Vou começar este artigo, como prometido, com o final do anterior, onde perguntei: Então, depois de todo o apresentado, pergunto: Já temos uma indústria de Descomissionamento no Brasil?
Vejam abaixo, então, antes de responderem, a descrição da única Família de fornecimentos de Bens e Serviços criada pela Petrobras para Descomissionamento de unidades.
Descomissionamento de plataformas fixas de petróleo: Consiste nos serviços de desmontagem e desativação (EPRD – Engenharia, Preparação, Remoção e Disposição) de plataformas fixas. Tais serviços englobam engenharia de planejamento, preparação e condicionamento da planta com a limpeza, desinstalação e desmontagem dos equipamentos, corte, remoção e transporte de equipamentos e estruturas metálicas, tratamento de resíduos, armazenamento e disposição final de materiais.
Percebam que venho oferecendo pistas de que temos um sério problema a ser resolvido. Retirar ou não as linhas e equipamentos do fundo do mar? E se retirar for a determinação, como será tratado o Coral Sol, mas não somente ele, Rodolitos, Corais de água profunda, como na região de Marlim, etc.
A família, finalmente publicada, faz uns dois meses, não nos oferece nenhuma pista.
Após a RFI (consulta ao mercado), publicada pela Petrobras em julho do ano passado, a expectativa do mercado, de uma provável indústria de Descomissionamento, pairava sobre como viria esta família, o que ela poderia proporcionar de novos negócios, mas ela ainda foca somente nas unidades fixas.
Observem a tabela abaixo:
Percebam que, majoritariamente, o mercado para fixas, começando já por Cação, se restringe a unidades na UO-BC, onde estão as maiores e mais robustas, na UO-SEAL, mais antigas e menores, tirando Piranema, e UO-RNCE, onde estão as mais antigas e menores.
Então, o mercado para a nova família, está restrito a algo em torno de 78 plataformas fixas, sendo, a depender de interpretações aqui e ali, em torno de 10 de grande porte e as outras bem menores. Volto à estas quantidades mais à frente.
Mas até aqui, Clareza Solar?
Mas sobre a tal nova indústria, delimitada pela Família Petrobras, até agora, em torno somente das fixas e, conhecendo as quantidades destas espalhadas pelo país, quais empresas sozinhas no Brasil (falo de nova indústria), podem se cadastrar e participar dos certames licitatórios. Vamos olhar a família e o que ela diz e tentar entendê-la:
Descomissionamento de plataformas fixas de petróleo:
– como eu disse, a RFI citada, até o momento, permitiu publicar esta Família, mas se esta foi formada pelas informações coletadas pela RFI, o que foi realmente identificado:
1 – RFI recebidas de empresas somente no exterior, ou ainda, de consórcios de empresas brasileiras com empresas internacionais, identificaram que existem empresas que podem atender às exigências de tal família, ou então não seria publicada, certo?
2 – Mas existem empresas no exterior que, sozinhas, atendem a toda família? Pelo que tenho lido e visto nos encontros que fui, sim;
3 – No Brasil existem ou teriam de se consorciar ou quarterizar alguma atividade? Pelo que tenho lido e visto nos encontros que fui, Não;
4 – Caso no Brasil, não existam empresas que, sozinhas, possam atender à toda família, o edital da licitação permitirá consórcios (mas se não temos indústria até agora, já temos um consórcio formado); ou permitirá quarteirizações?
Bom acredito que vocês estejam montando um quebra cabeça.
Até aqui Clareza Solar?
Vamos prosseguir analisando o que diz a família e tentando identificar se existe ou não a tal indústria.
Consiste nos serviços de desmontagem e desativação (EPRD – Engenharia, Preparação, Remoção e Disposição) de plataformas fixas. Tais serviços englobam engenharia de planejamento,
– Neste universo, estão todas as empresas de engenharia, de projetos, civil ou naval, mas que terão de dominar outras disciplinas, como Custos / Mecânica / Elétrica / Instrumentação / Ambiental (TNORM e Corais), etc. A Petrobras esperará que a empresa cuide da Derrota (que é a rota de retirada), qual o melhor caminho para onde ela será transportada? E se tiver Coral sol em seu casco? Quem cuidará do licenciamento e da intersecção com Marinha / IBAMA / ANP, para retirada será a empresa?
Rig to Reef: A Petrobras não cita na família, mas tenho quase certeza, que ela espera da vencedora do certame licitatório, soluções de descarte para a plataforma, o menos custoso possível, eu esperaria e solicitaria. E o uso destas como recifes, seria a melhor solução, do ponto de vista de custos, obviamente. Mas, analisando somente o que está escrito na família, a Petrobras, estaria deixando que a destinação final fosse proposta pela vencedora e, claro, se uma conseguir um projeto ambientalmente sustentável que convença aos órgãos reguladores que esta solução é viável, sairá muito na frente das outras.
Importante: Redução de custos com Descomissionamento pode ser revertida em Investimentos que prolonguem a atividade de produção, mantendo ou gerando mais empregos?
Tributário: Vejam que, caso a empresa vencedora de um certame, decida por um desmonte em terra, em algum porto/estaleiro nacional, as partes e peças, separadas, precisarão de um apoio tributário. Digo isso porque, quaisquer cargas tributárias “normais” sem algum tipo de incentivo, pode inviabilizar a venda destas peças e partes, fazendo com que o preço final para a Petrobras, e o Brasil, por conseguinte, fique ainda maior.
Etc, etc, etc,.
Não conheço uma só empresas no Brasil que, em termos de Engenharia de Planejamento, consiga sozinha, sem parcerias ou quarterizações, atender à todas as disciplinas (Talvez a minha empresa consiga), alguma empresa se vê aqui? ;
“preparação e condicionamento da planta com a limpeza,”
– A tal empresa, precisa agora, também conhecer de comissionamentos e descomissionamentos de equipamentos. Estão inservíveis? Serão destruídos e vendidos como sucata ou podem ser reutilizados; estão inertizados? Qual ordem de Descomissionamento destes se estiverem ligados, por exemplo, à salvatagem? Com será a seletividade para o descarte de cargas usadas por geradores próprios? Etc.
“ desinstalação e desmontagem dos equipamentos, corte, remoção”
– Mesmo sem hidrocarbonetos sendo produzidos, a empresa terá de conhecer bem da legislação ambiental, porque resíduos terão de serem retirados, armazenados de forma adequada para transporte; transportados de forma adequada; armazenados em terra e depois descartados, se não for TENORM, etc. Os ambientes deverão estar seguros para os tais cortes e remoções e, depois entrar no círculo vicioso de armazenar para transporte / transporte / armazenar em terra / descarte / reutilização / etc.
Na linha sob a água, existem empresas no mundo especialistas em cortes de estruturas, todavia, já temos no Brasil?
Como o IBAMA e outros órgãos reguladores enxergam os cortes? Poderão ficar estruturas no fundo? Se sim, a que altura? Ou deverão ser totalmente desenterradas? Se sim, já temos empresas no Brasil que façam isso?
As empresas estão se situando e se enxergando aqui? Vejo que as empresa de construção e montagem fazem grande parte disso, ou seu todo, sem investimentos adicionais, certo? Obviamente, a expertise em licenciamentos ambientais terá de ser descoberta.
“e transporte de equipamentos e estruturas metálicas”
– Aqui as empresas, que possuem embarcações de transporte de grande porte, precisam analisar as capacidades de carga e altura de seus guindastes, capacidade de armazenamento e espaço de seus conveses, calados de portos no Brasil, caso estas sejam transportadas para dentro de nossas fronteiras, etc.
“tratamento de resíduos, armazenamento e disposição final de materiais”.
Aqui o problema é enorme. A empresa e seu setor de engenharia de planejamento, citado mais acima, terá de entender bem, também, da Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS); legislações sobre resíduos de hidrocarbonetos, como por exemplo a LEI No 9.966, DE 28 DE ABRIL DE 2000 que Dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional e dá outras providências; TNORM CAT I e CAT II (rejeitos de Bário e Estrôncio contidos na exploração e produção de Petróleo, caso haja); como armazenar em consonância com a CNEM, por exemplo, etc,
E a disposição final? Este será um dos piores problemas, vamos ver:
1 – Digamos que a limpeza da planta, gere 50 tambores com resíduos de hidrocarboneto, misturados em trapos, madeiras, luvas de raspa, etc. Tudo misturado, temos empresas especializadas neste tratamento? Com certeza, porque a Petrobras convive com isto todos os dias, mas a empresa licitante, terá de cuidar disto também, então, se a licitação não permitir quarteirizar, ou por compliance, ou porque as RFI indicaram empresa internacionais que o fazem, qual empresa no Brasil, teria esta atividade em seu Portfolio? Não esqueçam de consultar, entre muitas outras, a Nota Técnica CGPEG/DILIC/IBAMA Nº 01/11 Nota Técnica CGPEG/DILIC/IBAMA Nº 01/11;
2 – Digamos que tenhamos resíduos TNORM CAT I, este precisa de um tratamento especial antes de seu descarte, que requer no mínimo, um aterro sanitário com licenciamento específico para este fim, e isto não tem custos atrativos;
3 – TNORM CAT II: hoje, não tenho conhecimento de tratamento para este resíduo, quiçá como descarta-lo. O que se conhece é, acondiciona-lo conforme a legislação e possuir grandes áreas para armazenar, mas por quanto tempo? Qual tamanho do problema e da área, consequentemente. Procurem por analogias em descomissionamentos no exterior, são poucas.
Exclusões da família: Vejam que a Família não cita nada sobre abandono de poços; retirada de Templates, por exemplo. No caso de a Plataforma possuir poços satélites ligados à uma unidade fixa, ainda assim a família não cita que abandonos e retiradas de linhas e equipamentos submarinos são por conta da empresa Licitante. Lembro que unidades com PCE-1, por exemplo, tem poços satélites ligados a mesma. No Nordeste, também temos este caso. Então, os licitantes para esta família, não terão de preocupar com este problemão, por enquanto, a não ser que, no caso das unidades do Nordeste, ou quando chegar à vez de PCE-1, a Petrobras, decida colocar na licitação, mais esta atividade por conta da licitante, aí teremos de voltar ao assunto.
Clareza Solar até aqui?
Vamos voltar agora, à tabela acima. Vejam que, o universo de unidades fixas a serem descomissionadas, é de 78 plataformas no total, sendo 13 na UO-BC, onde estão 08 das 10 consideradas de grande porte e, consequentemente, de alta complexidade para descomissionamento. Todavia, a UO-BC produz com todas as suas fixas, concessões do BID zero, o que significa que poderá produzir com elas até 2025, se não houver extensão de prazo de concessão, que a Petrobras vem pedindo sequencialmente. Outro ponto é que, o Brent volta à casa dos U$ 70, isso torna mais atraente estas concessões para prováveis desinvestimentos, o que pode provocar um adiamento ainda maior para o descomissionamento destas unidades fixas da UO-BC.
Outro ponto importante, já tivemos a 14ª. Rodada de BID do Pós Sal e, a 15ª. Vem aí. Pode ser que, concessões próximas a estas unidades sejam arrematadas e, isto torne ainda mais atrativo a continuidade de produção destas unidades fixas., pela possibilidade de interligação de novos poços.
Mais outro ponto importante, toda empresa de Petróleo, tem uma carteira de projetos considerada “B”, ou seja, onde as condições de preços do Barril de Petróleo ou tecnologias disponíveis, não permitem tornar tais projetos economicamente viáveis. Mas uma mudança de cenário, com esta de brent a US$ 70, pode viabilizar projetos desta carteira “B” de tal forma, que também adie o Descomissionamento destas unidades, também pela possibilidade de interligação de novos poços, ou workovers (manutenções) em antigos.
Então, se pensarmos em um mercado imediato, estamos falando das unidades do ES e do Nordeste, em torno de 65 plataformas.
Cabe lembrar que, fala-se em vários artigos de um universo de 2.000 unidades pelo mundo em ponto de DECOM, entre 2021 e 2040, sendo uma média de 10 por ano e, a maioria unidades fixas. Além disso, poderão ver que 600 projetos irão ser descomissionados nos próximos cinco anos, uma média de 120 por ano. Percebem a diferença?
Pergunto: Clareza Solar até aqui?
Então, voltando à pergunta: Existe uma indústria de Descomissionamento no Brasil? Bom, analisando somente este universo de Descomissionamento de fixas, o que vocês concluem?
Vou sair de cima do muro e emitir minha opinião: Não tenho a menor dúvida de que existem segmentos que poderão usufruir de forma rentável e sustentável deste momento da indústria do Petróleo, todavia possuir uma equipe com know-how e uma coordenação competente, será fundamental.
Vejam que, somente analisando esta família, eu elaborei um project, ou seja, uma EAP (estudo analítico de projeto), ou WBS, para quem prefere em inglês. Depois transferi para o Project (software de gerenciamento de projetos), com 197 linhas, e muito básico ainda. Então, não é simples, muito pelo contrário. Entender bem do PMBOK, ser PMP, somente, não basta, tem de entender do negócio profundamente, tem de ter experiência em descomissionamento para não ter prejuízo nesta “nova” indústria e, essa experiência não se adquire sem trabalhar muito com o tema. Uma coisa é certa com relação ao custo: todas as estimativas dos entrante no novo negócio, serão erradas, posso assegurar mas não me refiro a erros na margem de 20% para lá ou para cá, isso sai na contingência, trata-se de erros substanciais.
Mas porque digo isto, e como isto poderia e poderá acontecer, já não seria mais objeto de um artigo.
No próximo artigo, já caminhando para o encerramento da série, será sobre Descomissionamento das SS / FPSO / FSO, e de linhas e equipamentos submarinos, ligados ainda, ou não a alguma unidade. Vamos falar do SGIP e do SGSS, do PDID e do leilão das unidades já com produção parada, como P-07; P-12 e P-15 e tentar entender um pouco deste mundo excitante do Descomissionamento de unidades.
Pergunto: Clareza solar?
Nota: enquanto escrevia este artigo, recebi a reportagem, que considero interessante para quem gosta do assunto e, mostra uma tendência de preocupação de governos com uma atividade tão importante e custosa.