Combustíveis e Bioenergia

Magda Chambriard diz que vai tratar de mandato para coprocessado em 2026

Combustível com conteúdo renovável ficou de fora do mandato estipulado para o biodiesel no Combustível do Futuro

Magda Chambriard participa da cerimônia do pacto pela diversidade, equidade e inclusão nas empresas estatais, em 4 de setembro de 2024 (Foto Joédson Alves/Agência Brasil)
Magda Chambriard durante cerimônia do pacto pela diversidade, equidade e inclusão nas estatais (Foto Joédson Alves/Agência Brasil)

BRASÍLIA — A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse em evento da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) nesta quinta-feira (23/10), que a companhia pretende retomar, no início do ano que vem, a discussão junto ao governo e Congresso sobre uma política pública para o diesel coprocessado produzido pela empresa.

O diesel coprocessado da Petrobras com 10% de conteúdo renovável será um dos combustíveis oferecidos pela companhia à organização da COP30, em Belém. O produto será destinado às operações de logística e deslocamento da conferência.

“Conseguimos hoje oferecer um diesel com 10% de conteúdo vegetal tão estável e perfeito que a única forma de detectar a diferença é com um teste de carbono 14, capaz de distinguir o carbono antigo do carbono novo. Este coprocessado não tem mandato porque o Combustível do Futuro excetuou esse diesel. Eu não acho isso razoável e não é justo. Nós vamos tratar disso no início do ano”, afirmou a presidente da estatal.

Negativa do bunker B24

Outro combustível ofertado pela emrpesa à organização da COP30, o bunker com 24% de biodiesel, foi negado por navios que darão apoio hoteleiro à conferência, segundo informou Chambriard.

Após uma série de testes com diferentes percentuais do biocombustível na mistura, a Petrobras obteve autorização para comercializar o produto com a mistura. O produto, que tem menor teor de enxofre, é consideraddo drop in, ou seja, substitui a versão fóssil sem a necessidade de adaptação de motores.

O bunker B24 tem abastecido não só a frota própria e da subsidiária logística, a Transpetro, como tem abastecido o mercado asiático.

“Singapura tem comprado muito o nosso bunker com conteúdo renovável. O mercado asiático adora o nosso produto”, disse Chambriard.

Participação da Petrobras no Combustível do Futuro

Durante o evento na CNT, o deputado Hugo Leal (PSD/RJ) criticou o afastamento da Petrobras das discussões sobre a lei do Combustível do Futuro. Ele defende que o gás natural deveria ter sido incluído no projeto, que contemplou biocombustíveis e produtos avançados, como o combustível sustentável de aviação (SAF) e o diesel verde (HVO).

O deputado cita a grande participação do gás natural veicular (GNV) na matriz de transportes do Rio de Janeiro, que responde por 1,6 milhão dos 2,5 milhões de veículos a gás circulantes no país. Segundo Leal, quando em substituição do diesel, o gás natural tem grande capacidade de descarbonização do transporte.

“Os fabricantes, como Scania e Iveco, já fabricam motores adaptados ao gás e tem um potencial imenso em biometano. Se não fosse bom, não haveria empresas fabricando motores a gás natural. Eu tenho certeza que se a Petrobras tivesse sido mais ouvida no Combustível do Futuro, nós erraríamos menos e avançaríamos mais”, disse o parlamentar.

Críticas ao aumento do mandato de biodiesel

Ex-senadora e ex-ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo Dilma, Kátia Abreu criticou a ampliação do mandato de biodiesel, que passou de 13% para 15% neste ano. A lei que atualizou a política para biocombustíveis permite que o percentual chegue a 25%, a depender da aprovação em testes de viabilidade técnica para qualquer percentual acima de 20%.

“Nosso biodiesel ganhou uma lei no Congresso Nacional, com aumentos exorbitantes e numa escalada muito rápida, mas no meio de tantas coisas boas, temos questões negativas que estão trazendo problemas ao setor de transporte, que é o entupimento dos filtros, bombas e bicos injetores de caminhões. Isso traz despesa alta, acrescenta custo aos nossos caminhões, atrasa os nossos fretes, fazendo, sem querer, com que se emita mais CO2.”, afirmou a ex-senadora.

Na presença de Magda Chambriard, Abreu defendeu que a solução defendida são as versões de diesel coprocessado da Petrobras, por ter maior fidelidade química com o diesel fóssil.

O deputado Hugo Leal reforçou o coro contra o aumento da mistura do biocombustível. “Eu tive a oportunidade de falar cinco vezes em plenário. Cheguei a dialogar com o relator Arnaldo Jardim, mas parecia que havia um bloqueio de que se não fosse a solução bonita, estava errado. Mas foi imposto: eu receito a você e você tem que usar, se der problema, é problema seu. Mas o país fica bem na foto”, criticou.

Leal citou os mandatos praticados em países europeus, entre 7% e 10% e defendeu que o Brasil proponha na COP30 uma lei de reciprocidade ambiental, segundo a qual nenhum país poderia exigir do Brasil requisitos ambientais que não cumpram em seus próprios países.

O setor do biodiesel nega que o biocombustível seja o responsável por problemas em motores. Por diversas ocasiões, o presidente da Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio), Alceu Moreira (MDB/RS) afirmou que as alegações são vazias e que não são feitas análises de causa para definir se o biocombustível tem relação com as falhas. As críticas já foram classificadas por Moreira como “negacionismo técnico e científico”.

O aumento do percentual de biodiesel vem numa escalada desde o início do governo Lula 3, passando de 10%, em 2023, para os atuais 15%.

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