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RIO – Se os investidores pressionaram nos últimos anos pela descarbonização e o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), quem lidera essa agenda agora são os consumidores, afirmou Clarissa Sadock, vice-presidente de Energias Renováveis e ESG da Vibra, durante o seminário O Futuro da Energia Vem de Vibra, apresentado pela agência epbr (veja a íntegra acima).
“Sem dúvida a gente percebe um cliente liderando essa agenda. Eu te diria que, se fosse 5 anos atrás, 4 anos atrás, a gente viu um movimento começando muito na narrativa dos investidores – a famosa carta da BlackRock falando sobre transição energética, economia de baixo carbono. Mas a gente percebe que, de lá para cá, os investidores até baixaram um pouco esse discurso e são os clientes que vêm buscando reduzir a sua pegada de carbono, reduzir o seu escopo 1, seu escopo 2 e também seu escopo 3”, disse a executiva.
“Sem dúvida a gente percebe um cliente cada vez mais exigente, cada vez mais conhecedor do que precisa e faz com que essa venda, que esse nosso trabalho seja cada vez mais consultivo. Então, a gente precisa chegar cada vez mais com clientes com proposta de geração de valor.”
Clarissa Sadock afirma que esse movimento acontece desde o setor de combustíveis, com companhias aéreas que demandam combustível sustentável de aviação (SAF), ao transporte terrestre, com etanol, biodiesel, gás e biometano, passando pela energia elétrica, com eólica e solar, e novas soluções, como a captura de carbono.
Para Márcio Couto, economista-chefe da FGV Energia, o grande desafio é fazer essa transição mantendo preços competitivos.
“Mas eu acho que o mundo caminha para esse dilema: como que a gente consegue substituir o combustível fóssil, que hoje tem uma escala de produção enorme e consegue ter custos extremamente competitivos e difíceis de serem superados, pelo menos até agora, com as alternativas postas? Eu acho que esse é o grande desafio”, disse.
Mercado de carbono
Um dos fatores que pode contribuir para fechar essa equação, segundo ele, é o mercado de carbono.
“E aí eu acho que o carbono tem uma contribuição, esse mercado de carbono tem uma contribuição enorme, porque diferentemente das opções de energia disponíveis, que são muitas, o carbono eu acho que é uma coisa que permite, que há um consenso em torno dele e que permite com que a gente consiga capturar parte desse carbono, reduzindo emissões e fazendo com que esse processo ande mais rápido.”
Couto, no entanto, reconhece que há desafios a serem superados para desenvolver o mercado de carbono, especialmente o regulado. O principal deles é estabelecer as metas e determinar quem serão os responsáveis pelo cumprimento.
Ele cita como exemplo o RenovaBio, programa que obriga as distribuidoras a compensar as emissões dos combustíveis que vendem, em vigor desde 2020. As empresas defendem que a responsabilidade deve ser dos produtores, as refinarias.
“Eu acho que é um programa muito importante, eu acho que o programa tem muitos méritos, mas mostra esse desafio, e eu acho que aproveitar essa experiência do RenovaBio ajudaria o Brasil muito a entender todo o processo, entender as dificuldades, entender os problemas de regulação, ajudaria muito o Brasil a avançar nessa agenda”
No caso do mercado voluntário, os créditos de carbono atuam de forma complementar à gestão das emissões de cada empresa, explica Antonio Carlos Soares de Camargo, diretor da Mesa de Carbono do Grupo Comerc Energia.
“As empresas promovem a descarbonização de suas operações por meio de fontes renováveis, biocombustíveis, eficiência e outras soluções. E recorrem aos créditos de carbono para chegar ao que falta para atingir suas metas de redução”, afirmou Camargo.
“A gente propõe um roadmap de descarbonização, porque a gente sabe que nem todas as soluções são viáveis para o curto prazo. (…). Então, esse roadmap vai ser atualizado todo ano e a gente vai constantemente apresentando as alternativas para os clientes. Com essas soluções, a pegada de carbono do cliente, da empresa, ela cai, mas não necessariamente são capazes de zerar por completo. Aí entra o crédito de carbono, por meio da mesa de carbono, no qual a gente dá a alternativa para o consumidor compensar as emissões residuais e da forma que melhor, que fizer mais sentido.”