Combustíveis e Bioenergia

Petrobras nega relação entre falta de reajustes e perdas no refino

Cláudio Schlosser afirma que queda nas margens globais afetam todo o setor

Petrobras não teve perda de dinheiro no refino pela falta de reajustes diante da volatilidade. Na imagem: Refinaria Abreu e Lima (Rnest), localizada no Porto de Suape, em Pernambuco, ao anoitecer com as luzes das instalações acesas (Foto: Agência Petrobras)
Refinaria Abreu e Lima (Rnest), localizada no Porto de Suape, em Pernambuco (Foto: Agência Petrobras)

RIO – A queda nas margens do refino da Petrobras no segundo trimestre de 2023 na comparação anual foram resultado da redução dos preços do petróleo no mercado internacional, afirmaram os diretores executivos da estatal em conversas com analistas a jornalistas, nesta sexta (4/8).

Assim, afirmam que não há relação com a nova estratégia comercial da companhia para os preços de combustíveis.

O diretor executivo de logística, comercialização e mercados da Petrobras, Cláudio Schlosser, ressaltou que houve uma queda global no crack spread (a margem do refino, medida pela diferença entre o preço do derivado e o do petróleo bruto).

Segundo ele, nos trimestres anteriores, as margens estavam altas por causa dos efeitos da guerra entre Ucrânia e Rússia.

“Mas isso não afeta apenas a Petrobras, mas a indústria como um todo”, disse durante entrevista coletiva hoje (4/8).

A Petrobras registrou lucro líquido de R$ 28,8 bilhões no segundo trimestre de 2023, queda de 47% na comparação anual.

No segmento de refino, transporte e comercialização, o lucro operacional foi de R$ 2,9 bilhões, redução de 85,6% em relação ao segundo trimestre de 2022.

Novo cenário de abastecimento

No período, segundo trimestre sob a nova administração de Jean Paul Prates, a companhia começou materializar as estratégias que vinham sendo anunciadas: elevou a produção nacional de combustíveis e mudou a precificação da gasolina e do diesel.

Houve um aumento do fator de utilização do parque de refino da Petrobras no trimestre, que chegou a 93%, o melhor desde 2015.

Segundo o diretor executivo de processos industriais e produtos da Petrobras, William França, o fator de utilização pode ficar ainda mais alto nos próximos trimestres, dado que algumas unidades estavam paradas programadas no segundo trimestre do ano.

A nova estratégia substituiu o uso da paridade de preço de importação (PPI) na definição das cotações de combustíveis e leva em consideração fatores adicionais aos preços do barril e do câmbio, como o valor marginal e o custo alternativo do cliente.

“Acabamos nos valendo da estratégia com o uso dos ativos de refino e de logística para praticar preços mais competitivos e disputar mercados que trazem valor para a companhia”, destacou Schlosser.

“Na prática, passamos a usar muito mais os ativos de refino e logística. Outra questão foi a redução dos picos de volatilidade, com maior estabilidade dos preços para os nossos clientes”.

Segundo o diretor, a nova estratégia também ajuda a Petrobras a competir com as importações de diesel russo, que têm atendido parte do mercado brasileiro.

As compras do derivado russo, que está sendo negociado com desconto no mercado internacional devido às sanções impostas ao país, responderam por 80% das importações de diesel para o Brasil em julho.

A gasolina vendida pelas refinarias da Petrobras tira mercado de importadores, que recorreram ao Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade). A Abicom, que representa o setor, calcula que está inviável importar há quase 70 dias.

A Petrobras mantém os preços do combustível há 34 dias. “O mercado internacional e o câmbio pressionam os preços domésticos. PPI acumula aumento de R$0,15/L desde o último reajuste nos preços da Petrobras”, diz a Abicom, nesta sexta (4/8).

“Os preços médios da gasolina operam com diferenciais negativos em todos os polos analisados”, conclui a entidade.