Petróleo e Gás

Demanda petroquímica pode anular esforços para cortar combustíveis fósseis dos transportes, aponta bp

Petroleira estima pico na demanda petroquímica em 2040, seguindo a trajetória econômica atual

Combustíveis fósseis lideram casos de greenwashing no entre bancos e empresas do setor financeiro. Na imagem: Chaminés de indústria de petróleo emitindo grande volume de gases de efeito estufa, gerando uma densa fumaça branca e, ao fundo, turbinas eólicas (Foto: Emphyrio/Pixabay)
(Foto: Emphyrio/Pixabay)

RIO — O aumento da demanda por petróleo como matéria-prima na indústria petroquímica nas próximas três décadas pode compensar a redução do consumo de combustíveis fósseis no setor de transportes, em meio aos esforços internacionais para cortar emissões de carbono, analisa o Energy Outlook da bp, lançado nesta quarta (10/7).

Entre as principais iniciativas para limitar o aquecimento global está a redução da participação de petróleo na economia, principalmente no abastecimento de veículos. Isso tem ocorrido por meio da ampliação do papel dos biocombustíveis e dos veículos elétricos. 

A bp prevê que o percentual de veículos leves eletrificados na frota global deve sair de 2% em 2022 para de 20% a 30% do total até 2035, com a possibilidade de chegar a 80% em 2050. 

No entanto, esses esforços podem ser neutralizados pelo aumento da demanda por petróleo na indústria petroquímica na próxima década, já que a maior prosperidade econômica em países em desenvolvimento deve ampliar o consumo de plásticos e têxteis. 

A bp apresentou previsões para dois cenários na indústria energética mundial: um no qual as metas do Acordo de Paris serão atingidas (net zero até 2050) e outro que considera a continuação da trajetória atual da indústria. O cenário atual é incompatível com os objetivos de redução de emissões para limitar o aquecimento global a 2ºC, nível que seria ultrapassado já em 2040. 

“Se os movimentos para a transição não se acelerarem entre o final dessa década e o início da próxima, há maior probabilidade de que não seja possível fazer essa transição a tempo de ficar dentro do limite de aquecimento de 2ºC”, disse o economista chefe global da bp, Spencer Dale, ao apresentar as projeções a analistas em Londres nesta quarta. 

Ambos os cenários preveem o início do declínio do consumo por petróleo nesta década, mas ainda estimam um papel importante para esse energético na economia global até 2050. 

A diferença é a velocidade na queda do consumo de petróleo. No cenário atual, a demanda chegaria a pouco menos de 75 milhões de barris/dia em 2050. Já na projeção net zero, o consumo pode chegar a 25 milhões de barris/dia nesse mesmo período. Como comparação, hoje a demanda global por petróleo é de cerca de 100 milhões de barris/dia. 

Emergentes fora da Opep impulsionam petroquímicos

A principal diferença entre os dois cenários é o pico na demanda petroquímica, previsto para 2040 na trajetória econômica atual. Caso o mundo consiga limitar o plástico de uso único e ampliar a reciclagem, esse pico poderia ocorrer já em meados da próxima década.  

A maior parte do crescimento na demanda por petróleo vem de economias emergentes, com o aumento da prosperidade de vida nesses mercados. É resultado, sobretudo, da ampliação da classe média na Ásia, com destaque para a Índia e a China.  

Nos países ricos, a demanda por petróleo já iniciou a trajetória de queda e está 10% abaixo das máximas históricas, que foram registradas em 2005.

Pelo lado da oferta, a bp estima que o principal aumento da produção de petróleo até 2035 virá de países de fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), com destaque para o Brasil e a Guiana, conforme as reservas dos Estados Unidos diminuem. 

A partir da década seguinte, entretanto, a projeção é que a Opep+ volte a ganhar protagonismo no suprimento global e atenda a mais de 60% do mercado em 2050, com a redução na produção dos países de fora desse grupo. 

Descarbonização dos sistemas de energia elétrica será crucial

A bp estima que o principal fator para a economia sair da trajetória atual e chegar mais próxima ao net zero está na descarbonização dos sistemas de energia elétrica. 

Na trajetória atual, a intensidade média de carbono na geração de energia vai cair 35% até meados da próxima década. Esse percentual pode chegar a 60% caso o mundo se alinhe às metas do Acordo de Paris, cenário em que seria possível descarbonizar completamente a geração de energia até 2050. 

O documento mostra que o aumento da geração eólica e solar nos últimos anos não foram suficientes para compensar o aumento na demanda total de energia no mundo. Com isso, o uso de combustíveis fósseis continuou crescendo, junto com a ampliação das fontes renováveis. 

Caso o mundo continue na trajetória atual, as fontes solar e eólica devem responder por metade da geração de energia global em 2050, mas a aceleração da transição energética poderia elevar a participação dessas fontes na matriz global para 70% nesse período. 

O executivo destacou a queda nos custos dos módulos solares como um dos fatores para ser otimista com as conclusões do documento, citando a redução de 60% nos preços desses equipamentos nos últimos quatro anos. 

“O crescimento da solar e da eólica é estimulado pela redução de custos, sobretudo nos próximos dez a quinze anos”, disse Dale. 

Por outro lado, lembrou que depois da guerra na Ucrânia o tema da segurança energética voltou a ganhar destaque no setor. Nesse sentido, ele destacou a importância dos programas governamentais para garantir a geração doméstica de energia limpa. 

“A segurança energética é um bem público. Os benefícios dessa segurança são sentidos por todos e sabemos que não podemos depender de mercados para fornecer esses bens”, afirmou. 

IA para ajudar a reduzir consumo de energia

A proliferação de centros de dados (data centers) para dar conta da expansão do uso de inteligência artificial será outro indutor da ampliação “material” na demanda elétrica em alguns países, afirma o documento. 

O impacto dessa demanda no cenário global, no entanto, tende a ser limitado. 

Hoje os data centers respondem por cerca de 1% da demanda global de energia, percentual que deve subir para 3% até 2040, segundo Dale. 

Por outro lado, o executivo destacou que a inteligência artificial pode ter um papel mais significativo ao ajudar o mundo nos esforços de eficiência energética e redução de emissões, como na busca por novos materiais para captura de carbono e na melhoria de processos industriais.  

“No médio prazo, a inteligência artificial pode ajudar a reduzir o consumo total de energia”, disse.