Biocombustíveis

De olho no biometano, Scania ampliará oferta de caminhões a gás no Brasil

Fabricante sueca tem como meta atingir 10% a 15% da produção anual de caminhões a gás a partir de 2024, a depender do avanço da cadeia de biometano no país

De olho no biometano, Scania ampliará oferta de caminhões a gás no Brasil. Na imagem: Caminhão da Scania em operação da Pepsico (Foto: Divulgação/Scania)
Empresas com metas de redução de emissões estão aquecendo a demanda por caminhões a gás, conta gerente da Scania (Foto: Divulgação/Scania)

BRASÍLIA – Com o avanço da agenda sustentável nos transportes, o nicho de veículos pesados segue em busca de uma alternativa ambiental e economicamente mais viável ao óleo diesel. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), somente de janeiro a fevereiro de 2023, as vendas de caminhões a gás e elétricos cresceram 157,1%.

Apesar do saldo positivo, a eletrificação de caminhões e ônibus pode ter um caminho mais longo a ser percorrido no Brasil.

Fabricantes asseguram que, mesmo com a inserção dos elétricos, o gás natural continuará garantindo o seu espaço na matriz de transportes. Isto porque as empresas agora estão mirando o potencial de produção do biometano – combustível equivalente ao gás natural – no país.

É o caso da Scania, que está aumentando a oferta brasileira de veículos movidos a gás natural veicular (GNV), gás natural liquefeito (GNL) e/ou biometano. O gerente de sustentabilidade da montadora no Brasil, Paulo Genezini, enxerga um cenário promissor para a tecnologia nos próximos anos.

“Os embarcadores de cargas precisam de soluções sustentáveis. Não temos dúvida do crescimento de volume de unidades [movidas a gás], o que obviamente vai acontecer”, afirmou em entrevista à agência epbr.

Para este ano, a Scania tem como meta vender cerca de 600 caminhões a gás e chegar a um volume total de 1.200 unidades comercializadas. Os veículos são produzidos na planta de São Bernardo do Campo, em São Paulo, desde 2020.

Logística descarbonizada

Dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (Seeg) apontam que somente o transporte rodoviário comercial gera aproximadamente 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono (MtCO2) por ano, sendo 8% das emissões originárias do Brasil.

Genezini explica que a demanda pela solução a gás é proveniente, principalmente, dos clientes que buscam neutralizar as emissões do transportes.

“As empresas nacionais e multinacionais possuem as suas metas de descarbonização e estão buscando inseri-las dentro do seu processo logístico. O transporte para essas empresas é uma parte geradora de gás carbônico”.

Um dos clientes da Scania é a transportadora Jomed, que utiliza caminhões abastecidos a biometano na rota SP-RJ. Atualmente, a empresa conta com 20 veículos movidos a GNV e/ou biometano em sua frota.

Expansão da infraestrutura

A falta de postos de abastecimento com gás natural veicular e/ou biometano ainda é um dos principais impasses para o avanço da rota no Brasil. Apesar da malha estabelecida na costa brasileira, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, no interior do país, há maior desabastecimento do combustível.

A Scania está buscando aumentar a capilaridade por meio de parcerias com distribuidoras de gás. “Isso vem de demanda e a partir de clientes que nos procuram. Eles têm interesse no desenvolvimento desse mercado, que é mais um nicho onde eles podem vender gás”, esclarece Genezini.

Eletrificação, GNV e biometano

Projeções indicam que o óleo pode perder protagonismo em todos os modais de transporte nos próximos anos, com a eletrificação ganhando cada vez mais território.

Diferente da realidade na Europa, a Scania ainda não está vendendo caminhões ou ônibus elétricos no Brasil. A fabricante acredita que a eletrificação deve acontecer primeiramente em veículos que operam distâncias mais curtas.

Por enquanto, a empresa analisa a viabilidade econômica e comercial de rotas tecnológicas para trazê-las em momentos favoráveis para o Brasil.

“Nós temos dentro da Scania um portfólio amplo de tecnologias. O hidrogênio faz parte, assim como a célula a combustível”, adiantou Genezini.

Ônibus a GNV

Outra aposta para a transição é a eficiência energética do gás natural em ônibus, que contam com a mesma tecnologia dos caminhões. Neste mês, a fabricante sueca iniciou testes com um ônibus movido a GNV em Curitiba. A iniciativa tem parceria da Companhia Paranaense de Gás (Compagas) e do governo estadual.

O veículo cobrirá uma linha do transporte público por 30 dias para análise de indicadores de eficiência, custo operacional comparado com o diesel e redução nas emissões de poluentes.

Para o gerente de sustentabilidade da Scania Operações Comerciais Brasil, a mudança também é uma questão de saúde pública, já que o diesel possui componentes nocivos aos seres humanos.

“A aplicação urbana do gás tem uma vantagem maior. O motor a gás natural ou a biometano tem uma redução muito grande nos contaminantes, como material particulado, fuligem e o óxido de nitrogênio”, defende.

Aposta no biometano

A fabricante sueca também tem como ambição alcançar 10% a 15% da produção anual de caminhões a gás a partir de 2024, a depender do avanço da cadeia brasileira de biometano.

A aposta no biometano para a transição traz a vantagem da segurança energética, em relação à estabilidade dos preços, já que não é indexado aos valores internacionais do petróleo. Além disso, o gás renovável tem capacidade de substituir 70% do consumo de brasileiro de diesel, de acordo com a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás).

“É uma fonte firme, despachável e não é intermitente como as outras renováveis. Então, do ponto de vista técnico, ela é idêntica ao gás natural”, descreve o vice-presidente da Abiogás, Gabriel Kropsch.

O biogás é proveniente da decomposição de materiais orgânicos, enquanto o biometano é um combustível gerado a partir da purificação do biogás e sua molécula idêntica à do gás natural fóssil.

Também há vantagens quanto à redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) diante do similar fóssil. “O biogás tem um potencial de aproveitamento porque a decomposição da matéria orgânica que é um processo natural. Quanto mais você utiliza, mais você retira CO2 da atmosfera”, explica Kropsch.

Reveja a participação de Gabriel Kropsch no epbr entrevista. Assista na íntegra!

Discussões regulatórias no horizonte

Em expansão no mercado energético, o setor de biogás deve avançar na busca por marcos legais para ganhar competitividade e aquecer investimentos no país. No entanto, o avanço depende de maior reconhecimento no Brasil.

Para 2023, estão previstos no Congresso projetos que podem mobilizar discussões a respeito do futuro do biocombustível. É o caso do PL 3865/2021, do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), que institui o Programa de Incentivo à Produção e ao Aproveitamento de Biogás, de Biometano e de Coprodutos Associados (PIBB).

A proposta busca incentivar a participação do biogás e do biometano na matriz energética nacional e fomentar a formulação de uma infraestrutura adequada para a geração de energia proveniente de biomassa, entre outros objetivos.

“Temos boas perspectivas de atração de investimentos, geração de negócios e de empregos”, diz Kropsch.

Para o vice-presidente, o projeto é importante sobretudo para difundir conhecimento sobre as possibilidades de uso do biocombustível, além do potencial de qualificação da mão de obra destinada à produção do gás renovável, na “fixação da população do campo, já que grande parte dos produtores de biogás estão no interior do Brasil”.

Em tramitação mais avançada, o PLS 302/2018, aprovado no final do ano passado no Senado, prevê a produção de energia elétrica a partir de resíduos sólidos em aterros sanitários. O texto deve ser debatido pelos parlamentares na Câmara dos Deputados ainda este ano.