BRASÍLIA — Com o aumento da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel fóssil para 15% (B15), em 2023, a demanda do biocombustível pode atingir 9,5 bilhões de litros. Por outro lado, a manutenção do B10 deixará o consumo em cerca de 6,6 bilhões de litros, aponta o Plano Decenal de Expansão de Energia 2032 da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
As projeções de aumento da mistura para 15%, com vigência a partir de abril deste ano, indicam ainda que a demanda de biodiesel atingirá 12,1 bilhões de litros em 2032. Para esse percentual, a EPE calcula uma taxa de crescimento de 6,7% ao ano.
Cronograma do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) publicado em 2017 previa que o percentual de adição ao diesel B chegasse a 15% a partir de março de 2023.
No entanto, uma resolução do conselho no final do ano passado manteve o percentual em 10% até 31 de março deste ano — decisão que os produtores tentam reverter com o novo governo.
No Plano Decenal, foram cogitados cenários alternativos de mandato para o biodiesel durante o decênio. Uma das avaliações levou em conta um recuo da mistura para 6%, a partir de abril deste ano, levando a demanda a 4,8 bilhões de litros até 2032.
Com a ratificação da trajetória em 10%, a expectativa é que o consumo do biocombustível chegue a 8,1 bilhões de litros nos próximos anos.
Desde 2020 o teor da mistura BX está abaixo do cronograma CNPE, justificada pelo governo com a escalada de preços do óleo de soja e o impacto sobre o valor do diesel na bomba.
A fixação da mistura obrigatória em 10%, no ano passado, levou a demanda pelo renovável a cerca de 6,3 bilhões de litros e a ociosidade do parque industrial chega a 53%, de acordo com o setor.
Dados do Ministério de Minas e Energia (MME) mostram que, em 2022, a produção de biodiesel sofreu baixa de 7,5%.
O Brasil possui 57 usinas de biodiesel, distribuídas em 15 unidades da federação, autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a produzir anualmente 13,3 bilhões de litros.
Soja mantém liderança na produção
De acordo com o PDE 2032, o óleo de soja deve se manter como a principal matéria-prima para a fabricação de biodiesel até o fim do decênio. Contudo, há expectativas de crescimento do sebo bovino, que ocupa o segundo lugar, além de outros materiais graxos.
Os óleos vegetais de palma, milho e macaúba também devem surgir como potenciais insumos devido aos preços competitivos no mercado internacional.
“A matéria-prima corresponde a cerca de 80% do custo total. Para os próximos dez anos, estima-se que este preço acompanhará os valores das commodities em geral”, completa o estudo.
Segundo as estimativas, as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste continuarão liderando a geração do renovável até 2032, representando 34%, 22% e 17% do total, respectivamente.
A projeção é de que o Norte e o Nordeste possam aumentar suas produções e reduzir o desequilíbrio regional com estímulos às culturas adaptadas aos locais.
Setor aguarda definição de mistura
Ao assumir o Ministério de Minas e Energia (MME), o ministro Alexandre Silveira afirmou que o percentual para 2023 será definido após avaliação com produtores, representantes da indústria e do setor de transportes.
Agora, a nova gestão precisa estabelecer qual será o mandato ao longo de 2023 e se haverá um calendário de evolução do uso do biocombustível para os próximos anos. A agenda chegou a ser discutida durante a campanha de Lula (PT), mas o relatório final da equipe de transição não traz indicações sobre os passos seguintes.
Os produtores sinalizam que a manutenção do B10, neste ano, deve diminuir o volume do esmagamento da soja, com impactos na produção de óleo e farelo para as cadeias de proteínas.
Novas rotas
No planejamento, a EPE também vê oportunidade de inserção de outros combustíveis a partir da biomassa como substitutos do diesel, como o diesel verde e o coprocessado (RX) da Petrobras.
O diesel verde ou HVO (Óleo Vegetal Hidrotratado, na sigla em inglês) é um combustível 100% renovável que pode ser produzido a partir de diferentes rotas, como o hidrotratamento de óleo vegetal e animal, da síntese de Fischer-Tropsch proveniente de fontes renováveis, de processos fermentativos e de álcoois.
Já o diesel coprocessado R5 (HBIO), da Petrobras, possui 95% de combustível de origem fóssil e apenas 5% de parcela renovável. O processamento da biomassa para a geração do combustível ocorre simultaneamente com o derivado de petróleo nas refinarias.
Em novembro de 2022, o CNPE chegou a publicar uma resolução liberando a concorrência de rotas tecnológicas alternativas no mandato de biodiesel, mas o trecho foi vetado em seguida. A regulamentação segue sem definição.