E-metanol e SAF

FS estuda novo poço de armazenamento de CO2 e produção de combustíveis avançados 

Os planos fazem parte do objetivo da companhia em produzir o primeiro combustível com pegada negativa de carbono do Brasil

FS estuda novo poço de armazenamento de CO2 e produção de combustíveis avançados 

OSLO — A produtora de etanol de milho FS — controlada pela americana Summit Agricultural Group — estuda a perfuração de um novo poço para armazenamento de carbono em sua planta de Sorriso (MT), além de uma unidade para produção de metanol renovável em sua outra planta, em Primavera do Leste, também no Mato Grosso. 

Ao mesmo tempo, a companhia avança com o projeto de BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono) na usina de etanol em Lucas do Rio Verde, onde espera iniciar, em 2026, a injeção do CO2 capturado da produção de etanol.

Os planos fazem parte do objetivo da FS em “ser a primeira companhia com biocombustível com pegada negativa de carbono”, diz o vice-presidente de operações da empresa, Everson Medeiros, em entrevista à agência eixos

A estratégia vem em um momento em que o Brasil regulamenta a atividade de captura e armazenamento de carbono (CCS) e trabalha em fórum globais para a inclusão dos biocombustíveis como alternativa de descarbonização

Para o executivo, o grande desafio para viabilizar os projetos é a monetização do carbono

“A monetização pode ser encarada de uma maneira simples, em três pilares: via CBIOs, via mercado voluntário de carbono, ou grandes empresas que, de alguma maneira, pela sua estratégia, queiram ser net zero”, avalia.

Outro ponto é o reconhecimento dos atributos sustentáveis do etanol produzido no Brasil e que pode ter as emissões negativadas quando sua produção estiver acoplada ao CCS. 

“Essa é uma peça-chave nessas discussões, já que a gente sempre se depara com algumas metodologias um pouco diferentes de cálculo de emissões de carbono. Entendemos que nosso produto tem uma pegada de carbono super baixa. E conectando isso com o acoplamento do projeto com CCS ou BECCS, seria ainda mais”. 

Projeto pioneiro de CCS

A FS desenvolve um projeto pioneiro na Bacia dos Parecis, onde pretende capturar o carbono emitido da sua produção de etanol de milho e armazená-lo em um reservatório salino. 

“No ano passado a gente fez a perfuração do nosso poço exploratório (…). Os resultados foram bastante animadores e positivos”, conta Medeiros. 

Com a confirmação das características geológicas apropriadas, a empresa agora trabalha para conseguir a licença para injeção e as obras necessárias para início da atividade de armazenamento, em junho de 2026

Segundo o executivo, serão cerca de R$ 500 milhões de investimento, incluindo as tecnologias de captura de carbono e a construção de planta de compressão do CO2.  

“Nosso plano é que, se tudo for aprovado, o projeto, a construção e as licenças, o início da  injeção seja em junho de 2026”. 

Medeiros destaca que o projeto, por ser pioneiro, vem sendo discutido em parceria com órgãos ambientais estaduais, como a Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso, e com a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), que agora tem a responsabilidade de regulamentar a atividade como previsto na lei do Combustível do Futuro.

“É um projeto pioneiro. Foi um trabalho que foi bastante exaustivo, mostrando que é tecnologia pioneira no Brasil, mas já conhecida em outros países, e, que estão poderíamos regulamentá-la aqui e trabalhar sempre a quatro, às vezes a seis mãos, com todos os órgãos regulamentadores”. 

O executivo defende que a regulamentação para o armazenamento de carbono deve seguir um caminho diferente da existente para exploração e produção de petróleo e gás.

“O CO2 não é um hidrocarboneto. Devemos tratá-lo de maneira distinta e não semelhante”, afirma.

Segundo poço em Sorriso e “CO2duto”

A FS planeja agora replicar o modelo em Sorriso, distante cerca de 80 km de Lucas do Rio Verde, estudando a perfuração de um segundo poço.

Segundo Medeiros, a decisão ainda depende de estudos geológicos que comprovem a viabilidade para armazenamento do gás. Se não for possível injetar localmente, o CO2 pode ser transportado por gasoduto até o futuro reservatório de Lucas do Rio Verde.

“Na planta de Sorriso, também poderia ser feita a mesma captura do gás carbônico, do CO2 e a injeção local ou a sua transferência via tubulação para Lucas. Essas são as duas veias que estão sendo avaliadas nesse momento”, conta o vice-presidente. 

A captura de carbono também está prevista para a nova planta de etanol, ainda em construção, em Querência, em que o CO2 também poderia ser transportado até o poço de Lucas do Rio Verde. 

As três usinas estão localizadas sobre a mesma Bacia dos Parecis.

A companhia avalia, em estágio muito embrionário, oferecer no futuro o serviço de armazenagem de carbono para outras usinas da região, nos moldes do que a controladora Summit já desenvolve nos EUA com a Summit Carbon Solutions.

Por lá, a companhia planeja capturar CO2 de mais de 50 usinas de etanol e injetá-lo em Dakota do Norte por meio de gasodutos.

Metanol em Primavera do Leste

Outra aposta da empresa está em Primavera do Leste, onde a FS estuda construir uma planta para produção de e-metanol, com CO2 biogênico oriundo da fermentação do etanol combinado ao hidrogênio produzido por meio de eletrólise com energia renovável.

“A FS estuda como uma nova possibilidade, um novo projeto, um novo produto, que também pode ser colocado no mercado, também alinhado com o conceito de descarbonização”, revela Medeiros.

Segundo ele, o metanol poderia ser usado como matéria-prima na indústria de biodiesel, reduzindo a dependência do metanol de origem fóssil — e majoritariamente importado pelo Brasil. Além disso, também poderia ser usado como combustível sustentável para navegação.

SAF e mercado internacional

Além da navegação, a companhia avalia a exportação de etanol para ser usado na produção de combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês), com foco no mercado dos Estados Unidos e Japão.

“A Summit também tem um projeto, que é o projeto NextGen, a maior planta de SAF no Golfo do México. Exportar o nosso etanol para a Summit seria uma opção”, afirma Medeiros.

O Japão surge como outra futura alternativa para exportação. 

“Hoje, temos até um trader locado em Singapura, focando um pouco na abertura do mercado asiático para os produtos, tanto DDG como também etanol”.

O CEO da FS, Rafael Abud, integrou a comitiva do presidente Lula ao Japão, que abriu espaço para exportação de etanol brasileiro ao mercado japonês

Aposta em DDG e abertura para a China

A empresa enxerga oportunidades na exportação de DDG, subproduto da produção de etanol, que é usado como alimentação na pecuária. 

Medeiros explica que a companhia já exporta DDG essencial para países da região da Ásia-Pacífico e vê com otimismo a possibilidade de abertura do mercado chinês, acordada na última missão do presidente Lula ao país

“Essa abertura da China pode ser também um mercado interessante para a gente colocar também o nosso produto lá”. 

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