Energia

Demanda de energia leva carvão a novo recorde 

A rápida recuperação econômica poderá levar demanda geral de carvão a um potencial máximo histórico em 2022

“O carvão é a maior fonte de emissões globais de carbono, e o nível historicamente alto de geração de energia a carvão deste ano é um sinal preocupante em relação ao zero líquido” Fatih Birol - diretor executivo da IEA (foto: Jason Lee/Reuters)
“O carvão é a maior fonte de emissões globais de carbono, e o nível historicamente alto de geração de energia a carvão deste ano é um sinal preocupante em relação ao zero líquido” Fatih Birol - diretor executivo da IEA (foto: Jason Lee/Reuters)

A demanda global por carvão pode atingir máxima histórica no próximo ano devido à taxa quase recorde de eletricidade gerada a partir da fonte fóssil em 2021, mostra relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) publicado nesta sexta (17). 

Depois de cair em 2019 e 2020, a geração global de energia a partir do carvão pode saltar 9% em 2021, uma alta histórica de 10.350 terawatts-hora, minando os esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

A causa é a acelerada recuperação econômica que, neste ano, elevou a demanda por eletricidade muito mais rápido do que os suprimentos de baixo carbono puderam acompanhar. Além das sucessivas altas dos preços do gás natural, que deixaram o carvão financeiramente mais competitivo.

De acordo com o levantamento, a demanda por carvão em todo o mundo – incluindo usos além da geração de energia, como produção de cimento e aço – deve crescer 6% em 2021. 

Esse aumento não ficará acima dos níveis recordes alcançados em 2013 e 2014, mas, dependendo do clima e padrões e crescimento econômico, a demanda geral poderia atingir novos máximos já em 2022 e permanecer nesse nível nos dois anos seguintes.  

Os números acendem alerta para a necessidade de uma ação política rápida e eficaz.

“O carvão é a maior fonte de emissões globais de carbono, e o nível historicamente alto de geração de energia a carvão deste ano é um sinal preocupante de quão longe o mundo está em seus esforços para colocar as emissões em declínio em direção ao zero líquido”, disse o diretor executivo da IEA, Fatih Birol. 

“Sem ações fortes e imediatas dos governos para combater as emissões de carvão – de maneira justa, acessível e segura para as pessoas afetadas – teremos poucas chances, se houver, de limitar o aquecimento global a 1,5 °C”.

Lacuna entre ambições e ação

Ao longo do último ano, e durante a Conferência do Clima da ONU – COP26, em Glasgow, empresas e países assumiram compromissos de chegar a 2050 com emissões líquidas zero de carbono, uma tentativa de limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até o final do século.

Na China, geradora de metade da eletricidade a carvão global, espera-se que essa energia cresça 9% em 2021.

Enquanto na Índia, a previsão de crescimento é de 12%. Isso estabeleceria novos recordes históricos em ambos os países, mesmo com expressivas capacidades solar e eólica. 

Já Estados Unidos e União Europeia devem ser responsáveis por um aumento de quase 20% neste ano, perdendo apenas para os altos níveis de 2019. 

A expectativa é que o uso de carvão nesses dois mercados volte a cair no próximo ano, tanto pelo lento crescimento da demanda de eletricidade quanto pela rápida expansão das energias renováveis.

Segundo Keisuke Sadamori, diretor de Mercados de Energia e Segurança da IEA, as promessas net zero de muitos países, incluindo China e Índia, devem ter implicações fortes para o carvão, mas ainda não são visíveis na previsão de curto prazo, refletindo a grande lacuna entre ambições e ação.

“A Ásia domina o mercado global de carvão, com China e Índia respondendo por dois terços da demanda global. Essas duas economias – dependentes do carvão e com uma população combinada de quase três bilhões de pessoas – detêm a chave para a demanda futura de carvão”.

Diferenças regionais

Em 2020, a demanda geral de carvão caiu 4,4% – o maior declínio em décadas. No entanto, as disparidades regionais foram grandes. 

A demanda pelo produto cresceu 1% durante todo o ano na China, onde a economia começou a se recuperar muito mais cedo do que em outros lugares. Enquanto nos Estados Unidos e na União Europeia caiu quase 20%, e na Índia e na África do Sul, 8%.

Os preços do carvão tiveram expressivas oscilações. 

Depois de cair para US$ 50/tonelada no segundo trimestre de 2020, começaram a subir no final do ano – com cortes na oferta equilibrando o mercado antes que a recuperação econômica e a demanda de carvão na China começassem a aumentar os preços. 

Em 2021, os preços cresceram ainda mais com demanda superando oferta na China, bem como por interrupções na oferta e preços mais altos do gás natural globalmente. 

Os preços do carvão atingiram as máximas históricas no início de outubro de 2021, com o carvão térmico importado na Europa, por exemplo, atingindo US$ 298/tonelada. 

Uma rápida intervenção política do governo chinês para equilibrar o mercado refletiu nos preços, levando, em meados de dezembro deste ano, os valores europeus novamente abaixo de US$ 150/tonelada.