BRASÍLIA – Análise da Rystad Energy indica que o uso de carvão e as emissões no setor global de energia caminham para atingir o pico em 2023, à medida que novas fontes renováveis e de baixo carbono se expandem.
De acordo com a modelagem da consultoria, o carvão, que dominou o setor global de energia nos últimos 30 anos, começará a entrar em declínio já em 2024, perdendo espaço para eólica e solar.
A expectativa é que o novo suprimento de eletricidade a partir de fontes renováveis supere o crescimento da demanda por energia, levando ao deslocamento do carvão a partir do próximo ano e acentuando essa curva nos anos seguintes.
Como resultado, a geração a carvão é prevista para cair marginalmente para 10.332 terawatt-horas (TWh) em 2024, uma redução de 41 TWh em relação a 2023.
“O uso de carvão no setor de energia está atingindo o pico. A redução na geração total de carvão em 2024 pode parecer pequena no papel, mas indica o início da era da energia renovável no mercado de energia”, comenta Carlos Torres Diaz, vice-presidente sênior da Rystad Energy.
Pico de emissões
Como o carvão é uma fonte energética intensiva em carbono, conforme sua participação na matriz cai, a tendência é que as emissões de CO2 acompanhem o declínio.
Para colocar em perspectiva, uma usina a carvão média emite cerca de 1 tonelada de CO2 por megawatt-hora (MWh), enquanto as usinas a gás emitem cerca de 0,5 toneladas por MWh.
Atualmente, o setor de energia contribui com cerca de 40% de todas as emissões globais de gases de efeito estufa. Por isso, os cientistas insistem na necessidade de substituir as fontes fósseis por alternativas limpas ou de baixo carbono.
De acordo com a análise da Rystad, investimentos em capacidade e uso de carvão diminuíram na Europa e na América do Norte nos últimos anos, devido às políticas de emissões e disponibilidade de suprimentos de gás natural. Desde 1990, Europa e América do Norte reduziram a capacidade de energia a carvão em mais de 200 GW.
No entanto, o crescimento constante na Ásia, principalmente na China, manteve o consumo global de carvão em alta.
“Ainda existem desafios a serem superados em um setor de eletricidade rico em energias renováveis, incluindo questões de intermitência. Por essa razão, as usinas a carvão e gás natural continuarão desempenhando um papel fundamental ao fornecer suprimento básico e flexibilidade”, observa Diaz.
2 TW em 2022
A geração global de energia a carvão aumentou de 4,4 TWh em 1990 para 10,2 TWh em 2022, registrando um aumento de 133%. O crescimento foi impulsionado pela China, mas Índia e outros países asiáticos também contribuíram – o continente é responsável por mais de três quartos da geração mundial de energia a carvão.
A capacidade instalada global aumentou de 856 gigawatts (GW) em 1990 para cerca de 2,1 TW em 2022, com países asiáticos adicionando cerca de 1,4 TW.
Segundo a Rystad, ritmo de novos projetos está diminuindo na região devido a preocupações ambientais.
Além disso, países ao redor do mundo altamente dependentes de carvão, como China, Alemanha e EUA, estão desenvolvendo capacidade renovável rápido o suficiente e com economia favorável para substituir o fóssil.
Como exemplo, a Rystad cita os custos de geração a gás no mercado da Pennsylvania-New Jersey-Maryland Interconnection (PJM) nos EUA, que em 2023 eram a metade dos custos de geração a carvão.
Carvão continuará em alta na Ásia, por enquanto
A Ásia adicionou mais de 40 GW de nova capacidade de carvão anualmente desde 2018 e espera adicionar 52 GW em 2024, volume que supera a capacidade instalada total na Argentina.
A maior parte dessa nova capacidade está na China, seguida pela Índia e Indonésia. A Rystad Energy prevê que as adições de capacidade continuarão até 2027, embora mais lentamente, até entrar em trajetória de declínio.
As taxas de utilização dessas novas usinas serão ditadas pelo crescimento da demanda por eletricidade, capacidade de renováveis e idade e saúde da infraestrutura a carvão em cada país.
Mais de 16% das plantas existentes na região têm 20 anos ou mais, o que significa que uma queda na eficiência ou um aumento nos custos de manutenção e operação está no horizonte, analisa a Rystad.
Segundo a consultoria, novas usinas poderiam substituir essa infraestrutura envelhecida, especialmente em países onde fontes alternativas de geração poderiam ajudar a atender à demanda.