Diálogos da Transição

Como as empresas brasileiras estão migrando para a economia verde

Relatório do CEBDS mostra caminhos do setor empresarial na transição energética

Na imagem, parque eólico Lagoa dos Ventos V (399 MW) da Enel Green Power Brasil, em Dom Inocêncio, no Piauí (Foto: Enel/Divulgação)
Parque eólico Lagoa dos Ventos V (399 MW) da Enel Green Power Brasil, em Dom Inocêncio, no Piauí (Foto: Enel/Divulgação)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
[email protected]

A corrida global por produtos mais sustentáveis e energia de baixo carbono abre um universo de possibilidades para as empresas brasileiras e elas estão se preparando para isso, mostra uma pesquisa divulgada nesta quinta (18/5) pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

O CEBDS tem participado das conversas com o governo para construção do pacote verde, previsto para ser lançado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), nas próximas semanas.

“Dentro do pacote verde, um dos seis elementos centrais é a transição energética justa e o adensamento tecnológico, como o setor energético pode impulsionar a descarbonização trazendo geração de empregos verdes e o descolamento do PIB das emissões de gases de efeito estufa”, explicou Viviane Romeiro, diretora de Clima, Energia e Finanças Sustentáveis do CEBDS durante evento de divulgação do estudo.

documento (.pdf) analisa 22 entrevistas com representantes de empresas de segmentos distintos, como mineração, alimentos e bebidas, cimento, aço, transporte aéreo, gestão ambiental, energia e indústria automotiva.

Em comum, identificou pelo menos três estratégias: busca por maior eficiência operacional como forma de reduzir emissões de Escopo 1, consumo de energia elétrica produzida 100% a partir de fontes renováveis (Escopo 2) e imposição de requisitos de boas práticas socioambientais para a cadeia de fornecedores (Escopo 3).

Azul, por exemplo, busca reduzir suas emissões a partir da renovação da frota para ter aeronaves mais eficientes e leves, além de otimização de rotas e aeronaves. O foco de curto prazo é a substituição por aviões de última geração, de 20 a 30% mais eficientes.

A companhia observou uma redução de 19% no consumo de combustível por assento-quilômetro disponível entre 2016 e 2021.

Na distribuição de produtos, a Ambev está aumentando a eficiência em parceria com JBS, Minerva e Unilever no projeto de Frota Compartilhada. As empresas dividem o espaço de carregamento dos caminhões para usar toda a capacidade e otimizam as rotas de entrega, o que reduz o consumo de combustível e as emissões.

Recentemente, a cervejaria instalou um eletroposto em parceria com a Raízen para recarga rápida de seus 20 caminhões elétricos.

No Escopo 3, o mais difícil de atuar porque envolve decisões de terceiros, as empresas estão adotando uma diversidade de políticas: de prêmios e incentivos às boas práticas, até a definição de requisitos compulsórios que precisarão ser atendidos nos próximos anos.

É o caso da Toyota, que possui metas de redução de emissões próprias e para sua cadeia de suprimentos. Para isso, promove avaliações e premiações com os fornecedores, além de trocar experiências de iniciativas de descarbonização com fornecedores como a Bosch, que já é neutra em carbono.

Mas é como potencial fornecedor de energia para o mundo que o Brasil se destaca.

Segundo o relatório, no caso das empresas com operações globais, o Brasil é percebido como um país com grandes oportunidades para o atendimento de metas de redução de emissões globais e investimento em fontes renováveis.

“Estas possibilidades são especialmente interessantes para as empresas de óleo e gás que vêm migrando seus negócios para se tornarem empresas integradas de energia”, observa o documento.

Aqui no Brasil, as petroleiras Equinor, TotalEnergies e Shell concentram 22% do total de projetos eólicos offshore com pedidos no Ibama, em potência instalada.

“O Brasil pode aproveitar sua capacidade de expansão de fontes renováveis para exportar produtos que deverão ser fortemente demandados globalmente, como o hidrogênio verde e combustíveis sintéticos”, continua.

Para destravar investimentos e colocá-los na rota de baixo carbono, a demanda é política pública. As expectativas em relação ao governo Lula (PT) são altas, e com motivo.

Dos 37 ministérios da gestão atual, 17 têm secretarias ou departamentos dedicados à agenda de mudança do clima. E os temas sustentabilidade, reindustrialização verde e transição energética são recorrentes nos discursos tanto do presidente da República quanto de seus ministros.

“O Brasil é um dos poucos países que não precisa de nova tecnologia para avançar ainda mais [na transição energética], mas a gente precisa acelerar esse caminho”, defende Marina Grossi, presidente do CEBDS.

Ela explica que, superado o desafio de acabar com o desmatamento – que responde pela maior parte das emissões brasileiras –, o setor energético será a chave para o Brasil cumprir seus compromissos climáticos.

E as empresas já estão em suas trajetórias zero líquido até 2050. Mas apontam que, em muitos casos, o país precisa desenhar a regulação e mecanismos para viabilizar o início do mercado.

“Um caso nítido é o das eólicas offshore: apesar de uma oferta enorme ter sido apresentada pelo setor elétrico, a regulação ainda precisa ser estabelecida considerando-se requisitos, compartilhamento de infraestrutura de transmissão, requisitos para o licenciamento ambiental, dentre outros”, exemplifica o relatório.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Lula e o financiamento climático no G7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a Hiroshima, no Japão, onde participa como convidado da Cúpula do G7, a primeira que o Brasil participa desde 2009. Na bagagem, a intenção de cobrar os países mais ricos por investimentos em meio ambiente, e retomar as conversas sobre a paz na Ucrânia.

O presidente brasileiro já tem três reuniões bilaterais previstas: com os primeiros-ministros do Japão, Fumio Kishida, e da Índia, Narendra Modi, e com o presidente da Indonésia, Joko Widodo. Reuters

Ibama nega licença na Foz do Amazonas

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, acompanhou parecer técnico concluído em 20/4 e indeferiu nesta quarta-feira (17/05) licença solicitada pela Petrobras para Atividade de Perfuração Marítima no bloco FZA-M-59, na bacia da Foz do Amazonas.

Segundo o órgão, “a decisão, que ocorre em função do conjunto de inconsistências técnicas, segue recomendação de analistas da Diretoria de Licenciamento Ambiental do Ibama”. Confira a repercussão

Desastre ambiental de US$ 12 bi

Um estudo sobre a poluição causada pela extração de petróleo no estado de Bayelsa, na Nigéria, calcula que serão necessários pelo menos US$ 12 bilhões para descontaminar o solo e as águas subterrâneas, onde a presença de substâncias tóxicas está mais de um milhão de vezes acima dos limites de segurança.

A britânica Shell e a italiana Eni, que operam há décadas no estado, foram responsabilizadas pelo órgão regulador nigeriano NOSDRA pela maioria dos derramamentos de petróleo. Contaminantes altamente tóxicos que causam queimaduras, problemas pulmonares e risco de câncer foram detectados por toda parte do território. Veja o relatório (.pdf)

Incentivo para fertilizantes de H2 verde

A Câmara dos Vereadores de Uberaba (MG) aprovou esta semana a concessão de um terreno do poder público para o projeto da Atlas Agro de construção de uma fábrica de fertilizantes a partir do hidrogênio verde no município.

Os vereadores também aprovaram incentivos fiscais para o empreendimento, incluindo remissão do IPTU, isenção de ISSQN sobre os serviços de engenharia e redução de outros impostos.

Combate ao garimpo ilegal

USP e Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) assinaram um convênio nesta quinta (18) para expandir a ferramenta online e gratuita que monitora a origem do ouro comercializado no Brasil. A plataforma, disponível em pcro.com.br, consegue identificar fonte de procedência e diferenciar o ouro legal do ilegal.

O Ibram também vai propor a órgãos de controle que exijam uso de plataforma da USP em todas as negociações com ouro. Segundo, Raul Jungmann, diretor-presidente do instituto, a ferramenta é um passo importante para combater a destruição e mortes que o garimpo ilegal promove em regiões como a Amazônia.