RIO — O preço pago pelo consumidor brasileiro pelo diesel e pela gasolina se tornou, nas últimas semanas, mais caro que a média mundial.
No centro da crise que levou à troca do comando da Petrobras, o reajuste dos combustíveis anunciado pela estatal em março, nas refinarias, foi o ponto de inflexão. Até então, os preços dos derivados, nos postos, estavam abaixo da média global, de acordo com dados do GlobalPetrolPrices, site de pesquisa de mercado que monitora 170 países diferentes.
O levantamento mostra que o litro do diesel no Brasil, em dólar, custa na média US$ 1,434, patamar 9,4% acima da média mundial, de US$ 1,31. Já o litro da gasolina é negociado, no mercado doméstico, a US$ 1,567, valor 16% maior que a média dos demais países.
A pesquisa considera a média de preços em cada país, convertida para dólar. Os números mais atualizados são de 4 de abril. Os dados, porém, não incluem a paridade de poder de compra, ou seja, não refletem os diferentes custos de vida nos países.
A gasolina no Brasil é mais cara?
De acordo com o GlobalPetrolPrices, O Brasil ganhou, em um mês, quase 30 posições no ranking dos combustíveis mais caros do mundo.
O levantamento mostra que o mercado brasileiro tem o 61º preço mais alto para o diesel entre os 170 países analisados. Há um mês, antes do reajuste anunciado pela Petrobras, estava na 90º posição do ranking.
No caso da gasolina, o Brasil tem hoje o 53º preço mais caro do mundo, ante a 81ª posição ocupada há um mês.
Em geral, os combustíveis mais baratos são encontrados nos países grandes produtores, membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), como Arábia Saudita, Irã, Líbia, Argélia e Venezuela.
Já entre os combustíveis mais caros estão, em geral, nos países europeus, onde a carga tributária é mais pesada, com destaque para Noruega, Suécia, Finlândia, Países Baixos e Mônaco (cidade-estado).
O peso da Petrobras
Desde 2016, a estatal passou a alinhar seus produtos à paridade de importação. Essa precificação aumentou a exposição do país às oscilações do mercado internacional, nos últimos anos, e é alvo de críticas tanto da oposição quanto do próprio governo.
O preço praticado pela estatal é o item de maior peso na composição final dos preços dos combustíveis.
No Brasil, os impostos (federais e estaduais) representam 33% do preço final da gasolina. Já o preço cobrado pela Petrobras nas refinarias responde por 39%, segundo a própria petroleira.
No caso do diesel, a desoneração é maior e, enquanto os tributos respondem por 11% do preço final, a parcela Petrobras representa 61% do produto. O restante do preço é composto pelas margens dos distribuidores e revendedores e pelo custo de adição dos biocombustíveis (o biodiesel no diesel e do etanol anidro na gasolina).
Preços no holofote da crise
O reajuste de 18,7% da gasolina e de 24,9% do diesel, anunciado pela Petrobras no dia 10 de março, foi o estopim para a demissão do general Joaquim Silva e Luna da presidência da estatal.
Pressionado politicamente pela inflação dos combustíveis, Bolsonaro decidiu trocar — pela segunda vez em seu governo — o comando da Petrobras. Em 2021, o presidente da República já havia substituído o economista Roberto Castello Branco por Silva e Luna e cobrou da companhia um “olhar social” para os preços dos derivados.
Durante a gestão do general, a companhia reduziu a frequência de reajustes e chegou a segurar aumentos por quase dois meses no início deste ano, entre janeiro e março, diante da escalada dos preços internacionais após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A estatal, porém, continuou a seguir, na essência, o comportamento do mercado global durante a gestão de Silva e Luna. O reajuste anunciado em março ocorreu num momento em que Bolsonaro pressionava a estatal a segurar os reajustes por mais tempo, na expectativa de que a cotação do petróleo começasse a ceder.
Para o lugar de Silva e Luna, o governo indicou, num primeiro momento, o consultor Adriano Pires. O economista, porém desistiu da indicação, sob a alegação de que não conseguiria se desligar de sua consultoria — o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) — em “tão pouco tempo”.
A indicação de Pires vinha sendo questionadas por suposto conflito de interesses na gestão da petroleira, dado o seu histórico como consultor.
José Mauro Ferreira Coelho foi indicado pelo governo, então, como novo presidente da Petrobras. O nome será referendado na próxima assembleia de acionistas da estatal, marcada para 13 de abril.
O novo presidente da petroleira, contudo, tem um passado de discursos favoráveis ao alinhamento de preços do diesel e gasolina ao mercado internacional. Em entrevista à agência epbr, em 2021, enquanto ainda era secretário de petróleo e gás do Ministério de Minas e Energia (MME), Coelho disse que seguir a lógica do preço de paridade de importação (PPI) é fundamental para um país dependente das importações de combustíveis como o Brasil.