Demanda por renováveis cresce no primeiro ano de pandemia 

Usina solar da Total Nuevas Energias Chile e SunPower, em El Salvador, na região do Atacama, no Chile. Foto por Zylberman Laurent, Graphix Images, para Total
Usina solar da Total Nuevas Energias Chile e SunPower, em El Salvador, na região do Atacama, no Chile. Foto por Zylberman Laurent, Graphix Images, para Total

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 13/05/21
Apresentada porlogotipo eneva

Editada por Nayara Machado
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As renováveis ​​foram as únicas fontes de energia com aumento de demanda em 2020, superando a crise econômica em decorrência da pandemia de covid-19, mostra a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).

No relatório de atualização do mercado, a agência indica que a expansão de fontes renováveis ​​de eletricidade, como a eólica e a solar, deve se tornar “o novo normal daqui para frente”.

A capacidade de eletricidade renovável adicionada em 2020 aumentou 45%, para 280 gigawatts (GW), a maior evolução ano a ano desde 1999.

“O aumento em 2020 deverá se tornar o ‘novo normal’, com cerca de 270 GW de capacidade renovável em curso para serem adicionados em 2021 e quase 280 GW em 2022, apesar de uma desaceleração na China após um nível excepcional de adições no ano passado”, diz o documento.

Para Fatih Birol, diretor executivo da IEA, os governos precisam aproveitar esse momento com políticas públicas capazes de atrair investimentos para o setor.

“Investimento em energia solar e eólica, na infraestrutura de rede adicional que exigirão e em outras tecnologias renováveis ​​importantes, como energia hidrelétrica, bioenergia e geotérmica. Uma expansão massiva da eletricidade limpa é essencial para dar ao mundo uma chance de atingir seus objetivos de emissões líquidas zero”.

Destaques:

  • Adições à capacidade eólica global quase dobraram no ano passado, para 114 GW. Esse crescimento desacelerará um pouco em 2021 e 2022, mas os aumentos ainda serão 50% maiores do que a expansão média durante o período 2017-19;

  • Instalações fotovoltaicas solares continuarão a bater recordes, com adições anuais previstas para chegar a mais de 160 GW até 2022. Quase 50% a mais do que em 2019, antes da pandemia;

  • China está no centro da oferta e demanda, respondendo por cerca de 40% do crescimento da capacidade renovável global por vários anos;

  • Qualquer desaceleração na China nos próximos anos será compensada por um forte crescimento na Europa, Estados Unidos, Índia e América Latina, onde o apoio governamental e a queda dos preços da energia solar fotovoltaica e eólica continuam a impulsionar as instalações;

  • Nos Estados Unidos, o crescimento da capacidade renovável neste ano e no próximo é impulsionado principalmente pela extensão dos créditos fiscais federais;

  • Produção de biocombustíveis caiu 8% globalmente em 2020, mas deve se recuperar este ano para os volumes de 2019 e expandir outros 7% em 2022, conforme a produção de biodiesel e óleo vegetal hidrotratado (HVO) aumenta globalmente e o etanol se expande na Índia;

  • Os efeitos contínuos da crise da covid-19 sobre a demanda, bem como a competição de preço da cana-de-açúcar dos fabricantes de adoçantes no Brasil, continuam a manter a produção de etanol nos Estados Unidos e no Brasil abaixo dos níveis de 2019;

  • Já a capacidade de produção global de HVO deve duplicar nos próximos dois anos.

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Brasil estende acionamento de térmicas e aumenta consumo de diesel no transporte

Apesar da expansão global das renováveis, a IEA alerta para o aumento das emissões de CO2 pelo uso de combustíveis fósseis em economias emergentes.

No Brasil, a seca histórica nas regiões dos reservatórios hidrelétricos fez o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) manter a possibilidade de usinas termelétricas mais caras serem despachadas no fornecimento de energia.

No início desta semana, a produção das térmicas já era recorde (18%), ultrapassando a eólica (13%).

Também colabora para o aumento do uso de combustíveis fósseis a recente decisão do governo de reduzir o percentual de biodiesel adicionado ao diesel de petróleo — combustível mais consumido no país.

Na última quarta, em uma reunião com produtores, o Ministério de Minas e Energia confirmou que vai manter a mistura obrigatória de biodiesel em 10%, ante os 13% previstos em lei.

Efeito cascata do desmatamento

Além de aumentar as emissões de CO2, o avanço do desmatamento no Brasil tem um efeito perverso sobre o regime de chuvas, que impacta a produção de energia, que, por sua vez, vai refletir nas emissões de CO2.

Em outubro do ano passado, a Diálogos da Transição trouxe uma entrevista com Karen Tanaka, gerente Técnica para Energia e Mudança do Clima no CEBDS, e outra com a ex-ministra de Meio Ambiente (2010-2016), Izabella Teixeira.

Na época, as especialistas já antecipavam a crise que estava por vir.

“No setor energético, embora a matriz seja considerada limpa, com 46,1% de fontes renováveis, a grande dependência de hidrelétricas deixa o país mais propenso a futuras crises”, avalia Karen Tanaka.

Ela explica que, no longo prazo, os incêndios em grandes áreas de florestas diminuem a capacidade de retenção de umidade e, consequentemente, de chuvas.

“Existe um fluxo de umidade que vem da Amazônia, descendo pelo Centro-Oeste e chegando à região Sudeste. Com o aumento do desmatamento, há grande variabilidade nesse padrão, afetando o regime de chuvas”, diz Karen.

“Ao romper o equilíbrio hidrológico, o processo de reserva de água tende a cair, a geração média das hidrelétricas tende a se comprometer, o que pode aumentar o preço do MWh hidráulico e forçar a entrada de fontes de energia complementares para a segurança energética do sistema interligado”, analisa Izabella Teixeira, co-presidente do Painel de Recursos Naturais da ONU (IRP-UNEP).

O resultado? “Aí se recorre ao uso de térmicas a combustíveis fósseis, aumentando o custo e as emissões de carbono”, conclui.

Curtas

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aprovou nesta quinta (13) a resolução que trata da especificação do diesel verde, combustível produzido a partir de fontes renováveis. O texto define diesel verde como “biocombustível composto por hidrocarbonetos parafínicos destinado a veículos dotados de motores do ciclo Diesel” e delimita quatro rotas de produção. epbr

A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta quinta-feira (13) o texto principal do projeto que cria uma lei de licenciamento ambiental. O texto-base, criticado por ambientalistas, foi aprovado por 300 votos a favor e 122 contrários. Os deputados ainda precisam analisar propostas de modificações. Depois, o projeto segue para o Senado. Folha

A petroleira bp e a CEMEX (empresa global de materiais de construção) anunciaram hoje que trabalharão juntas para descarbonizar a produção e transporte de cimento até 2050. Além disso, as duas empresas vão desenvolver soluções de urbanização que visem descarbonizar as cidades. bp

O Federal Reserve tem solicitado a bancos que comecem a informar sobre medidas que estão sendo tomadas para mitigar riscos relacionados a mudanças climáticas em seus balanços. As discussões de supervisão, que ainda não tinham vindo a público, destacam como reguladores dos EUA estão se movimentando para executar a agenda do presidente Joe Biden. UOL/Reuters

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, em inglês) emitiu ontem (12) sua primeira atualização de dados climáticos desde 2016. A publicação ocorre em meio a um impulso mais amplo do poder executivo nas metas ambientais, e uma mudança de tom em relação à administração de Trump, atormentada pela hostilidade em relação à ciência e aos cientistas. Bloomberg

Em apenas cinco meses, o KraneShares Global Carbon ETF viu seus ativos saltarem mais de 1.700%, para US $ 311 milhões. O fundo negociado em bolsa que investe em créditos de carbono em todo o mundo aumentou mais de 40% desde o final de 2020, surfando na revolução verde que está varrendo os mercados globais. Bloomberg

Profissionais das áreas socioambientais de concessionárias do setor elétrico vão discutir, na próxima semana, precificação de carbono e agenda ASG (Ambiental, Social e Governança) no contexto energético. Debates fazem parte da programação do Seminário Brasileiro de Meio Ambiente e Responsabilidade Social do Setor Elétrico, que ocorre nos dias 18 a 20 de maio.

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