A substituição no comando da Petrobras, definida na tarde de sexta (19) pelo presidente Jair Bolsonaro, foi mal recebida entre antigos aliados do presidente no Congresso Nacional, enquanto a líderes do centrão minizam.
As críticas mais ácidas à alteração vieram justamente de parlamentares de postura liberal em partidos que foram aliados de primeira hora.
Na bancada do PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu em 2018, o deputado federal Junior Bozzella (PSL/SP) disse que os rompimentos de compromissos de Bolsonaro o colocam como “maior estelionatário eleitoral da história da nossa república”.
O mesmo tom foi usado pela deputada federal Joice Hasselmann (PSL/SP).
Desoneração dos combustíveis e militar da reserva à frente da Petrobras. O Bolsonaro passou por cima do combate à corrupção, se juntou ao centrão e agora descarta a economia liberal. Quebrou mais um recorde: de maior estelionatário eleitoral da história da nossa república. Mito!
— Bozzella (@bozzellajr) February 20, 2021
Na bancada do Novo, partido da base do governo na Câmara dos Deputados – lidera o apoio em votações –, a interferência de Bolsonaro na Petrobras foi vista como sinal de abandono da agenda liberal do ministro Paulo Guedes.
Alexis Fonteyne (Novo/SP) disse que Guedes está desmoralizado; o líder do partido, Marcel Van Haten (Novo/RS) classificou a troca de presidente da estatal como “aparelhamento”.
Mais uma decisão que divorciam Jair Bolsonaro e seu governo da defesa liberal feita na campanha. O aparelhamento das estatais agora é com militares – e as privatizações, ainda paradas. A Petrobras não pode servir para populismo econômico. Retrocesso! https://t.co/ftdf6fEZqy
— Marcel van Hattem (@marcelvanhattem) February 19, 2021
Já o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), tentou tranquilizar o mercado frisando que a aprovação da independência do Banco Central é uma indicação econômica mais importante e que não deve ser ofuscada pelo que chamou de “polêmicas administrativas sobre provimento de cargos”.
É preciso olhar o momento acima do nervosismo e das aflições: “Nunca na história deste país”, um Poder Executivo abriu mão de tamanho poder como a criação de um banco central independente.
— Arthur Lira (@ArthurLira_) February 20, 2021
O senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE) também classificou a postura de Bolsonaro como estelionato eleitoral. Para ele a escolha de Silva e Luna é sinal de que o presidente pretende intervir na Petrobras.
No PSDB, o líder do partido na Câmara, Rodrigo de Castro (PSDB/MG) divulgou uma nota afirmando que a troca do comando da Petrobras é uma sinalização muito ruim ao mercado e ” pode sugerir interferência política indevida na empresa”. Castro ainda comparou a postura de Bolsonaro com a gestão da companhia nos anos de governos do PT.
No próprio PT a saída de Castello Branco foi lembrada como uma derrota do ministro da Economia, Paulo Guedes, pai da indicação do ex-presidente da Petrobras. O deputado federal Nilto Tatto (PT/SP) ironizou o prestígio de Guedes no governo.
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Mesmo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), que foi crítica da administração de Castello Branco na Petrobras afirmou que a mudança do comando da empresa gera dúvidas quanto à condução da nova política de preços da Petrobras.
Em nota, a frente dos petroleiros afirmou que a troca na empresa “poderia ser a chance de a maior companhia do Brasil retomar seu papel de locomotiva do desenvolvimento econômico e social do país”, mas frisou que a troca de presidente “de nada adianta (…) se não houver mudança da política de preços desastrosa”.
Para ministro, mudança é “pontual”
Já a defesa do governo veio do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que tem ganhado prestígio no Planalto como interlocutor com o Congresso. Segundo ele, Castello Branco errou ao conceder entrevista afirmando não ter responsabilidade quanto às demandas de caminhoneiros acerca do preço dos combustíveis.
Faria ainda afirmou que a interferência de Bolsonaro no comando da Petrobras foi um “fato isolado” e frisou que o governo é “100% liberal na economia”.
O presidente da Petrobras não poderia dar uma entrevista falando qnada tinha a ver com os caminhoneiros num momento em q todo o governo trabalhava para evitar a paralisação.
Se ele é técnico, não FALE besteira, fique calado.
Qto custa pro País uma paralização dos caminhoneiros?— Fábio Faria ?????? (@fabiofaria5555) February 20, 2021
Ex-chefe no governo Dilma elogia novo presidente
Os elogios ao novo presidente da Petrobras vieram de seu ex-chefe no ministério da Defesa. Titular da pasta no governo Dilma Rousseff, Aldo Rebelo afirmou que Silva e Luna foi um competente e dedicado Secretário-Geral do ministério.
O ex-ministro filiado ao PCdoB fez o comentário sobre uma matéria que afirmava que a falta de experiência de Silva e Luna no setor de óleo e gás colocava a indicação na contramão do perfil desejável para Petrobras.
Após o impeachment de Dilma, Silva e Luna permaneceu no cargo durante o governo Michel Temer. Hoje, Temer elogiou o militar ao Estadão e afirmou que o Brasil vai se surpreender positivamente com sua gestão na Petrobras.
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