Combustíveis e Bioenergia

O que pensa José Mauro sobre preços dos combustíveis da Petrobras

Ex-secretário do MME já defendeu alinhamento dos preços ao mercado internacional

José Mauro Coelho. novo presidente da Petrobras (Bruno Spada/Ascom MME)
José Mauro Coelho. novo presidente da Petrobras (Bruno Spada/Ascom MME)

RIO — José Mauro Ferreira Coelho foi indicado pelo governo para a presidência da Petrobras, em meio às insatisfações do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o aumento dos preços dos combustíveis da empresa durante a gestão do general Joaquim Silva e Luna. O novo presidente da petroleira, contudo, tem um passado de discursos favoráveis ao alinhamento de preços do diesel e gasolina ao mercado internacional.

Em entrevista à agência epbr, em 2021, enquanto ainda era secretário de petróleo e gás do Ministério de Minas e Energia (MME), Coelho disse que seguir a lógica do preço de paridade de importação (PPI) é fundamental para um país dependente das importações de combustíveis como o Brasil.

“O Brasil e a Petrobras vêm praticando preços de paridade internacional. Até porque somos importadores dos principais derivados e, claro, praticar preços de paridade é fundamental. É importante, de modo que outros agentes importadores que não a Petrobras e, mesmo a Petrobras, possam importar derivados e praticar, aqui no mercado, um preço que esteja de acordo com mercado internacional, de forma que possa ter uma margem de lucro, o que é natural”, disse.

Reveja a entrevista com José Mauro Coelho

Pressionado politicamente pelo aumento dos preços dos combustíveis, Bolsonaro decidiu trocar — pela segunda vez em seu governo — o comando da Petrobras. Em 2021, o presidente da República substituiu o economista Roberto Castello Branco por Silva e Luna e cobrou da companhia um “olhar social” para os preços dos derivados.

Durante a gestão do general, a companhia reduziu a frequência de reajustes e chegou a segurar aumentos por quase dois meses no início deste ano, entre janeiro e março, diante da escalada dos preços internacionais após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A estatal, porém, continuou a seguir, na essência, o comportamento do mercado global durante a gestão de Silva e Luna — cuja demissão foi sacramentada após a petroleira anunciar, no dia 10 de março, um reajuste de 18,7% no preço da gasolina e de 24,9% no diesel, nas refinarias.

O aumento ocorreu num momento em que Bolsonaro pressionava a estatal a segurar os reajustes por mais tempo, na expectativa de que a cotação do petróleo começasse a ceder.

O desgaste levou à troca no comando da companhia. Além do presidente da empresa, o governo propôs uma renovação parcial do conselho de administração da petroleira.

Antes de José Mauro, Adriano Pires

Para substituir Silva e Luna, Bolsonaro indicou, num primeiro momento, o consultor Adriano Pires. O empresário Rodolfo Landim, ex-presidente da BR Distribuidora e atual presidente do Clube de Regatas Flamengo, foi, por sua vez, indicado para assumir a chefia do conselho da estatal. Ambos, porém, desistiram esta semana das indicações.

Landim alegou preocupação em não conseguir conciliar as demandas da empresa e do clube. Já Pires justificou que não conseguiria se desligar de sua consultoria — o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) — em “tão pouco tempo”.

As indicações de Pires e Landim vinham sendo questionadas por suposto conflito de interesses na gestão da petroleira. A Lei das Estatais veda a indicação de pessoas que tenham ou possam ter qualquer forma de conflito de interesse com a empresa a ser dirigida.

A desistência de Pires e Landim se deu às vésperas da assembleia de acionistas da Petrobras que elegerá o Conselho de Administração (CA) e validará a indicação do novo presidente da companhia, no dia 13 de abril. O governo teve, então, de correr para achar novos nomes para o comando da estatal.

O atual conselheiro de administração da estatal, Petrobras, foi indicado para a presidência do CA.

Quem é José Mauro?

José Mauro Coelho e Márcio Weber serão submetidos ao crivo da Assembleia Geral Ordinária (AGO) de acionistas da Petrobras no próximo dia 13 de abril.

Em outubro, o então secretário José Mauro saiu do MME. Segundo informação da pasta, ele deixou o governo por vontade própria, com a intenção de assumir um posto na iniciativa privada.

Coelho chegou ao cargo no Ministério em março de 2020, no governo Bolsonaro. Antes esteve à frente da diretoria de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Desde maio de 2020, é presidente do Conselho de Administração da PPSA, estatal criada nos governos Lula e Dilma para comercializar a parte da União na partilha da produção de óleo e gás natural do pré-sal.

No MME, José Mauro atuou na coordenação de trabalhos tanto do Novo Mercado de Gás, quanto do Abastece Brasil, iniciativas herdadas do governo de Michel Temer para promover a entrada de novas empresas e investimentos nos mercados de gás e combustíveis.

A partir desse planejamento, o governo Temer havia traçado a estratégia que levou aos planos de venda acelerada de ativos da Petrobras — nos governos petistas, a estatal também vendia ativos, em menor escala.