O maior projeto de transmissão de energia elétrica submarino do mundo, o “Viking Link”, entrou em operação na última sexta-feira (29/12), com a conexão entre os sistemas elétricos da Dinamarca e do Reino Unido.
Com 765 quilômetros de extensão e capacidade para uma corrente contínua de 1.400 megawatts (MW), o projeto no Mar do Norte viabiliza a importação pelos britânicos da energia gerada a partir de fontes renováveis na Dinamarca, sobretudo eólica e solar.
O objetivo é dar maior flexibilidade e segurança ao sistema elétrico de ambos os países, com um uso mais eficiente das renováveis intermitentes e menores custos.
Entenda a seguir a importância do projeto:
O que é o Viking Link?
Nomeada em referência ao trajeto feito pelos povos nórdicos em direção ao sul da Europa a partir do século VIII, a linha de transmissão conecta a subestação de Revsing, no sul da região da Jutlândia, Dinamarca, à subestação Bicker Fen, em Lincolnshire, na costa inglesa.
Qual é o tamanho do projeto?
Em construção desde 2019, o Viking Link tem investimentos estimados em 1,7 bilhão de libras esterlinas (R$ 10,6 bilhões) e inclui a instalação de cabos terrestres e submarinos de alta voltagem, além de transmissores, para ligar a subestação inglesa à dinamarquesa. A tensão é de 525 kilovolts (kV).
Para concretizar a conexão de 756 km entre os dois países, foram utilizados 1.400 km de cabos de transmissão, dos quais 1.250 km estão no mar.
Quais são as empresas envolvidas?
A linha é operada por uma joint venture entre a National Grid, empresa britânica de distribuição e transmissão, e a Energinet, operador do sistema elétrico dinamarquês.
As linhas terrestres foram fornecidas pela fábrica sueca da NKT. Já os cabos marítimos foram produzidos na fábrica do grupo Prysmian na Itália, num contrato de fornecimento de 700 milhões de euros (R$ 3,7 bilhões).
Ao todo, foram realizadas sete campanhas de instalação dos cabos ao longo de 900 dias, com o uso de dois navios de instalação avançada de cabos submarinos, as embarcações Leonardo Da Vinci e Cable Enterprise, da Prysmian.
Os conversores e outros equipamentos elétricos foram fornecidos pela Siemens.
Quais os desafios de um projeto dessa escala?
A rede do Viking Link atravessa as zonas econômicas exclusivas de quatro países: Inglaterra, Holanda, Alemanha e Dinamarca. Segundo a Prysmian, cada região tem legislações e reguladores distintos, o que exigiu um amplo diálogo para viabilizar o projeto.
Além disso, a rede passa por 40 outros cabos, como gasodutos e outras linhas de energia, o que também exigiu cuidados adicionais.
Outro fator de dificuldade foi a pandemia de covid-19, que eclodiu em 2020, momento em que os cabos estavam em fabricação na Itália, um dos países mais atingidos no início da crise sanitária.
Qual é o impacto da entrada em operação?
Inicialmente, a linha vai operar com capacidade para importação de 800 MW de energia e a expectativa é que ao longo de 2024 o projeto atinja a capacidade máxima, de 1.400 MW.
Segundo os operadores, a previsão é que o Reino Unido consiga reduzir em 600 mil toneladas as emissões de carbono no setor de energia apenas este ano, com a importação de energias de fontes renováveis por meio da rede.
O volume é o equivalente às emissões de 280 mil carros.
Qual é a importância do projeto para a transição energética?
A previsão é que a energia importada pela Inglaterra por meio do Viking Link seja suficiente para atender o consumo de 2,5 milhões de casas e gere uma economia de 500 milhões de libras em dez anos, dado que o custo será mais baixo do que a energia gerada no próprio país.
A Dinamarca é uma grande geradora de energia renovável, com 67% do consumo de eletricidade do país atendido por fontes limpas, principalmente eólica, solar e termelétricas a biomassa. Por meio do Viking Link, parte da geração renovável do país escandinavo vai poder ser escoada para o Reino Unido.
Uma das principais apostas dos britânicos para atingir a meta de neutralidade nas emissões de carbono até 2050 é o uso de fontes limpas de energia.
No terceiro trimestre de 2023, dados mais recentes divulgados pelo governo do Reino Unido, as fontes renováveis foram responsáveis por 44,5% da energia elétrica gerada no país, a partir sobretudo de energia solar e de eólicas onshore e offshore.