RIO — Em mais um movimento de sanção à Rússia pela invasão à Ucrânia, a Comissão Europeia propôs nesta terça (8/3) um esboço de um plano para tornar a Europa independente dos combustíveis fósseis russos antes de 2030, começando pelo gás natural.
Hoje, a União Europeia (UE) importa quase 90% do gás natural utilizado para aquecimento e geração de eletricidade na região, sendo 45% proveniente da Rússia. O plano chamado RePowerEU (em inglês) espera reduzir a demanda da UE por gás russo em dois terços antes do final do ano.
Uma análise da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) divulgada na semana passada, indicava que a União Europeia poderia reduzir suas importações de gás natural russo em mais de um terço no prazo de um ano.
A Rússia também responde por cerca de 25% das importações de petróleo e 45% das importações de carvão.
“Devemos nos tornar independentes do petróleo, carvão e gás russos. Simplesmente não podemos confiar em um fornecedor que nos ameace explicitamente. Precisamos agir agora para mitigar o impacto do aumento dos preços da energia, diversificar nosso suprimento de gás para o próximo inverno e acelerar a transição para energia limpa”, disse a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.
A estratégia principal será acelerar a implantação de gases renováveis para substituir o gás, tema sobre o qual a Comissão já estava debruçada. Para isso, o plano prevê um aumento das importações de gás natural liquefeito (GNL) de fornecedores não russos e maiores volumes de produção e importações de biometano e hidrogênio renovável.
Para Ursula, essa poderá ser mais uma oportunidade para acelerar a transição energética e garantir a soberania energética da região.
“Quanto mais rápido mudarmos para energias renováveis e hidrogênio, combinados com mais eficiência energética, mais rápido seremos verdadeiramente independentes e dominaremos nosso sistema de energia. Discutirei as ideias da Comissão com os líderes europeus em Versalhes no final desta semana e, em seguida, trabalharei para implementá-las rapidamente com minha equipe.”
Aumento dos estoques de gás e contenção no preço de energia
O RePowerEU também define uma série de medidas emergenciais para reabastecer os estoques de gás para o próximo inverno e limitar o efeito de contágio dos preços do gás nos preços da eletricidade. O movimento de alta nos preços de energia na Europa já vinha ocorrendo muito antes do início da guerra.
A Comissão pretende apresentar até abril uma proposta legislativa exigindo que o armazenamento subterrâneo de gás em toda a UE seja preenchido até pelo menos 90% da sua capacidade até 1 de outubro de cada ano.
O Comissário para a Energia, Kadri Simson, afirmou que a invasão da Ucrânia pela Rússia agravou a situação de segurança do abastecimento e levou os preços da energia a níveis sem precedentes.
“Para as semanas restantes deste inverno, a Europa tem quantidades suficientes de gás, mas precisamos reabastecer nossas reservas com urgência para o próximo ano (…) Também delineamos a regulação de preços, auxílios estatais e medidas fiscais para proteger as famílias e empresas europeias contra o impacto dos preços excepcionalmente altos”, disse Simson.
EUA vão interromper importação de óleo, carvão e gás da Rússia
O presidente dos EUA anunciou nesta terça (8/3) que serão interrompidas todas as importações para o país de óleo, carvão e gás natural da Rússia, em resposta à invasão da Ucrânia.
“Não vamos subsidiar a guerra de Putin”, disse.
Biden reconheceu que a decisão terá impacto nos consumidores domésticos e disse ter comunicado a decisão a aliados internacionais.
A especulação sobre o corte de importações russas, pelos EUA, já tinha feito os preços do barril de petróleo bater US$ 139 no mercado de curto prazo na segunda (7/3); hoje, a cotação do Brent voltou a atingir US$ 133 até o fechamento deste texto.
“Significa que o petróleo russo não será mais aceitável nos portos dos EUA e o povo americano dará outro golpe poderoso na máquina de guerra do Putin”, disse Biden a jornalistas na Casa Branca.
Exportações do óleo russo
Em 2020 a Europa foi a maior consumidora das exportações do óleo bruto e condensado da Rússia (48%), particularmente a Alemanha, a Holanda e a Polônia, segundo a agência americana EIA.
Já Ásia e Oceania representaram 42% do total das exportações russas. A China foi o maior país importador, com 31%.
Cerca de 1% das exportações totais foram para os Estados Unidos.
As empresas nacionais controlam a maioria da produção de petróleo da Rússia. Segundo a agência, aproximadamente 81% de todo o petróleo bruto do país em 2020 veio das russas Rosneft, Lukoil, Surgutneftegas, Gazprom e Tatneft.
Em 2021, as importações líquidas de petróleo e derivados da Rússia, pelos EUA, totalizou em média 672 mil barris/dia, volume crescente desde 2014, quando o saldo foi de 329 mil barris/dia. Atualmente o óleo russo representa 8% do consumo americano.