BRASÍLIA — A área de alertas de desmatamento na Amazônia em julho atingiu 1.487 km², um empate técnico em relação a julho do ano passado (1.498 km²), mostram os dados do Deter-B, o sistema de detecção de desmatamento em tempo real do Inpe, divulgados nesta sexta-feira (12/8).
A área destruída em um mês é equivalente à cidade de São Paulo (1.500 km²).
“Como a medição do desmatamento é feita de agosto de um ano a julho do ano seguinte, já é possível estimar a área acumulada de alertas na Amazônia em 2022: 8.590 km², a terceira mais alta da série histórica iniciada em 2015 (todas ocorreram no regime Bolsonaro)”, alerta o Observatório do Clima (OC).
Segundo a organização, isso deve refletir em uma taxa oficial de desmatamento acima dos 10.000 km² pelo quarto ano consecutivo.
Os dados finais vêm de um outro sistema do Inpe, o Prodes. Ele é mais preciso que o Deter, mas as estimativas são divulgadas apenas no final do ano.
No ano passado, os alertas do Deter de 8.780 km² corresponderam a uma taxa oficial de desmatamento de 13.038 km².
O que significa, diz o OC, que ainda não é possível descartar uma inédita quarta elevação seguida na destruição da Amazônia.
A gestão de Jair Bolsonaro é a única, desde o início do monitoramento por satélite da floresta em 1988, a ver o desmatamento crescer por três anos seguidos de mandato.
“É mais um número que estarrece, mas não surpreende: o desmatamento fora de controle na Amazônia resulta de uma estratégia meticulosa e muito bem implementada de Bolsonaro e seus generais para desmontar a governança socioambiental no Brasil”, afirma Marcio Astrini, secretário executivo do OC.
Desmatamento na Amazônia sem fiscalização
O sistema Deter foi criado em 2004 e não serve para calcular área desmatada; seu objetivo é detectar o desmate enquanto ele acontece para orientar a fiscalização do Ibama.
No entanto, dados do MapBiomas Alerta mostram que apenas 2,4% dos alertas de desmatamento emitidos pelos satélites corresponderam a uma ação em campo de autuação ou embargo de propriedade pelos órgãos ambientais federais de 2019 a 2021.
Ambientalistas também chamam a atenção para o asfaltamento da BR-319, rodovia que corta o maior bloco de florestas intactas da Amazônia, que passou a avançar mais rapidamente na atual gestão.
“Até a concessão da licença prévia para o trecho ambientalmente mais sensível da obra, no último dia 28, atropelando pareceres de técnicos do próprio governo”, diz o OC.
O Amazonas superou Mato Grosso pela primeira vez como segundo estado mais desmatado da Amazônia Legal em 2022 — o Pará continua o líder.
Foram 3.072 km² de alertas no PA, 2.292 no AM e 1.433 em MT. Os municípios de Lábrea (AM) e Apuí (AM), na zona de influência da BR, foram respectivamente o 1º e 2º com maior área de alertas de desmatamento de toda a região amazônica.
“A divulgação dos dados do Deter um dia depois da festa cívica da leitura das cartas pela democracia nos lembra do risco que a floresta e o país correm caso Bolsonaro triunfe em seu plano de romper a ordem institucional no Brasil”, completa Astrini. “Qualquer solução para a floresta começa em outubro, nas urnas, com a derrota do mandatário que deu ao crime o controle sobre metade do território do Brasil”.
O saldo da gestão Bolsonaro
Desde o início do governo de Jair Bolsonaro, em 2019, até o final do ano passado, o Brasil perdeu 42.517 km² em vegetação nativa, ou quase um estado do Rio de Janeiro (que tem 43.696 km²), mostra o mais recente Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas.
Somente no ano passado, houve um aumento de 20% em relação a 2020 na perda de cobertura vegetal em todos os biomas, com 16.557 km² de desmatamento.
Também aumentou a velocidade de destruição no país. Com uma média diária de 191 novos eventos, a área de desmatamento foi de 189 hectares por hora, ou “um Maracanã a cada dois minutos”, calcula a organização.
Na Amazônia foram 111,6 hectares desmatados por hora ou 1,9 hectare por minuto, o que equivale a cerca de 18 árvores por segundo.
O estudo, que refinou e validou 69.796 alertas de desmatamento em 2021 em todo o território nacional, avaliou individualmente cada evento de desmatamento cruzando com dados de áreas protegidas, autorizações e cadastro ambiental rural (CAR) e encontrou indícios de irregularidades em mais de 98% dos casos.
Apenas em 1,34% dos alertas (que correspondem a 0,87% do total desmatado) não foram encontrados indícios ou evidências de irregularidades.
O percentual de irregularidade está em linha com os 99% detectados nos relatórios de 2019 e 2020, destaca o Mapbiomas. Veja o relatório (.pdf)
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