Suspensão do leilão de biodiesel reacende discussão preço

Preço do biodiesel pode impactar em R$ 0,31 o diesel, dizem importadores

Greve de caminhoneiros causa desabastecimento de combustível em postos de gasolina da cidade de Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro.
Greve de caminhoneiros causa desabastecimento de combustível em postos de gasolina da cidade de Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro.

O 79º Leilão de Biodiesel (L79) – destinado à comercialização do produto para abastecer o mercado em maio e junho – segue suspenso nesta quarta (7) e levanta questionamentos acerca dos impactos do preço do biodiesel no custo final do diesel.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou a suspensão no final da manhã de ontem da Etapa 3A, atendendo a uma solicitação do Ministério de Minas e Energia (MME). Veja o aviso (.pdf)

Embora ANP e MME não tenham se manifestado sobre os motivos, a suspensão ocorreu após o preço do biodiesel ofertado chegar a R$ 7,50 por litro na etapa.

A Etapa 3A, que acontece pela primeira vez nos leilões, é dedicada exclusivamente aos pequenos produtores de biodiesel. Quando os negócios foram interrompidos, cerca de 61 mil m³ haviam sido comercializados, segundo informações publicadas pelo Money Times.

É uma pequena parcela do total de 1,5 milhão de m³ do biocombustível que está disponível para negociação no L79.

Ainda assim, se seguir a tendência observada nesta fase, o impacto no preço do diesel na bomba pode ser superior a R$0,31/litro, estima Sérgio Araújo, da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

“Temos alertado que o preço do diesel a partir de maio terá um aumento significativo, e poderá provocar nova reação dos consumidores, em especial os caminhoneiros, além de pressionar a inflação”, diz.

A associação defende a abertura do mercado para importação, o que deve acontecer no ano que vem com as mudanças em estudo no MME para o novo modelo de comercialização de biodiesel.

“A pressão no ano passado era pela falta de oferta, já que grande volume de soja foi exportado. Agora, o problema maior é o preço”, avalia Araújo.

Procuradas, outras associações setoriais preferiram não se manifestar até o momento.

[sc name=”adrotate” ]

PMR e óleo de soja

Apesar de significativamente mais alto que valor do litro de diesel de petróleo, o preço do renovável está em conformidade com o PMR (preço máximo de referência) estabelecido pela ANP para este certame, que varia de R$ 7,42 a R$ 7,86/litro dependendo da região e do uso ou não de matéria-prima da agricultura familiar.

O cálculo acompanha, dentre outros indicadores, a cotação do óleo de soja, principal matéria-prima do biodiesel.

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA-Esalq/USP, a demanda por óleo de soja esteve firme no último mês e as indústrias mostraram interesse maior em exportar em detrimento de vender no mercado doméstico.

O preço na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS incluso) subiu 17,8% entre fevereiro e março, a R$ 7.045,66/tonelada no último mês, bem acima dos R$ 3.542,25/tonelada na média de março do ano passado.

Impasse pressiona governo

Além do biodiesel, outros fatores estão contribuindo para pressionar o diesel — combustível mais usado no Brasil –, como a desvalorização do real frente ao dólar e as oscilações no mercado de petróleo, já que a Petrobras acompanha as cotações internacionais.

Em 1º de maio, pela previsão atual, voltarão a incidir impostos federais sobre o diesel de origem fóssil.

A pressão nos preços alcança a popularidade do governo, que em março chegou a zerar a cobrança de PIS/Cofins sobre o diesel, por um período de dois meses – conta paga por instituições financeiras, indústria química e pessoas com deficiência.

Na mesma medida, o governo zerou indefinidamente o imposto federal do GLP vendidos para consumidores domésticos (P-13), em ação combinada que deve custar mais de R$ 3 bilhões este ano.

Outra tentativa direta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em evitar um desgaste maior – especialmente entre os caminhoneiros – foi propor a unificação a cobrança de ICMS sobre combustíveis nos estados.

A cobrança seria feita por unidade de medida, de volume ou peso, no estado de destino do consumo e de forma unificada em todo o país, antecipando um debate da reforma tributária.

Mas, diante da falta de apoio parlamentar para aprovação, o governo recuou e retirou o pedido de urgência para votação da proposta, que deve ficar “na geladeira” nas duas comissões em que precisa tramitar, segundo avaliação de parlamentares.

[sc name=”newsletter” ]