RIO – A decisão da Rússia de proibir temporariamente as exportações de diesel, para aliviar os preços internos dos combustíveis, pode levar a uma mudança no fluxo do comércio global, fazendo com que mais barris sejam transferidos do Golfo Pérsico para o Ocidente.
A expectativa é que, se as restrições não forem levantadas, o aperto do mercado asiático se agrave no quarto trimestre, de acordo com a S&P Global Commodity Insights.
O corte das exportações russas deve remover, do mercado global, cerca de 1 milhão de barris/dia de diesel (3,4% da demanda mundial) e 150 mil barris/dia de gasolina, estima a S&P.
Esse quadro deve aumentar a competição pelo diesel de outros exportadores do mercado.
A decisão de Moscou ocorre num momento de baixa dos estoques e de falta de expansão da capacidade no parque de refino global.
A proibição coincide também com os preparativos para o inverno no Hemisfério Norte. A expectativa é que a Europa, que vive seu primeiro inverno sem derivados russos, provavelmente tenha que retirar barris da Ásia ou do Golfo Árabe.
O corte na exportação de diesel anunciado pela Rússia afeta o Brasil, mas deve durar apenas algumas semanas, afirmam analistas da S&P Global. O governo russo, contudo, não deu prazo para o fim das restrições às exportações dos derivados.
Segundo os especialistas, o país não tem grande capacidade de armazenamento de combustível e terá dificuldade de impor restrições à venda por um longo prazo, com as altas margens oferecidas atualmente no mercado global.
Decisão do Kremlin afeta diretamente o Brasil
Com preços competitivos, a Rússia se tornou este ano a principal fonte das importações de diesel do país, superando a liderança histórica dos Estados Unidos.
A posição de Moscou pode significar, portanto, não só a saída forçada (temporária) de um dos maiores vendedores do já apertado mercado global quanto pressionar os preços globais dos combustíveis – encarecendo os custos de importação do derivado.
A S&P Global, por exemplo, estima que o crack spread (a margem do refino) do diesel global pode subir cerca de US$ 10 por barril, para US$ 42 o barril, na esteira da restrição de oferta russa.