RIO — A Petrobras anunciou uma nova redução, dessa vez de 3,9%, no preço do litro da gasolina vendida às distribuidoras. O ajuste é válido a partir de sexta-feira (29/7), nas refinarias. O preço do diesel foi mantido inalterado.
Trata-se da segunda redução seguida nos preços da gasolina, pela Petrobras, em menos de dez dias. Na semana passada, a companhia já havia cortado em 4,9% o preço do derivado.
Com a nova baixa, a Petrobras passa a vender o litro da gasolina, nas refinarias, a R$ 3,71 por litro, uma redução de 15 centavos.
Segundo a empresa, considerada a mistura obrigatória de 27% de etanol anidro à gasolina comum comercializada nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 2,81, em média, para R$ 2,70 a cada litro vendido na bomba.
A petroleira justificou que a redução “acompanha a evolução dos preços de referência, que se estabilizaram em patamar inferior”.
A Abicom, que representa os importadores privados, estima que a Petrobras praticava, até o fechamento do mercado, ontem (27/7), preços 7 centavos acima da paridade de importação.
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Repasse mais rápido
As reduções seguidas no preço da gasolina sugerem uma mudança no comportamento da companhia, sob a gestão de Caio Paes de Andrade. O novo presidente da petroleira ocupa o cargo há, exatamente, um mês.
Em dez dias, já são dois cortes nos preços do derivado — que acumulam uma baixa de 8,6%.
A queda coincide com a desvalorização do petróleo no mercado internacional, nas últimas semanas.
A Petrobras tem sido, contudo, mais rápida em repassar as quedas de preços do mercado internacional.
Nos momentos de alta dos preços internacionais, a estatal chegou a ficar 99 dias sem reajustar a gasolina.
O fator eleitoral
O corte no preço do derivado acontece também em meio à pressão do presidente para que a estatal reduza os seus preços, às vésperas das eleições.
A pesquisa BTG Pactual/FSB, divulgada na segunda-feira (25/7), revela que a maioria da população brasileira já percebe a queda do preço nos postos das últimas semanas. Mas a conversão de eleitores ainda não ocorreu.
Bolsonaro tenta se desvencilhar da inflação dos combustíveis dos últimos meses, como reflexo da guerra da Ucrânia, e, agora, busca se capitalizar com a redução dos preços — possível, sobretudo, graças ao cortes de impostos federais e estaduais.
Segundo a pesquisa BTG/FSB, o presidente Jair Bolsonaro (PL) é o principal responsável pela redução dos preços para 38% dos entrevistados — à frente da Petrobras (20%), dos governos estaduais (15%) e do Congresso Nacional (12%) nesse quesito. Nos momentos de alta dos preços, Bolsonaro vinha sendo apontado pela opinião pública como o principal culpado pela inflação.
“Embora parte da opinião pública reconheça no governo federal a assinatura da medida [de redução dos preços dos combustíveis], a conversão em novos eleitores para Bolsonaro ainda não ocorreu. A explicação para isso pode estar na rejeição do presidente, que se mantém alta e estável”, explica o diretor do FSB Pesquisa, André Jácomo.
A pesquisa eleitoral BTG/FSB mostra Lula (PT) à frente no primeiro turno, com 44% das intenções de voto, ante 41% do levantamento anterior (11/07). Já Bolsonaro caiu de 32% para 31%, dentro da margem de erro (de 2 p.p.). No segundo turno, Lula tem 54% das intenções de voto e Bolsonaro, 36%.
Os preços dos combustíveis são tema caro à campanha do ex-presidente petista. Lula disse ontem, novamente, que irá alterar a política da Petrobras atrelada ao mercado internacional. E afirmou que pensa em aplicar uma política “que seja em função dos custos nacionais”.
Cautela no diesel
Esta é a segunda vez que a Petrobras reduz o preço da gasolina este mês, sem, contudo, mexer no valor do diesel nas refinarias.
E o pacote de desoneração dos combustíveis não tem sido suficiente para baratear significativamente o derivado. Isso porque o diesel já estava com impostos federais zerados. Além disso, no caso do diesel, a alíquota do ICMS praticada pelos estados já era, em média, mais baixa que o teto.
A Abicom estima que, ao fim do dia, ontem, a Petrobras ainda praticava preços ligeiramente acima da referência internacional, com prêmio de 10 centavos – o que, em tese, daria à Petrobras margem para diminuir o preço nas refinarias.
Há no mercado hoje, contudo, uma preocupação com os riscos de desabastecimento nos próximos meses, quando o consumo no país aumenta, por causa do escoamento da safra brasileira. Diante de um cenário de escassez de produto no mercado internacional, manter a atratividade da importação é importante.