BRASÍLIA – O Brasil deve permanecer como um importador líquido de derivados de petróleo pelos próximos anos, segundo as projeções do Plano Decenal de Expansão de Energia 2034 (PDE 2034).
O documento, desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), revela que, embora a projeção aponte para o aumento da produção de derivados, a demanda crescente e a capacidade limitada de refino continuarão a exigir a complementação com importações.
Entre os derivados mais deficitários, destaca-se o óleo diesel A, amplamente consumido no transporte rodoviário. Há também um crescente consumo de gasolina, por sua vez com queda nas importações.
A dependência externa é atenuada pela oferta de etanol e biodiesel, projetados para alcançar 48,5 bilhões e 13,6 bilhões de litros, respectivamente, em 2034.
O PDE elaborado este ano já reflete novas políticas aprovadas no Combustível do Futuro, que prevê aumento da mistura dos biocombustíveis, a partir de análises técnicas e econômicas que deverão ser aprovadas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
O PDE 2034 entrou em consulta pública, quando agentes do mercado, terceiro setor e demais interessados podem sugerir mudanças nas premissas do planejamento.
De um ponto de vista climático, portanto, o PDE mostra a persistência da “importação de carbono” para o consumo interno, independente da produção de óleo, em razão de gargalos no refino e da rigidez da demanda, seja para redução ou substituição por outros combustíveis de menor emissão.
O documento traz a previsão já conhecida que, sem aumento da exploração de petróleo, o Brasil vai produzir menos petróleo. Dado o prazo entre novas descobertas e o início da produção, a queda está contratada para 2031, após o pico de 5,3 milhões de barris por dia em 2030.
Técnicos do Ibama se manifestaram recentemente pelo arquivamento do licenciamento da Petrobras na bacia da Foz do Amazonas. Ambientalistas fora do governo também advogam para que a área seja considerada inviável para exploração de petróleo.
O licenciamento continua e um eventual sucesso da companhia vai representar a abertura da fronteira, inclusive para outras empresas.
Estima-se que a exploração na Foz aumente a produção em magnitude similar aos das bacias vizinhas na Guiana e Suriname, cujas reservas ultrapassam os 11 bilhões de barris.
Um quarto do mercado de diesel depende de importações
O déficit nas importações líquidas de óleo diesel deve alcançar 48 mil m³/dia até 2034, o que representa uma dependência de 25% do mercado externo.
Esse aumento se dá, em parte, pela capacidade doméstica de refino insuficiente e pela falta de novos projetos que priorizem a produção de diesel. Mesmo com maior processamento e sem redução suficiente demanda, não observada nos cenários, o risco migra para a importação de óleo cru, caso haja realmente uma queda irreversível na produção nacional.
Isto é, os investimentos previstos no setor de refino não acompanham o ritmo de crescimento da demanda interna. Os cenários de expansão consideram a expansão das unidades existentes e dois projetos novos, no Pecém (100 mil b/d) e em Sergipe (30 mil b/d), em desenvolvimento pela Noxis Energy.
No caso da gasolina, embora as importações possam diminuir ao longo dos próximos anos, o Brasil ainda precisará importar volumes significativos até o final da década. A dependência é de 2,6 milhões de litros em 2034, cerca de 3% do mercado.
A gasolina deve perder importância na demanda total, visto que o mercado brasileiro de automóveis avança em ritmo acelerado na eletrificação e mudanças nos percentuais de etanol anidro na gasolina C.
O programa Combustível do Futuro autorizou a parcela de etanol no combustível vendido nos postos para até 35%. Assim, a participação da gasolina C cai de 34% para 26% em dez anos.
Outro produto que deve continuar em déficit é o querosene de aviação (QAV), cujo consumo tende a crescer devido ao aumento do tráfego aéreo. Segundo o PDE 2034, a importação líquida de QAV alcançará 4,6 mil metros cúbicos diários em 2034, representando 19% da demanda total do ano.
Gás natural indica virada no GLP
O gás liquefeito de petróleo (GLP) deverá ver um aumento significativo na produção doméstica, especialmente com a entrada em operação do Polo Gaslub. Entre 2024 e 2034, a produção de GLP deverá crescer em ritmo mais acelerado (+42%) do que a demanda (+8%), reduzindo gradualmente as importações e, mais à frente, levando ao superávit.
A expansão da infraestrutura para o processamento de gás natural, especialmente com novas Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGN), será fundamental para reduzir a dependência de GNL importado. O estudo pontua, contudo, que a dependência continuará até que essas infraestruturas estejam plenamente operacionais.