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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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Com a demanda crescente por uma logística sustentável, especialmente de grandes empresas que têm metas de descarbonização, o biometano e o gás natural começam a ganhar espaço no Brasil.
Os dois setores estão, cada vez mais, unindo forças para concorrer com a eletrificação na substituição do diesel nas frotas pesadas. Movimento começou no governo passado e segue buscando espaço nas propostas do novo.
Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que, somente de janeiro a fevereiro de 2023, as vendas de caminhões a gás e elétricos cresceram 157,1%.
Na participação geral da frota, dominada pelos modelos a diesel, o número de veículos a gás ainda é tímido. Um dos motivos é a incipiente infraestrutura de abastecimento.
Algo que o setor se mobiliza para mudar no futuro próximo.
“O mundo está cada vez mais conectado em todos os sentidos, nos processos produtivos, nas cadeias de valor. Quando falamos de transição energética, é impossível fazer isso só desenvolvendo um produto, tem que pensar na cadeia”, explica Gustavo Bonini, diretor de Relações Institucionais da Scania.
Em entrevista à agência epbr, o executivo conta que as empresas estão se reunindo em torno de parcerias para desenvolver no Brasil um mercado para caminhões a gás, alinhando tecnologia, infraestrutura de abastecimento e oferta de combustível.
A cadeia é grande — do produtor de gás natural e biometano, ao distribuidor, passando por montadoras, transportadores, empresas que contratam o transporte e até os consumidores dos produtos transportados.
“Quem compra uma carga não quer mais saber só se aquele xampu ou celular é sustentável no seu processo produtivo, mas se a logística também é sustentável”.
Agro, bio e porto
Essa ingração começa a ganhar forma no Paraná, com o Corredor Azul, projeto lançado em 2020 pela Companhia Paranaense de Gás (Compagas). As primeiras cidades foram definidas: Ponta Grossa, Maringá e Campo Mourão.
“Se conseguirmos atender esse triângulo, nós bateremos em Paranaguá. É um desenho simples, focado no transporte pesado e escoamento da produção”, explica o CEO da Compagas, Rafael Lamastra Jr.
Isso porque a estratégia é integrar a movimentação de produtos agrícolas entre polos de produção, o escoamento pelo Porto do Paranaguá, com o consumo de gás natural pela frota e o potencial de produção de biometano.
Estados do Sul tem um desafio adicional, que são os gargalos no Gasbol. Nesses projetos de expansão do consumo, o gás natural que vem de fora da região, encontra na oferta local de biogás um aliado para expandir a infraestrutura. Vem aí: ANP prepara contratação para novos gasodutos no RJ e Sul.
E mais cidades com ônibus 100% a GNV
O emprego do GNV no transporte urbano é uma estratégia para concorrer com a eletrificação e abre caminhos para o biometano, diz Lamastra.
A solução começou na capital e deve chegar a Londrina e seguir para Ponta Grossa. “Nos casos da região metropolitana, Curitiba e Ponta Grossa, onde os projetos estão mais maduros, há a possibilidade de, em um curto espaço de tempo, nós podemos fornecer o biometano”, conta.
Na comparação com diesel, o veículo movido a gás natural pode emitir até 20% menos CO2. Já a redução de óxidos de nitrogênio (NOx) é de quase 90% e a de material particulado (partículas muito finas de poluentes) chega a 85%.
É uma concorrência agora e no futuro. “Temos um concorrente na transição, que é a eletrificação. Mas o gás é um combustível de transição. O que pode deixar mais atraente essa efetiva substituição do diesel é o biometano”, resume o executivo. A distribuidora está avaliando as propostas da chamada pública específica para aquisição de biometano, aberta em 2022.
Gustavo Bonini e Rafael Lamastra Jr participam do 5º Fórum Sul Brasileiro do Biogás e Biometano, em Foz do Iguaçu (PR).
Curtas
Enquanto isso, biodiesel
Em Brasília, o setor de transporte — crítico à elevação da mistura de biodiesel — pressiona pela inserção de novas rotas no ciclo diesel. Veja em Deputado cobra proposta do governo para diesel verde.
Com custos sob controle neste início de 2023, e se preparando para rebater as acusações de baixa qualidade, o setor de biodiesel articula a antecipação do B15: Parlamentares defendem antecipar o aumento da mistura de biodiesel.
Híbrido-flex
A Toyota anunciou investimento de R$ 1,7 bilhão para a produção de compactos híbrido-flex em São Paulo. Será beneficiada pelo programa estadual ProVeículo Verde, com incentivos tributários, a partir da liberação de créditos acumulados de ICMS.
O motor híbrido-flex será montado na planta de Porto Feliz (SP), com previsão de chegada ao mercado brasileiro em 2024.
Teste nas ruas
A partir desta semana, motoristas do aplicativo 99 testarão o híbrido-flex Corolla Cross, nas ruas de São Paulo. Em parceria com a Kinto, divisão de mobilidade da Toyota, a iniciativa quer coletar dados sobre a usabilidade do modelo para o transporte por aplicativo.
CCS para GNL
Em votação unânime, o parlamento da Noruega determinou que o governo avalie a captura e armazenamento de carbono (CCS) como uma alternativa à eletrificação da maior usina de gás natural liquefeito (GNL) da Europa Ocidental, até 2029.
Equinor e parceiros buscam aprovação para substituir o uso de gás na usina por energia da rede e, assim, reduzir suas emissões. O local é um dos maiores emissores individuais de dióxido de carbono da Noruega. Reuters
- Na edição de ontem: Captura de carbono demandará centenas de novos hubs até 2050
Esforço em eficiência
A Austrália elevou suas metas climáticas e agora precisa acelerar sua transição para energia limpa, diz nova revisão da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês). Medidas recentes focam na diversificação econômica e no crescimento industrial, com políticas para o consumo de energia. Veja o relatório
A jornalista viajou a convite e com despesas custeadas pela organização do 5º Fórum Sul Brasileiro do Biogás e Biometano.