Combustíveis e Bioenergia

Andrade assume Petrobras em meio à pressão para segurar preços e estudos sobre privatização

Caio Paes de Andrade é o quarto presidente da Petrobras em pouco mais de um ano

Caio Paes de Andrade assume presidência da Petrobras em meio à pressão dos preços
Caio Paes de Andrade, então secretário do Ministério da Economia, durante a COP26 (Washington Costa, ME, 2021) (1)

O conselho de administração (CA) da Petrobras efetivou Caio Paes de Andrade como novo presidente da companhia, nesta segunda-feira (27/6).

Ele foi nomeado membro interino do colegiado, na vaga aberta pela renúncia de José Mauro Coelho. Em seguida, Andrade foi eleito, pelos demais colegas do CA, o presidente da empresa. A petroleira ainda não confirmou a data da posse, mas a expectativa é que seja em breve.

Nessa cobertura sobre preços e Petrobras:

A nomeação de Caio Paes de Andrade, como conselheiro, vale até a próxima Assembleia Geral de Acionistas — que preencherá oito das onze cadeiras do conselho, mas ainda não tem data marcada. Trata-se apenas de uma formalidade, já que ele é, justamente, um dos oito nomes indicados pelo governo para a eleição do CA.

A tendência é que, com o peso da União no capital da companhia, Andrade seja eleito e possa, assim, seguir no comando da estatal. Pelo estatuto da Petrobras, o CEO da empresa deve ser, necessariamente, membro do conselho.

Qual o futuro da política de preços?

O novo presidente da Petrobras assume o cargo num momento em que a inflação dos combustíveis está no centro dos holofotes da pauta eleitoral e o presidente Jair Bolsonaro (PL) pressiona a companhia a segurar reajustes.

Andrade é o quarto presidente da estatal em pouco mais de um ano, desde abril de 2021 — desconsiderado, do cálculo, o diretor de exploração e produção, Fernando Borges, que ocupa o cargo interinamente desde a renúncia de Coelho há uma semana.

Em dois meses, Jair Bolsonaro demitiu dois presidentes da Petrobras e exonerou o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em meio às insatisfações com reajustes dos preços da estatal.

Antes da demissão de Coelho, o economista Roberto Castello Branco (2019-2021) e o general Joaquim Silva e Luna (2021-2022) também saíram, após crises envolvendo reajustes dos combustíveis.

Ao ser questionado, por escrito, por membros do Comitê de Pessoas (Cope) — instância da governança interna da Petrobras, Caio Paes de Andrade afirmou não ter “qualquer orientação específica ou geral” do governo ou demais acionistas “no sentido de alteração da política de preços praticados pela companhia”. Disse ainda “não ter mensagem a enviar neste momento”.

A “nova filosofia” da Petrobras

Na semana passada, ao comentar sobre a troca no comando da estatal, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, disse que a mudança faz parte da intenção de dar um “nova filosofia” à empresa.

“Quem acha que estamos mudando para mais do mesmo está enganado”, disse.

Sem mencionar explicitamente a intenção de privatizar a companhia, o ministro afirmou que quer que o novo presidente e o novo conselho de administração da empresa “preparem a Petrobras para o novo desafio” de “competir mais”.

Sobre a questão dos preços dos combustíveis, no entanto, ele comentou que “talvez seja o momento de a empresa repensar algumas atitudes”, mas que o governo não vai interferir na política de preços da companhia.

A influência de Guedes

Caio Paes de Andrade era secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital e foi um dos nomes cogitados após Adriano Pires desistir de assumir a presidência da petroleira, em abril. Na ocasião, o governo acabou optando por José Mauro Coelho, indicado pelo ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Um dos auxiliares diretos de Paulo Guedes, Andrade é nome próximo ao do ministro da Economia. A indicação do ex-secretário para a presidência da petroleira marca a consolidação de uma ascendência de Guedes sobre a política energética.

O ministro ampliou a sua influência sobre o setor ao indicar tanto o novo presidente da Petrobras como o nome de Adolfo Sachsida como atual ministro de Minas e Energia.

Caio Paes de Andrade é formado em Comunicação Social pela Universidade Paulista, possui pós-graduação em Administração e Gestão pela Harvard University e mestrado em Administração de Empresas pela Duke University, segundo currículo publicado pelo governo.

Ingressou no governo Bolsonaro em 2019, quando assumiu como presidente do Serpro, empresa pública de tecnologia da informação, até agosto de 2020. Desde então, responde pela Secretária Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital.

Na epbr

Num primeiro momento, o currículo de Andrade foi questionado por representantes dos minoritários do atual conselho. A representante dos trabalhadores no CA, Rosangela Buzanelli, também apresentou, publicamente, na semana passada, sua contrariedade sobre o assunto. Segundo ela, o novo presidente da Petrobras não tem experiência profissional e formação acadêmica compatíveis com as exigências da Lei das Estatais e estatuto da empresa.

Saiba mais: De acordo com a Lei das Estatais, o indicado deve atender a pelo menos um dos critérios:

  • Experiência profissional de, no mínimo, dez anos — no setor público ou privado — na área de atuação da empresa ou em “área conexa” àquela para a qual o profissional for indicado;
  • Experiência de quatro anos na direção ou chefia superior em empresa “de porte ou objeto social semelhante” ao da estatal, em cargo no setor público equivalente a DAS-4 ou em cargo de docente/pesquisador na área;
  • Experiência de quatro anos como profissional liberal em “atividade direta ou indiretamente vinculada” ao campo de atuação da empresa.

Ao fim, o Comitê de Pessoas da Petrobras e o próprio conselho de administração da empresa referendaram a indicação.