Os bloqueios a refinarias e bases de distribuição de combustíveis e os ataques a torres de transmissão de energia, ocorridos no dia 8 de janeiro e nos dias seguintes à invasão de grupos de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro à sede dos Três Poderes, em Brasília, reforçam a tese de que tudo se tratou de um “movimento articulado e coordenado em nível nacional”, na tentativa de “produzir o caos social”.
Essa é a conclusão do relatório final da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro, apresentado nesta terça (17/10) pela presidente da comissão, a senadora Eliziane Gama (PSD/MA).
Conforme antecipado no político epbr, serviço premium de informações sobre política energética da agência epbr (teste grátis por 7 dias), a lista de ataques às torres, compartilhada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) à CPMI – e com ocorrências desde 2020 – incluía desde o uso de armas de fogo até maquinário agrícola, para sabotagem dos equipamentos.
O relatório da CPMI cita a preocupação com o uso de retroescavadeiras ou tratores por parte dos criminosos contra torres de transmissão.
“Em 18 de janeiro de 2023, foi danificada uma torre de transmissão em Pernambuco, na rede da Chesf. Em diligência, a PRF [Polícia Rodoviária Federal] identificou que a base de terra de sustentação de torres danificadas havia sido revirada. Felizmente, nos casos mencionados, não houve problemas de distribuição de energia, que operou em condições de normalidade, devido à redundância nos circuitos ou à não consumação da destruição pretendida”, relata o documento.
Ataques contaram com apoio de militares
De acordo com o relatório, há indícios de que o grupo de vândalos que atacou a sede dos Três Poderes – com a presença de militares em seu quadro – também esteja relacionado aos ataques às torres de transmissão.
O relatório final da CPMI cita, nesse sentido, documento encaminhado pela Polícia Legislativa do Senado Federal, segundo o qual há indícios de que a invasão aos prédios públicos em Brasília, no 8 de janeiro, tenha ocorrido com auxílio de manifestantes que detinham treinamento especializado militar.
Isso, segundo o relatório, leva a crer que os atos golpistas foram, ao menos parcialmente, planejados e executados por forças especiais militares e por membros da reserva.
Ao todo, o relatório da CPMI indicia 61 pessoas, dentre civis e militares. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e parte do seu núcleo de governo estão na lista.
A Comissão também pede o indiciamento de militares das Forças Armadas, como os ex-comandantes da Marinha, Almir Garnier Santos, e do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. Também estão no rol integrantes da Polícia Militar do Distrito Federal, responsável pela segurança da Esplanada dos Ministérios
11 ataques em praticamente duas semanas
O relatório final da CPMI compartilha as informações do Sistema Integrado de Perturbações (Siper), gerido pelo ONS, e aponta que, apenas entre 8 e 24 de janeiro, ocorreram cerca de 11 ataques às torres de transmissão de energia por vandalismo, sendo que:
- quatro torres foram derrubadas (3 em Rondônia e 1 no Paraná)
- e 16 foram danificadas (6 no Paraná, 3 em São Paulo, 6 em Rondônia, 1 em Mato Grosso)
No dia 9 de janeiro, logo após os atos golpistas em Brasília, nove torres foram atacadas, das quais três foram derrubadas (duas em Medianeira/PR e uma em Rolim de Moura/RO).
O relatório da CPMI destaca, com base no relatório de inteligência, que há indícios de sabotagem nos casos.