máximo de 1000 km”; o escopo de equipamentos é de 2 itens (2 equipamentos);”

Precisamos saber que equipamentos são esses. Dimensões, peso, estado para içamento, bioincrustrações, resíduos etc. podem ser um problema.

— “A maior parte das linhas flexíveis é formada por tramos interconectados entre si através de flanges ou caixas de junção;”

Precisaremos das informações, dimensões dos tramos, estado, se poderemos içá-los sem cortes, se já estão com tog enquadrado, licenças ambientais etc.

— “No caso de dutos flexíveis, uma das extremidades encontra-se tamponada com cabeça de tração e a outra encontra-se aberta, havendo a possibilidade de se ter as duas extremidades abertas;”

Deverão ser analisadas pelo vencedor se as cabeças de tração são compatíveis com seus equipamentos ou a vantagem de se ter ou não as duas extremidades abertas.

— Os diâmetros externos dos dutos e umbilicais variam de 90 a 350 mm.
— Os pesos lineares (no ar, cheio de água) dos dutos e umbilicais variam de 23 a 170 kgf/m.
— Os equipamentos pesam na ordem de 50 toneladas e possuem dimensões máximas de 7,5 m (comprimento) x 5,30 m (largura) x 5,0 m (altura).
— As linhas flexíveis e equipamentos submarinos encontram-se em lâmina d’água que varia de 100 a 1500 m.
— As linhas flexíveis encontram-se dispostos na Bacia de Campos (~55%) e na Bacia de Sergipe-Alagoas (~45%).
— Os equipamentos submarinos encontram-se na Bacia de Campos.
— Os dutos e equipamentos submarinos podem conter NORM (naturally occurring radioactive materials) incrustado no interior dos mesmos.
— As linhas flexíveis e equipamentos submarinos podem conter colônias de coral sol (vivas ou mortas) incrustadas no exterior dos mesmos.

Dois pontos de atenção: NORM e coral-sol. Já falei sobre esses assuntos em vários artigos anteriores, teremos muito a tratar com órgãos reguladores e com a operadora para os diversos aspectos que irão envolver o processo.

— Os dados mais completos de cada uma das linhas flexíveis e dos equipamentos submarinos serão fornecidos posteriormente, bem como a disposição (ex.: coordenadas e rotas) dos mesmos no leito marinho.

Com certeza, o processo licitatório trará os dados e, ao elaborar seus orçamentos, as empresas deverão ficar atentas.

Devido ao tamanho da RFI, vou dividir essa análise em duas partes e, semana que vem, publicarei a segunda.

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