newsletter
Diálogos da Transição
eixos.com.br | 02/11/21
Editada por Nayara Machado
[email protected]
Mais de 100 líderes se comprometeram nesta terça (2) a deter e reverter a perda florestal e a degradação até 2030 durante a COP26.
A promessa é apoiada por quase US$ 19,2 bilhões em financiamento público e privado e 30 instituições financeiras com mais de US$ 8,7 trilhões de ativos globais comprometendo-se a eliminar o investimento em atividades ligadas ao desmatamento.
Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo, principais países florestais, assinam o acordo, que traz como novidades:
- Foco nas finanças públicas para os Povos Indígenas (US$ 1,7 bi)
- Eliminar investimentos ligados ao desmatamento (US$ 8,7 tri)
- Reunir os maiores países consumidores e produtores para forjar ações comuns em cadeias de fornecimento sustentáveis de commodities-chave
“Eu vejo como as pessoas falam sobre ‘mudança climática’ e ‘aquecimento global’, mas continuam a comprar soja, carne, madeira ilegal e ouro ilegal de terras indígenas, que vem do desmatamento. Eles não sabem que somos nós que mantemos a floresta de pé?”, comenta Alessandra Korap Munduruku, líder e ativista ambiental brasileira da etnia Munduruku.
Apesar de ter assinado o acordo, o Brasil não se comprometeu com aportes de recursos e, internamente, nem com o fim do desmatamento de fato.
Ontem (1º), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, apresentou como meta brasileira zerar o desmatamento ilegal até 2028, o que, na visão de ambientalistas, não conta.
“Me parece um equívoco político o Brasil chegar na COP26 falando só em desmatamento ilegal. Uma coisa é combater o crime, outra coisa é produzir com base na natureza protegida”, diz Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente. Leia aqui
Já o Observatório do Clima alerta que, no mesmo documento em que fala do desmatamento ilegal, o governo brasileiro também oficializa a meta de chegar a 2022 com o desmatamento na Amazônia 16% superior ao de 2018. Veja na íntegra (.pdf)
Deputados correm para aprovar marco do mercado de carbono
O deputado federal Marcelo Ramos (PL/AM), autor do PL 528/21, que cria um mercado brasileiro de créditos de carbono, confia que será possível chegar a um acordo para aprovar o projeto na quarta (3).
Vice-presidente da Câmara, Ramos reconhece que a agenda é difícil, com a pauta dos precatórios, mas defende a urgência do tema como uma ação efetiva do Brasil durante a COP26.
“As primeiras manifestações do Brasil são absolutamente frustrantes e incompatíveis com as ambições que foram geradas em relação ao país a partir do Acordo de Paris e da perspectiva de aprovação do Artigo 6”, afirma.
Ele participou da live Estratégia ESG – De olho na COP26, promovida pela agência epbr e pela Alter Conteúdo.
A versão mais recente do PL 528/21 propõe a criação de um sistema de comércio de emissões, análogo ao que é praticado no exterior, a exemplo do ETS europeu. O texto final, contudo, ainda é negociado.
“O problema é que o governo quer já estabelecer a modelagem desse mercado regulado. E entendemos que a modelagem apresentada por eles é muito ruim”, diz.
Compromisso Global do Metano
Também nesta terça (2), um grupo de 103 países aderiu ao esforço liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) para reduzir as emissões de metano em 30% até 2030.
O metano é o principal gás de efeito estufa depois do dióxido de carbono.
Brasil, China, Rússia e Índia estão entre os cinco maiores emissores de metano, mas não assinaram o compromisso. Os países foram incluídos em uma lista identificada como “alvos” para adesão.
No caso do Brasil, onde a principal fonte de emissão do gás é a pecuária, o Itamaraty disse que o país vai apoiar a iniciativa, mas ainda não foi apresentado nenhum detalhamento.
Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, avalia que, mesmo aderindo ao compromisso, dificilmente a atual gestão implementará medidas nesse sentido.
“O país tem tecnologias disponíveis para reduzir as emissões de metano com ganho de eficiência. Só que isso exigirá um grau de priorização e investimentos que é incompatível com o atual governo federal. Cumprir o compromisso global de Glasgow será uma tarefa para o governo eleito em 2022”, diz.
Anunciado em setembro pela União Europeia e pelos Estados Unidos, o Compromisso Global do Metano agora inclui metade dos 30 principais emissores de metano.
Ainda sobre a COP26…
Margem para reduzir renováveis. Para o setor de energia, o governo brasileiro anunciou na COP26 objetivo de alcançar participação entre 45% e 50% de energias renováveis na matriz energética em 2030.
Segundo a projeção do Plano Decenal de Energia (PDE) 2030, aprovado em 25 de fevereiro, a participação das renováveis na matriz pode variar de 48% a 50% entre 2021 e 2030.
A meta inclui o aumento da participação de biocombustíveis sustentáveis, incluindo o uso de biomassa na cogeração de energia e a expansão do consumo de biocombustíveis via RenovaBio. A expansão da oferta de etanol também é citada como uma diretriz brasileira.
Sem detalhes específicos de crescimento, o governo anunciou também a intenção de incentivar a fabricação e o uso de veículos elétricos e híbridos, incluindo-se veículos de carga.
‘COP poderia ser melhor aproveitada’. O coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo dos Santos Lucon, pediu demissão do cargo nesta terça (2), ainda no início das negociações da COP26. Ele foi nomeado para a função ainda em maio de 2019 por Jair Bolsonaro (sem partido).
“Aqui na COP eu sou politicamente neutro. Não vou fazer nenhuma crítica ao governo, ou a ninguém, não vou fazer. Mas a COP poderia ser melhor aproveitada. Eu tentei, mas eu não consegui”, disse ao G1
First Movers Coalition. Uma parceria entre o Fórum Econômico Mundial e o governo dos Estados Unidos será oficialmente lançada na COP26 na próxima quinta (4).
As empresas participantes se comprometerão a comprar produtos de baixo carbono até 2030 para ajudar a desenvolver cadeias de suprimentos verdes e cumprir as metas climáticas mundiais.
Os compromissos visam quatro setores difíceis de descarbonizar: transporte marítimo, aviação, aço e transporte rodoviário.
Financiando a transição. Relatório Financing the Transition to a Net-Zero Future calcula que para alcançar as metas de neutralização de emissões será necessário investir globalmente pelo menos US$ 500 bilhões até 2030 em tecnologias de descarbonização.
Os valores são dez vezes superiores aos US$ 16 bilhões que já foram aportados mundialmente de 2016 a 2020.
Os investimentos estimados para até o fim desta década precisam ser direcionados para descobertas tecnológicas de descarbonização que incluem captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS) e geração de energia limpa com hidrogênio, bioenergia, combustíveis sustentáveis para aviação (SAF) e amônia verde, por exemplo.
O documento foi produzido pela consultoria Oliver Wyman em parceria com o Fórum Econômico Mundial. Veja na íntegra
[sc name=”news-transicao” ]