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Crise energética pode contribuir para redução de fósseis nas próximas décadas, diz IEA

World Energy Outlook prevê pico de emissões globais de CO2 em 2025, mas projeta aceleração de políticas de transição energética

Crise energética pode contribuir para redução de fósseis nas próximas décadas. Na imagem: plataforma com flare aberto, para queima do excesso de gás (Foto: Pixabay)
IEA: choque energético de hoje é um lembrete da fragilidade e insustentabilidade de nosso atual sistema de energia (Foto: Pixabay)

BRASÍLIA — Lançado na última semana, o World Energy Outlook (WEO) da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) indica que a crise energética mundial pode configurar um ponto de virada para as metas globais de descarbonização, com o consumo de fósseis desacelerando ainda nesta década. 

Apesar de projetar um pico de emissões de carbono em 2025 devido à demanda global por combustíveis fósseis, as previsões da IEA apontam que o uso de carvão recuará nos próximos anos, enquanto a demanda de gás natural alcança um platô ao final da década.  

Pela primeira vez, o relatório traz projeções de demanda global para cada combustível fóssil no Cenário de Políticas Declaradas, considerando a atual conjuntura de políticas governamentais para acelerar uma transição energética mais limpa em meio à crise energética ocasionada pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia. 

Nesse panorama, a participação de fósseis cai de cerca de 80% para mais de 60% até 2050.  As emissões de CO2 também apresentam queda de 37 bilhões de toneladas por ano para 32 bilhões de toneladas até 2050. 

Conflitos geopolíticos reorientam mercados

O cenário mundial de eletricidade é vulnerável. Com a Guerra na Ucrânia, as exportações russas caíram, levando ao choque nos mercados de gás natural, de carvão e de eletricidade. 

Com a chegada do inverno, a IEA estima cenário com maior uso do gás, com aumento da demanda global em menos de 5% entre 2021 e 2030, atingindo a estabilidade até 2050. 

Os mercados internacionais passam por constante reorientação para se ajustarem à ruptura dos fluxos Rússia-Europa. Os preços de compra à vista gás natural, por exemplo, ultrapassaram o equivalente a US$ 250 por barril de petróleo.

Apesar disso, os países têm instaurado medidas de curto e longo prazo para proteger os consumidores dos impactos da escassez e dos altos preços.

O Japão, a China, a Índia e os Estados Unidos são alguns dos países com propostas para aumentar a participação de renováveis no mix de energia. Alguns deles estão acelerando mudanças estruturais, procurando aumentar ou diversificar os suprimentos de petróleo e gás.

De acordo com o relatório, até agora, os governos comprometeram mais de US$ 500 bilhões às mudanças, principalmente as nações com economias mais avançadas.

As transformações impulsionaram o investimento global para mais de US$ 2 trilhões por ano até 2030. O valor representa um aumento de mais de 50% em relação a hoje.

Em virtude da crise mundial, o diretor executivo da IEA, Faith Birol, projeta mudanças que estarão presentes por décadas no mercado e nas políticas energéticas.

“Mesmo com as configurações de políticas atuais, o mundo da energia está mudando drasticamente diante de nossos olhos. As respostas governamentais em todo o mundo prometem tornar este um ponto de virada histórico e definitivo em direção a um sistema de energia mais limpo, mais acessível e mais seguro”.

Risco de escassez de gás natural

Nesta quinta (3/11) a agência divulgou um novo alerta de que a Europa enfrentará risco de desabastecimento de gás natural já no próximo ano. 

Devido ao baixo fornecimento de gasodutos russos, os governos europeus deverão adotar ações para evitar uma lacuna de 30 mil milhões de metros cúbicos durante o verão, destinados aos locais de armazenamento de gás.

“Os governos precisam tomar medidas imediatas para acelerar as melhorias na eficiência energética e acelerar a implantação de energias renováveis ​​e bombas de calor”, alerta a agência.

Aposta em renováveis

No WEO, a agência cita ainda que a demanda global de fósseis diminuirá constantemente ao longo de 2020 a 2050, em uma média anual aproximadamente equivalente à produção vitalícia de um grande campo de petróleo. 

Esse declínio será puxado, em parte, pelo aumento da venda de veículos elétricos, o que deve ajudar a estabilizar a demanda de petróleo em meados de 2030. 

As políticas dos governos também trazem perspectivas de aumento para renováveis, já que a melhoria nas taxas de crescimento para energias limpas levariam a uma transformação mais efetiva do que a projetada nesse cenário. Porém, seriam necessárias mais medidas de incentivos.

Ambições climáticas

Ainda que os planos dos governos tragam perspectivas positivas para a transição energética, as medidas ainda serão insuficientes para atingir o limite de 1,5°C ao aquecimento determinado pelo Acordo de Paris. Segundo a agência, as temperaturas globais terão aumento de cerca de 2,5°C até 2100 no Cenário de Políticas Declaradas.

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