Bio vs. refino

'Vitrine para fóssil': frente do biodiesel critica coprocessado da Petrobras na COP30

Para FPBio, escolha do coprocessado desconsidera esforços e propostas apresentadas pelo setor de biocombustíveis

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Presidente da Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio), Alceu Moreira, à tribuna, fala durante sessão plenária, em 16 de julho de 2025 (Foto Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Presidente da FPBio, Alceu Moreira (MDB/RS), à tribuna, fala durante sessão plenária, em 16 de julho de 2025 (Foto Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

BRASÍLIA — A Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio) divulgou uma nota nesta quinta (6/11) manifestando “preocupação e indignação” com a decisão da organização da COP30 de utilizar diesel coprocessado da Petrobras nos ônibus e geradores da cúpula do clima.

Os comentários ocorrem dois dias após a petroleira anunciar um acordo com a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) para uso de diesel S10 com 10% de conteúdo renovável na frota de ônibus dedicada e nos geradores de energia elétrica do evento — vencendo uma disputa com o setor de biodiesel.

“O chamado ‘diesel R’ ou HBIO é produzido a partir do petróleo, com adição de fração renovável por meio de coprocessamento. Diferentemente do biodiesel, esse produto não é renovável por definição legal”, critica a frente presidida pelo deputado Alceu Moreira (MDB/RS).

A Petrobras faz um coprocessamento de óleo vegetal com petróleo nas refinarias. A biomassa entra como conteúdo renovável no “Diesel R”, marca adotada pela petroleira. Pela lei, a parcela não é válida para atendimento à mistura obrigatória, cativa dos produtores de biodiesel — direito que a Petrobras luta para assegurar.

A rede de parlamentares, que conseguiu bloquear no Congresso Nacional as tentativas da Petrobras de incluir o coprocessado entre as definições de biodiesel e no mandato de renováveis para o ciclo diesel, também critica as tentativas da petroleira de vender a solução como verde.

“A estatal tem insistido em classificá-lo como tal para efeitos comerciais, podendo até ser caracterizado como um caso de ‘Greenwashing‘, o que pode afetar a imagem do Brasil como protagonista de transição energética às vésperas da principal conferência climática do planeta”, diz a nota (.pdf).

Em agosto, FPBio e produtores de biodiesel entregaram ao Enviado Especial para a Agricultura, Roberto Rodrigues, uma proposta para viabilizar o uso de 100% do combustível renovável (B100) em geradores estacionários e B25 (diesel com 25% de biodiesel) na frota de transporte coletivo durante a organização, realização e desmonte da cúpula climática.

O produto da Petrobras, no entanto, venceu a concorrência.

Na nota, a FPBio calcula que esta escolha terá um impacto nas emissões de gases de efeito estufa do evento, que pode chegar a 3 mil toneladas de CO2 pela queima de diesel fóssil.

“A COP30 vai gerar pelo menos 300 toneladas de CO₂ apenas com o uso de geradores e climatização, número que pode chegar a 3.000 toneladas caso o diesel fóssil seja priorizado. Tudo isso, enquanto desprestigia o combustível limpo, renovável, regulado e 100% nacional”, criticam.

COP30 é só um capítulo

Mais do que a disputa por uma vitrine na cúpula climática global, a briga entre Petrobras e produtores de biodiesel é pelo mercado nacional de diesel.

Durante a discussão da lei do Combustível do Futuro, que aumentou a mistura de biodiesel no diesel e criou um mandato para o diesel verde (HVO), a petroleira buscou inserir seu produto entre as alternativas para descarbonizar o transporte pesado, mas foi vencida pelo lobby do agro.

Em declarações recentes, a presidente da estatal, Magda Chambriard, disse que a companhia pretende retomar, em 2026, a discussão junto ao governo e Congresso sobre uma política pública para o seu diesel patenteado no início dos anos 2000 como HBIO.

E deve, novamente, enfrentar resistências. “A escolha pela exclusão do biodiesel na COP30 não é técnica, nem ambiental, é política e mercadológica, e visa abrir caminho para a imposição de um produto que o Congresso Nacional já rejeitou como solução energética”, pontua a nota da FPBio.

A Petrobras não respondeu imediatamente ao pedido de comentários. O espaço segue aberto.

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